Sexta, 31 de outubro de 2025
Uma investigação da Polícia Civil do Rio revelou que a cúpula do Comando Vermelho usa o código “Hamas” para se identificar em aplicativos de mensagem. O termo, uma referência ao grupo terrorista da Palestina, é um sinal de que quem está do outro lado da linha é um membro da facção. A quadrilha disputa territórios no estado com o Terceiro Comando Puro (TCP), que domina uma área chamada de “Complexo de Israel” na Zona Norte do Rio.
Os investigadores tiveram acesso a um dos celulares usados por Carlos Costa Neves, o Gadernal, acusado de ser um dos chefes do tráfico do Comando Vermelho, e um dos alvos da megaoperação que deixou 121 mortos nos complexos da Penha e Alemão. Segundo a Polícia Civil, ele é tem uma função de “general” na quadrilha, definindo as estratégias nas guerras expansionistas contra facções rivais e as táticas de enfrentamento contra os policiais.
Nas mensagens obtidas pelo GLOBO, Gadernal acabara de comprar um novo celular. Logo após configurar o aparelho, ele instala o aplicativo de mensagens e se autodenomina “Deus”. Em seguida, busca um contato salvo como “Urso”, vulgo de Edgard Alves de Andrade, o Doca, um dos principais chefes do Comando Vermelho, e uma mensagem ao traficante: “salva aí o número novo”.
Doca parece não reconhecer quem enviou a mensagem e manda um ponto de interrogação. Gadernal então responde “É o Hamas”, em referência ao grupo palestino. Ele envia a mesma mensagem se apresentando a alguns outros contatos. A um deles, ainda diz:
“Hamas aqui. Terror de Israel”.
A mensagem é para um contato não identificado pela Polícia, que responde:
“Terror do Rio é nós. Ferro lá em Israel”.
Gadernal diz ao contato que queria falar naquele dia com o Urso, vulgo de Doca: “estamos na guerra aqui na Faixa de Gaza”.
A região entre a Penha e Brás de Pina recebe esse apelido pelas facções. Enquanto o Complexo do Alemão e da Penha é controlado pelo Comando Vermelho, parte dos bairros vizinhos são dominados pelo Terceiro Comando Puro (TCP). Já favelas de Brás de Pina e região são conhecidas como Complexo de Israel, e controladas por Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão. Foi nessa região de intensos confrontos que a Polícia Civil identificou pela primeira vez o uso de drones equipados para soltar explosivos.
‘O pai me bloqueou’
Em outra conversa, um traficante não identificado pela polícia procura Gadernal. O homem reclama que “o pai” o bloqueou no aplicativo e pergunta o que pode ter feito. Gadernadl então envia o contato de “Urso” e orienta: “Fala que é Hamas”.
A megaoperação
A denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), à qual O GLOBO teve acesso, descreve episódios de tortura praticados pelos integrantes do Comando Vermelho (CV), com intenção de punir comparsas e até moradores. O grupo criminoso, alvo da megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, é comandado por Edgar Alves Andrade, o Doca, que segue foragido. Mas a figura responsável por orientar as punições e participar dos chamados “tribunais do tráfico”, com autonomia para determinar até a execução de rivais de menor expressão, conforme consta no relatório, é um dos chefes do grupo paramilitar: Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW.
Apontado como gerente do tráfico na Gardênia Azul, BMW “goza de prestígio e atua em alta posição hierárquica dentro do Comando Vermelho” e é chefe do grupo de matadores nomeado de Equipe Sombra, segundo o MPRJ.
O Globo
 

 
 
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