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domingo, 29 de novembro de 2020

‘Não sou um criminoso, sou uma boa pessoa’, diz hacker preso pela PF por atacar sistemas do TSE

Domingo, 29 de Novembro de 2020

O hacker identificado como Zambrius, que atacou os dados da Justiça Eleitoral do Brasil e foi preso neste sábado, 28, pela Polícia Federal em Portugal, é um rapaz de 19 anos, que se diz “viciado” em programação de computador e portador da Síndrome de Asperger, que está dentro do espectro do autismo. Pessoas com Asperger têm certo grau de dificuldade na interação social e contato físico e podem desenvolver muita habilidade em temas de interesse específicos.

O Estadão apurou com fontes ligadas às investigações, tanto no Brasil como em Portugal, que o preso é Zambrius.

Em conversas com o Estadão feitas por e-mail, nos dias 17 e 18 deste mês, Zambrius, líder do grupo que assumiu a autoria do ataque ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no primeiro turno das disputas municipais, disse que não tinha a intenção de ajudar a impulsionar teorias conspiratórias contra a urna eletrônica. A troca de mensagens ocorreu num momento em que ele ainda era apenas suspeito de envolvimento nas invasões do site do tribunal.

O hacker é conhecido pelas autoridades de Portugal. A primeira detenção do português foi em 2017, quando ainda tinha 17 anos. A última foi em abril deste ano, sempre por envolvimento com ataques cibernéticos. Até então, as ações haviam lhe rendido medidas cautelares. Zambrius estava sob prisão domiciliar e obrigado a usar uma tornozeleira eletrônica, que aparece nas fotos enviadas à reportagem. O hacker conta que agiu por “diversão” e por ser contra governos.

O objetivo principal era demonstrar que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) continuava vulnerável mesmo depois de ter sido anunciado que tinham reforçado a segurança. Eu também incluí um pequeno “protesto” exigindo investigações nos estabelecimentos prisionais do Brasil, Portugal, e ao redor do mundo.

O ataque fez com que inúmeros apoiadores do presidente Jair Bolsonaro inundassem as redes sociais com acusações de fraude no sistema eleitoral do Brasil. O ataque não atingiu em nada a contagem de votos. Dar combustível para essa narrativa falsa era um objetivo?

A nossa intenção não era propulsionar essa “desinformação” de fraudes.

Você já esteve preso e é monitorado por autoridades portuguesas. O ataque fez com que fosse aberta uma investigação pela Polícia Federal, que possivelmente terá repercussões para você. Valeu a pena?

Sou apaixonado por “hacking” e sou considerado por muitos um ‘hacker vicioso’, um indivíduo que fica 24 horas estudando sistemas e procurando por novos conhecimentos. Tenho também a Síndrome de Asperger, que faz ser a pessoa que eu sou, um pouco diferente das outras. Mas eu não temo a diferença, eu gosto de ser diferente. Eu não sou um criminoso, sou uma boa pessoa que se preocupa com todas as outras, principalmente com o bem estar do mundo. Enfim, eu não temo ir preso.

Não, não recebemos nenhum pedido para realizar o ataque ao TSE.

Eu realizei tudo sozinho, apenas pedi ajuda a um elemento para que me enviasse uma imagem do doxbin [site usado para compartilhamento de informações privadas hackeadas] e dos arquivos para que eu pudesse ter uma noção como ficaria em uma tela de um computador.

Bem, a minha invasão ao TSE não afeta ou causa fraudes nas eleições, mas possivelmente exista algum documento que comprometa o TSE, é uma questão de explorar o banco de dados.

Eu não tenho envolvimento em atos políticos, tenho apenas em protestos antigoverno, nunca apoiei partidos, governos ou o quer que seja relacionado ao governo. #antigov

Você diz que usou uma “botnet” (controle de uma rede de dispositivos com internet) para o ataque DDoS (que gerou instabilidade no site) contra o TSE. Essas coisas precisam ser pagas, não? Usou bitcoin?

Eu nunca paguei ou fui financiado para obter ferramentas. A máquina de ataque (botnet) que o CyberTeam possui é pertencente ao Lizard Squad (grupo hacker que já prejudicou serviços de Microsoft e SOny).

Sim, mas se eu não posso sair de casa, como é que eu vou trabalhar para receber dinheiro? Roubar pela internet? Eu pratico hacking por gosto, não o levo por dinheiro, mas acesso a bancos não me faltam. Eu nunca paguei ou fui financiado para obter ferramentas, a máquina de ataque (botnet) que o CyberTeam possui é pertencente ao Lizard Squad.

Eu não tenho autorização de sair de casa.

Eu não ganho dinheiro.

Estadão Conteúdo

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