martins em pauta

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Instituições fracas, democracia capenga


Pela internet circulam mensagens que desqualificam políticos, pregam a inutilidade do Congresso Nacional e até a sua dissolução. É claro que essa indignação tem origem na impunidade de escândalos na área política.
Manifestar insatisfação e discordar das ações do poder expressam formas de participação e atende aos princípios da democracia. Mas é preciso ter cuidado, pois, dependendo da forma, pode-se estar contribuindo para o enfraquecimento das instituições democráticas, o que se imagina não seja o propósito consciente de muitos internautas. E enfraquecer instituições e lideranças democráticas é a estratégia primeira, como já ensinava Gramsci, dos que querem perpetuar-se no poder.
Essa vontade parece não faltar ao partido governista, que nunca escondeu simpatia por capengas “democracias”, que mesmo diante de fracassos evidentes recebem desmedidos elogios. Perdoar dívidas de corruptos ditadores virou rotina e ao preferido, além de uma admiração que beira a idolatria, concedem-se gordos financiamentos de difícil liquidação.
Olha-se para fora se esquecendo de que aqui dentro a economia patina em estradas mal conservadas e não navega e nem decola impedida por acanhados portos e aeroportos, quando a população, ainda, experimenta primárias carências já erradicadas dos países desenvolvidos no século XIX.
Dessas carências fazem parte o analfabetismo e a baixa escolaridade, com o que contribui a calamitosa qualidade da educação, instrumentos que não permitem a redução de contingentes de eleitores, despudoradamente despreparados, adubo onde fincam suas raízes, habilidosos ilusionistas fantasiados de “salvadores da pátria”.
As estatísticas de escolaridade do TSE (Superior Tribunal Eleitoral) comprovam essa calamidade, onde, 51,1% dos eleitores são de analfabetos totais e funcionais, aos quais se juntam 7,3% com o fundamental completo, o que não muda muito.
A rigor se pode dizer que quase 60% dos 155 milhões de eleitores, na melhor hipótese, enquadram-se como analfabetos funcionais. Entre os restantes estão os que estudaram as séries seguintes e o curso superior. Sobre este, pesquisas, não menos tenebrosas, mostraram que 38% dos jovens que nele se formam são, também, analfabetos funcionais.
Esse é o terreno fértil onde cresce, assustadoramente, o “bolsa família”. Não foi à toa que, segundo Hélio Bicudo, o PT enxergou isso e José Dirceu teria confessado a ele, no início do governo petista, que a estratégia de permanência no poder passava pela distribuição de 12 milhões de bolsas, que representariam 40 milhões de votos. A meta foi atingida, talvez a única em todas as áreas e em todo período de governo. Mas, não é só! Foi além. Hoje já são 15 milhões e neste ano chegarão aos 17 milhões. É sorte de pescador. Encontra um grande cardume e aproveita.
Mas, voltando às estatísticas do TSE. É esse o “povinho” que os mais esclarecidos acusam de votar mal. Igual opinião parece ter o brilhante ministro Marco Aurélio, presidente do TSE, que, em entrevista à revista Veja declarou textualmente: “A sociedade não é vitima, é a culpada. Reclama do governo e se esquece de que quem colocou os políticos lá foi ela própria”. Trata-se de opinião que, sem maiores análise, expressa uma verdade insofismável. Mas, apesar de toda admiração e respeito que tenho pelo Ministro, “peço vênia para discordar”, por entender que uma sociedade onde mais da sua metade é analfabeta, não pode ser culpada, quando, exatamente por essa razão, faltam-lhes as condições mínimas para escolher bem seus governantes. Culpados são os escolhidos. Provavelmente nem todos, pois, muitos deles sofrem da mesma cegueira.
Diante desse quadro, ao contrário do que se pensa, a conclusão não poderia ser outra: não há como melhorar a classe política sem melhorar os eleitores. São coisas intrinsecamente ligadas. É só olhar a qualidade dos nossos parlamentos para enxergar o nosso atraso político. Mas em vez da dissolução se recomenda o fortalecimento de todos. Trata-se de um horroroso cenário, que só a educação de qualidade pode transformar.

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