martins em pauta

domingo, 29 de maio de 2011

ANALFABETEMO-NOS

Por François Silvestre
Até que enfim a ignorância ganhou aliados públicos e não
envergonha mais. Aliás, a ignorância é a mais universal das
categorias do conhecimento.

E não me venham com a desculpa de que a sabedoria
popular produz a língua certa. A fala do povo não tem
nada com isso. Ela é a mãe das línguas, em todas as
terras. Mas o estudo e a preparação culta preservam a
língua de falar e escrever no momento de expor a
compreensão científica, filosófica e de
humanidades. Não se faz ciência ou aprendizado
com expressões do boteco ou da esquina.

A língua portuguesa nasceu da borra do latim, de
um rebotalho perdido da língua culta desaparecida.
Uma algaravia, que do Lácio confundia-se com o falar
galego da Galícia. Redundância? Não. Poesia.

Em fins do Século Quinze, Gil Vicente, no teatro, dá
ao português fisionomia morfológica. No Século
seguinte, Camões presenteia a língua do seu
falar com a estrutura sintática que praticamente faz
nascer o idioma. O que, “mutatis mutandis”, Chaucer
fez com o inglês. Essa é a nossa língua. “Quero roçar
minha língua na língua de Luiz Vaz de Camões”.

Pois bem. Vivemos o tempo da estupidez
culta. No Direito e no Idioma. Toda burrice será
coroada em nome da pressa e da ética de
miçanga. Com desculpas aos quadrúpedes.

A presunção de inocência que aprendemos nas
lições clássicas do Direito Penal, não existe
mais. Todo mundo agora é culpado ou
suspeito. Só os éticos de miçanga são puros, santos
e castos. Numa redoma ou bolha de pulhas
éticos. Sem eficácia alguma. Corrupção
e criminalidade continuam na cara deles, desafiando
a pose jovem da estultice e fanfarra.

Nas Ações que tenho recebido pelo chamado
dessa tchurma, a ignorância não é apenas
jurídica. Essa gente não estudou português nem
o básico do colégio. Estou fazendo uma relação dos
absurdos cometidos. Matam Camões e esfolam Gil Vicente.

Vamos todos “nos analfabetar”. E vamos
todos “nos desinocentar”. Para que nos atualizemos.

É a fisionomia de um tempo. Onde a mobilidade
social não se dá pelo trabalho, mas pela esmola. E
a preguiça mental dos dirigentes da Educação,
após concluírem que se a Educação não tem jeito,
o jeito é investir na deseducação.

Se a saúde não tem jeito, invista-se na doença. Se a
segurança não tem jeito, invista-se na delinquência.

E se a Democracia nossa não é lá grande bosta,
invista-se na merda exposta para não morar
dentro da fossa.

A cara suja do nosso tempo. Tudo se resolve com
espaço na mídia. Esse deus invisível e
] presente, que substitui as crenças de salvação
pela venda de lotes no céu.

Salas refrigeradas e linha direta com as redações.
Claridade da investigação? “Meu inquérito por um holofote”.
O povo e o resultado são detalhes de pouca
monta. Você sabe o que é Parcela Autônoma? Té mais.

Fonte blog do bode

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