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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Em Mossoró, só dá político na árvore dos Rosado


Um dos municípios mais prósperos do interior do Nordeste, Mossoró (RN) é o maior produtor de petróleo em terra e de sal marinho do país. Mas o solo da cidade, localizada a 285 km a oeste de Natal, produz mais que “ouro negro” e riqueza mineral. Brotou-se ali, no semiárido potiguar, uma das árvores genealógicas mais férteis de que se tem notícia na história recente da política brasileira: a família Rosado.

Atualmente, oito integrantes do clã exercem mandato eletivo, a começar pela governadora Rosalba Ciarlini Rosado (DEM), que renunciou ao Senado para assumir o governo no início do ano, passando pelos primos deputados federais Betinho Rosado (DEM-RN) e Sandra Rosado (PSB-RN), por dois deputados estaduais e dois vereadores e terminando na prefeita da cidade, Fátima Rosado (DEM), a Fafá. Do início do século passado pra cá, essa árvore já frutificou dois governadores, dois senadores, cinco deputados federais e sete prefeitos, além de diversos vereadores.



Mossoró, terra do sol, do sal e do petróleo, teve apenas quatro prefeitos nas últimas três décadas. Todos Rosado

Desde 1948, os Rosado perderam as eleições municipais uma única vez, em 1968. Ainda assim, por uma diferença mínima de 98 votos, e para um candidato que havia exercido o cargo anteriormente com o apoio deles. Até o final dos anos 70, só havia duas formas de ser prefeito de Mossoró: ser da família Rosado ou ter o apoio dela. Mas, nas últimas três décadas, só há uma maneira. Tem de ser necessariamente da família.

De 1982 pra cá, a cidade de 250 mil habitantes teve apenas quatro prefeitos, todos Rosado. Dix-huit Rosado exerceu dois mandatos, Rosalba Ciarlini, três, e Fátima Rosado está em seu segundo governo. Sandra Rosado chegou a exercer o mandato por 70 dias com a morte do tio, Dix-huit, de quem era vice, em outubro de 1996. Mas quem disse que não há oposição aos Rosado em Mossoró? Existe, sim, e é exercida por… adivinhe quem? Pelos próprios Rosado.

Rivalidade familiar

Dois grupos disputam o poder dentro da própria família: a ala liderada hoje pela governadora Rosalba e seu marido, o ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado, e pelo irmão dele, o deputado Betinho Rosado; e o grupo encabeçado pela deputada Sandra Rosado e seu marido, o ex-deputado Laíre Rosado. Ele é primo de Sandra e de Carlos Augusto e Betinho. Pelo lado materno, Sandra é também prima de Rosalba.

Uma rivalidade que começou a se ensaiar nas eleições de 1982, ganhou força no pleito de 1986 e se escancarou de vez na disputa de 1988, quando, pela primeira vez, os Rosado se enfrentaram diretamente nas urnas. Naquele ano, a então pedetista Rosalba venceu o confronto com Laíre Rosado e conquistou o primeiro de seus três mandatos como prefeita de Mossoró.

Desde então, o grupo da atual governadora só perdeu uma das seis últimas eleições municipais para a outra facção da família. Foi em 1992, quando Dix-huit Rosado, que tinha a sobrinha Sandra como vice, se elegeu pela terceira vez. Com a morte do tio ainda no cargo, coube à vice-prefeita concluir os últimos dias de seu mandato.

Sucessão

O grupo não conseguiu mais retomar a hegemonia política. A principal aposta do grupo de Sandra e Laíre Rosado para reconquistar a prefeitura de Mossoró é caseira. Aos 36 anos, Larissa Rosado, filha do casal, lidera as pesquisas de intenção de voto para 2012. Deputada estadual em terceiro mandato, ela perdeu duas vezes a eleição municipal para a atual prefeita Fafá, que deu seus primeiros passos na política pelas mãos de Sandra. A relação entre as primas azedou. Mais que adversárias, a deputada e a prefeita são hoje inimigas declaradas. Uma não dirige a palavra à outra, no melhor estilo grande família.


Os primeiros sinais de desavença política na família ocorreram em 1982, quando o então deputado estadual Carlos Augusto Rosado contrariou as orientações do tio Vingt Rosado e declarou voto no primo e hoje senador José Agripino Maia ao governo do estado. Pai de Sandra, o ex-deputado Vingt Rosado apoiou o grande adversário dos Maia, o ex-governador Aluizio Alves (PMDB). Agripino saiu vitorioso das urnas.
O troco viria quatro anos mais tarde, quando o confronto ficou mais explícito. O grupo de Carlos Augusto apoiou João Faustino e perdeu a eleição para o candidato de Vingt Rosado, o governador Geraldo Melo. Desde então, os galhos da árvore genealógica iniciada pelo patriarca Jerônimo Rosado nunca mais penderam para um lado só.

O patriarca

Nascido em Pombal, na Paraíba, em 1861, o farmacêutico Jerônimo Rosado desembarcou em Mossoró em 1890 e lá fincou as raízes da família na política. Entre 1917 e 1922, foi eleito duas vezes intendente – espécie de prefeito à época – de Mossoró.

O patriarca teve 21 filhos de dois casamentos – três do primeiro e 18 do segundo – com as irmãs Maria Amélia e Isaura Maia. Jerônimo e Isaura recorreram a uma maneira excêntrica para nomear os filhos: incluíram algarismos em francês em seus nomes, conforme a ordem de nascimento. Foi assim a partir da 11ª filha – Laurentina Onzième (décima-primeira, em francês) Rosado até o caçula Jerônimo Vingt-un (21, em francês) Rosado Maia, passando por Jerônimo Dix-sept Rosado, que passaria à condição de mito local ao morrer num desastre aéreo menos de cinco meses após assumir o governo do Rio Grande do Norte, em 1951.

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