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quarta-feira, 16 de junho de 2021

Na CPI da Covid, Witzel fala em perseguição após prisão no caso Marielle, faz comparação com Lula e decide encerrar participação fazendo valer habeas corpus

Quarta, 16 de Junho de 2021

Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo

O ex-governador do Rio Wilson Witzel usou o depoimento da CPI da Covid, nesta quarta-feira, como palco para se defender das acusações que o levaram a sofrer impeachment e atacar o presidente Jair Bolsonaro, a quem responsabilizou pelas mortes na pandemia. O ex-governador alegou ser vítima de “perseguição política” — o que, segundo ele, teria começado após a prisão dos assassinos da vereadora Marielle Franco. Witzel afirmou também que teve “praticamente zero” cooperação do Ministério da Saúde para o combate à pandemia da Covid-19 e que o” presidente deixou os governadores à mercê da desgraça que viria”. Ele deixou a sessão antes de concluir o depoimento, por volta das 14h, fazendo uso do habeas corpus concedido a ele pelo Supremo Tribunal Federal.

— O nível cooperação do Ministério da Saúde foi praticamente zero — disse Witzel, que depois alegou que foi cassado por ter investigado morte de Marielle:

— Tudo começou porque mandei investigar sem parcialidade o caso Marielle. Quando foram presos os dois executores, a perseguição contra mim foi inexorável.

Witzel perdeu o cargo após um processo de impeachment por crime de responsabilidade em esquema de corrupção na área da Saúde. Ele foi alvo de investigações da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República que detectaram um esquema de desvios de verba da Saúde durante sua gestão na pandemia. Com base nas provas, a PGR apresentou três denúncias de corrupção ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra o ex-governador. A investigação apontou, por exemplo, que o escritório de advocacia da mulher dele, Helena Witzel, recebeu pagamentos de fornecedoras do setor de saúde. De acordo com as denúncias, os repasses eram prova de pagamentos de propina destinada a Witzel.

Investigação do caso Marielle

Em seu depoimento à CPI, Witzel disse que, após ser acusado por Bolsonaro de interferir na investigação da morte da vereadora Marielle para atingi-lo, não foi mais recebido pelo governo federal.

— A partir caso Marielle que o governo federal começou a retaliar. Nós tínhamos dificuldade de falar com os ministros e ser atendidos. Encontrei o ministro [Paulo] Guedes [da Economia]. Ele virou a cara e saiu correndo: “não posso falar com você” — afirmou o ex-governador.

Witzel contou também que, em um encontro com o ex-ministro Sergio Moro, ele não quis tirar foto e disse que não poderia dar publicidade ao encontro.

— Moro me disse: ‘Witzel, o chefe falou para você parar de falar que você quer ser presidente. E, se você não parar de falar que ser presidente, infelizmente, ele não vai te atender em nada’ — disse o ex-governador, que respondeu:

— Moro, eu acho que você está no caminho errado. Se quer ser ministro do Supremo, não tem que fazer isso.

O ex-governador reclamou também de perseguição do Ministério Público e citou especificamente a subprocuradora Lindôra Araújo — braço-direito do procurador-geral, Augusto Aras, e responsável por ações contra governadores durante a pandemia — por entender que ela tem interesse em ajudar a construir a narrativa do governo federal.

Após Witzel reforçar que houve perseguição, o senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ) interrompeu o ex-governador e sugeriu que a acusação era grave, o que gerou bate-boca.

— O que o depoente está dizendo aqui agora é que há um conluio de ministros do STJ para persegui-lo. Isso é muito grave – disse Flávio Bolsonaro, sugerindo uma comunicação do colegiado com o tribunal para apurar os fatos.

Pouco depois, Witzel disse que não são os ministros do STJ que precisam ser investigados e sugeriu uma reunião “reservada” apenas com integrantes da CPI. Flávio não é integrante da comissão, mas participa da sessão desta quarta-feira.

— Nesta reunião eu faço questão de apresentar elementos para iniciar uma investigação de pessoas que estão desvirtuando (…) e nós vamos descobrir quem está patrocinando investigação contra governador, que o resultado é um só: 490 mil mortes no país — disse.

O senador Randolfe Rodrigues pediu depoimento reservado de Witzel. O ex-governador disse que “os fatos são graves” e pediu que a reunião seja feita em uma outra data.

Comparação com Lula

O ex-governador criticou ainda as delações que, na sua avaliação, não são verdadeiras, e comparou sua situação à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ex-secretário de Saúde do Rio de Janeiro Edmar Santos fechou um acordo de colaboração em que acusou o governador de desvios no setor.

— Quem paga o tempo em que o governador Witzel foi cassado, o tempo que o presidente Lula perdeu preso quando não poderia estar preso naquela circunstância? — disse Witzel.

Alvo de investigações de corrupção, e com o escritório de advocacia da mulher tendo recebido dinheiro de fornecedores do estado, Witzel reclamou de perseguição:

— O governador do Rio de Janeiro foi perseguido vergonhosamente por instituições que não deveriam se politizar.

Ao ser indagado sobre problemas nas investigações das OSs, Witzel afirmou que a investigação foi direcionada para derrubá-lo do cargo. O ex-governador questionou o motivo do então governador interino na época, Cláudio Castro, estar em Brasília no dia da busca e apreensão.

— O vice-governador que me substitui estava aqui em Brasília. O que ele estava fazendo aqui eu não sei até hoje (..) Isso eu acho que merecia uma quebra de sigilo para saber o que ele estava fazendo na véspera da busca e apreensão no Palácio Laranjeiras.

Apesar de ter sofrido um processo de impeachment, ele disse esperar ainda poder voltar ao cargo e terminar o mandato em 2022 — cenário altamente improvável. Ex-juiz que se elegeu ancorado num discurso conservador, Witzel disse não ser nem de direita nem de esquerda, mas um cidadão que deixou a magistratura para entrar na política por amor ao país. Afirmou também que ele e a família têm a vida em risco, em razão da máfia na saúde e das milícias.

O relator Renan Calheiros fez várias perguntas relacionadas ao relacionamento político entre Witzel, o presidente Jair Bolsonaro e familiares. Senadores governista reclamaram que a CPI estava sendo usada como “palanque”. Em algumas questões, Witzel chegou a pedir “escusas” para não comentar.

Críticas a Bolsonaro

Entre os problemas da gestão Witzel na saúde está a instalação de hospitais de campanha. Alguns deles foram fechados sem sequer terem sido abertos para atendimento da população. Na CPI, Witzel atribuiu os problemas a uma sabotagem de deputados estaduais, que estariam divulgando informações erradas sobre os gastos do governo com os hospitais.

Witzel responsabilizou o presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) pelas mortes na pandemia:

— Como em um país o presidente não dialoga com o governador? O presidente deixou os governadores à mercê da desgraça que viria. O único responsável pelos 450 mil mortos tem nome, endereço e tem que ser responsabilizado aqui, no Tribunal Penal Internacional pelos atos que praticou.

Segundo ele, o governo federal construiu uma narrativa para responsabilizar e perseguir os governadores.

Ao ser novamente indagado sobre os investimentos do governo federal no Rio, Witzel voltou a reclamar da não liberação de leitos dos hospitais federais no estado e negou que tenha sido responsável por desvio de recursos dos hospitais de campanha. O senador Humberto Costa (PT-RJ) afirmou que houve “omissão” do governo federal.

— Quem é responsável por esse processo trágico que se viveu e se viveu no Rio de Janeiro é o governo federal, é o presidente da República, são aqueles que durante todo esse processo sabotaram as medidas de afastamento, de isolamento social, que apregoaram contra as vacinas apregoaram contra os testes — disse Humberto Costa.

No início do depoimento, apesar de estar protegido por um habbeas cospus, Witzel diise que ia colaborar com a CPI. O ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), havia autorizado o não comparecimento de Witzel ao colegiado e deu a ele a permissão de ficar calado durante a oitiva.

— Não tenho medo da verdade, estou á disposição — disse Witzel, explicando que pode ser orientado por seus advogados em algumas questões, mas que não teria problema em responder os questionamentos dos senadores.

O discurso do ex-governador, com vários ataques a Bolsonaro, foi interrompido pelo senador governista Jorginho Mello (PL-SC), que o criticou pela posição ofensiva contra o presidente.

— Ele veio aqui para fazer comício? — questionou Mello.

O Globo

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