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sábado, 15 de outubro de 2022

As chances dos candidatos: O que conspira a favor de Bolsonaro e o fator decisivo para virar o jogo


Sábado, 15 de Outubro de 2022



O que definirá a tendência dos votos no segundo turno das eleições presidenciais, particularmente no que concerne aos indecisos (a grande maioria de eleitores já cristalizou, a essa altura, a sua preferência), serão, nesse entendimento: a) os sinais de melhora (ou piora) da  economia (inflação, taxa de empregabilidade, custo de vida), associados aos efeitos dos  programas sociais em execução (auxílios financeiros e assistenciais governamentais); e b) o  convencimento desse contingente de indecisos sobre as tendências de vitória de algum dos  candidatos na reta final (voto útil).

Conspira a favor de Bolsonaro – superada a crise da pandemia – o primeiro fator, de vez que o país vive, no presente momento, uma visível retomada do crescimento econômico, com aquecimento das vendas no atacado e no varejo, diminuição da taxa de desemprego, redução progressiva de impostos, abertura de novas empresas, atração de investimentos estrangeiros, melhoria da taxa de câmbio e queda sensível da inflação (deflação) – pari passu a um impacto cada vez mais sensível do programa Auxílio Brasil (de 600 reais mensais) junto às populações  mais vulneráveis.

Quanto ao segundo fator, Lula, com o auxílio dos Institutos de Pesquisa e a contribuição desambiguada da grande mídia (abertamente partidária de sua candidatura), conseguiu plantar, inicialmente, a crença de que venceria no primeiro turno; motivação que acabou atraindo, in primo loco, parte significativa dos eleitores indefinidos para o seu lado, mas cuja conduta subjetiva, essencialmente volúvel e instável, poderá ser revertida, etapa seguinte, diante do  novo cenário em reconfiguração, com o realinhamento das forças políticas em disputa e a  ultimação das derradeiras estratégias.

Não por acaso, a propósito, ciente das dificuldades a ser enfrentadas num segundo round, empenhou-se a campanha lulista em conquistar a vitória do ex-presidente já no primeiro turno,  com a intenção de não dar margens para uma possível reação bolsonarista nos minutos finais  do segundo tempo (ou da prorrogação), inclusive por conta do peso determinante do Estado,  em tal contexto.

Fato é que o panorama atual aponta para uma outra eleição, absolutamente distinta da do  primeiro turno, com outros ingredientes de fundo em permanente e frenética movimentação,  a sugerir absoluta indefinição do quadro político de momento – e de seu desenlace final.

Lula pode já ter atingido quase o teto máximo dos votos possíveis, ao passo que Bolsonaro talvez  esteja ainda surfando numa “onda” silenciosa, em plena ascensão – como sugere não apenas a  “surpresa” de sua votação diante das apostas iniciais das pesquisas, mas a própria (e mais  recente) redução da distância entre ele e seu oponente nas intenções de voto, captada por  institutos mais isentos, como o Paraná Pesquisas (Levantamento de 13/10/22).

Algum contingente dos votantes de Ciro e Tebet tende a migrar, sim, para Lula; mas pode pender, igualmente, para Bolsonaro (ou se transformar em votos brancos e nulos) – não  alterando, portanto, de per se, a princípio, a diferença percentual entre os dois candidatos.

Em contrapartida, parte dos votos originariamente endereçados a Lula pode reverter, repentinamente, para Bolsonaro, seja por aumento do índice de rejeição ao petista (reativação  do antipetismo já manifestado em 2018), seja por ação direta dos novos parlamentares  (deputados e senadores) e governadores eleitos (casos de Minas e Rio), com prefeitos a eles  associados. Da mesma forma, há que se considerar alguma influência das campanhas veiculadas nas redes de televisão e/ou o impacto dos debates diretos entre os candidatos, ali previstos, conforme a performance de cada um.

Além do mais – e este fator poderá ser determinante! –, há grandes possibilidades de um percentual nada desprezível de absenteístas de primeiro turno (mais de 30 milhões de eleitores) ser sensibilizado a comparecer às urnas nessa reta final (a exemplo do segmento dos idosos), movido por uma preocupação mais atenta quanto ao futuro do país e ao que está, efetivamente, em jogo nessa encruzilhada sufragista, espelhado nos resultados preliminares (e, para muitos, “ameaçadores”) da primeira votação.

São todos elementos que, potencialmente, têm o condão de influenciar o comportamento de faixas significativas de eleitores e, por consequência, conduzir, justo no epílogo da fábula, a resultados surpreendentes de enredo – a despeito dos termos e narrativas instilados no prefácio.

Tudo vai depender da crença e do esforço de cada bloco em conflagração (trata-se de uma verdadeira “guerra”!) e de sua capacidade de convencimento das massas, por argumentos competentes e críveis demonstrações.

Se os dados e acontecimentos indicarem uma estabilidade da preferência eleitoral em favor de Lula (para o que suspeitos Institutos de pesquisa continuarão a investir), bastaria um pequeno  acréscimo de votos para consagrar a vitória do petista neste segundo turno. Ao invés, se ficar patente o crescimento de Bolsonaro, com a redução de sua diferença relativamente ao  oponente, a atração do voto útil de última hora ser-lhe-á, impreterivelmente, beneficiária.

A eleição, portanto, por todos os múltiplos fatores em jogo, tende a ser decidida no detalhe – restando saber se haverá transparência e integridade no processo de apuração (até agora sob gravíssima e tensa suspeição), com controle e supervisão externa seguros e eficazes.

Alex Fiúza de Mello. Professor Titular (aposentado) de Ciência Política da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Ciência Política (UFMG) e Doutor em Ciências Sociais (UNICAMP), com Pós-doutorado em Paris (EHESS) e em Madrid (Cátedra UNESCO/Universidade Politécnica). Reitor da UFPA (2001-2009), membro do Conselho Nacional de Educação (2004-2008) e Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Pará (2011-2018).


Fonte: Jornal da Cidade Online

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