martins em pauta

sábado, 1 de fevereiro de 2014

A indústria e a seca



Amaro Sales de Araújo
industrial, Presidente da FIERN e COMPEM/CNI

No Rio Grande do Norte, em alguns recantos, as chuvas não caíram ou são irregulares desde o segundo semestre de 2011, ou seja, aproximadamente há 30 meses sofremos com os efeitos da estiagem.

Efeitos, aliás, que são sentidos não apenas pela agropecuária. Os segmentos do comércio e indústria também são afetados. A água é um insumo indispensável ao processo industrial. Sem água suficiente, inúmeras atividades no comércio e na indústria serão suspensas. Na indústria, em particular, a ausência de água afeta, dentre outros, frontalmente os investimentos da construção civil, mineração e alimentos. A seca, portanto, não é um assunto apenas do setor primário. A água, aliás, é um tema vital para todos nós!

As perspectivas de um inverno regular em 2014, com a Graça de Deus, ainda persistem, todavia, mesmo com chuvas, o Rio Grande do Norte e o Nordeste reclamam por medidas que amenizem situações de calamidade em função da seca.

O Rio Grande do Norte tem seu território quase todo no semiárido, algo em torno de 97%, ou seja, expressiva área que exige projetos específicos de convivência com estiagens prolongadas. E já existe tecnologia aplicada em vários lugares do mundo que bem poderia ser aproveitada por aqui, dentre as quais, perfuratrizes para poços de maior profundidade, dessalinizadores de melhor performance, adutoras, reaproveitamento d´água e manejo apropriado para a pecuária e agricultura.

Precisamos insistir para que mais recursos sejam aplicados em pesquisa e inovação e, neste contexto, projetos de convivência com a seca. Os Governos podem recorrer a experiências vitoriosas em outros Países, no próprio Nordeste e no Rio Grande do Norte. Em São José do Seridó, por exemplo, o rejeito do dessalinizador serve para o cultivo de peixes e a irrigação da erva-sal atriplex, espécie forrageira que ajuda a enriquecer a composição da ração animal. Como também são importantes as experiências encontradas em diversos locais que se relacionam a construção de cisternas, barragens submersas, pequenos sistemas de abastecimento, enfim, projetos de barramento e uso consciente d´água que deveriam ser reproduzidas em todos os recantos do Nordeste brasileiro.

O Sistema FIERN participa do esforço para buscar alternativas tecnológicas para a questão. O CTGAS-ER, centro vinculado ao SENAI RN, desenvolve, dentre outros projetos, um sobre a utilização da energia solar em dessalizadores e, apoiado em tecnologia alemã, avalia o seu melhor uso, além dos laboratórios e pesquisas que se referem a energias renováveis, identificação de aquíferos e utilização de fontes alternativas de energia no processo produtivo no âmbito do semiárido. O CTGAS-ER, tendo expertise em geoprocessamento, sensoriamento remoto e modelagem atmosférica, pode realizar atividades de mapeamento de áreas susceptíveis a desertificação, bem com o monitoramento de cobertura vegetal e hidrometeorológico, informações estratégicas que podem subsidiar um melhor direcionamento das ações públicas de convivência com a seca.

Ocorre que, decorridas tantas secas e crises consequentes, não temos uma política consolidada e permanente de convivência com estiagens. As ações sempre ocorrem em curto prazo e, em regra, quando estamos imersos na crise. Precisamos de um planejamento que nos dê a segurança hídrica para as próximas décadas, inclusive, contemplando possibilidades de investimentos na indústria.


Fonte:Tribuna do norte

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