martins em pauta

domingo, 2 de agosto de 2015

Prosa do Domingo

Domingo, 02 de julho de 2015

 por François Silvestre 



Ainda sobre golpes.


Após a publicação do texto de Domingo passado, recebi várias perguntas sobre os golpes não mencionados naquele texto. Essas questões só reforçam as teses ali defendidas, sobre a nossa vocação golpista.

Pouco tempo após a posse, Juscelino enfrentou a primeira tentativa. Aeronáuticos e insatisfeitos do Exército, de tradição antigetulista, organizaram uma revolta, com base em Jacareacanga, no Pará. Pretendiam bombardear palácios do governo e órgãos estratégicos da segurança oficial.

Controlada a revolta, os envolvidos fugiram do país. JK, num gesto de serenidade, enviou ao Congresso um projeto de anistia irrestrita, excluindo qualquer punição aos revoltosos.

Mas não recebeu de volta o mesmo gesto. Esse mesmo grupo, cerca de dois anos depois, organizou outra tentativa de golpe. Agora, com base em Aragarsas, no Goiás. Com o mesmo objetivo e mesma estratégia. Novo fracasso.

Nesse segundo levante, Carlos Lacerda, ao perceber a fragilidade estratégica, traiu os companheiros, informando as manobras e localizações. Quem conta isso? O próprio Lacerda, nas suas memórias.

Juscelino fora militar, médico da Polícia, tinha noção do ideário da caserna. “Não tema o que o inimigo quer contra você. Tema o que ele pode contra você”, costumava repetir o General Odílio Denys.

Certa vez, o Ministro da Guerra, Teixeira Lott, informou que iria prender um Major subordinado do Gen. Juarez Távora, que perdera as eleições para JK. Juscelino então desautorizou. “Não, Ministro. Se o senhor prender o Major, Juarez me derruba. Prenda Juarez, que o Major se recolherá e o general nada poderá fazer”. E assim foi feito e nada aconteceu.

JK só errou e feio no episódio de 64. Acreditou em Castelo Branco, que lhe prometera eleições, e apoiou o golpe consumado. Votou em Castelo, no Congresso. Tancredo Neves vaticinou: “Você vai pagar caro por esse voto”. E pagou.

Ao assumir a Presidência, Prudente de Morais adoeceu e foi substituído pelo Vice Manoel Vitorino. Ao sentir-se melhor, Prudente informou a Vitorino a decisão de reassumir o cargo. Vitorino ignorou e manteve-se no posto.

Após quatro meses, sem que Manoel Vitorino desse sinais de atender a determinação do titular, Prudente de Morais informou-se sobre a hora de início do expediente de Vitorino. Ao saber, deslocou-se ao Palácio e ocupou a sua Cadeira.

Quando Vitorino chegou, encontrou Prudente devidamente sentado, que disse secamente: “Reassumi meu posto, sem formalidade de transmissão. Reassuma a Vice-presidência”. Talvez tenha sido, na história dos golpes, a única tentativa que foi frustrada por um traseiro na cadeira.

Trata da desmistificação da nossa historiografia o livro que estou escrevendo. Do golpe de 1889 até a eleição negociada de Tancredo Neves com a Ditadura moribunda. Té mais.



Na Coluna Plural, do Novo Jornal.

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