martins em pauta

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Prosa do Domingo: Lampedusa e tecnocracia.

Domingo,  07 de fevereiro de 2016 
por François Silvestre 

Na Coluna Plural, do Novo Jornal.

Lampedusa e tecnocracia.

Na Secretaria de Estado do Planejamento fui bem recebido e municiado com uma vasta explicação sobre o programa de implantação de uma prática estratégica de governabilidade. O Secretário e sua equipe têm uma visão de metas que aponta para resultados futuros.

Não cabe aqui avaliar a procedência do esperado. É coisa do futuro.

E a motivação deste texto não cuida dessa avaliação. Nasce ele de uma frase que ouvi do Secretário. “Foi o discurso prometendo um governo técnico que ganhou a eleição”.

Ouvi calado para cumprir uma regra da hospitalidade sertaneja. Quando o dono da casa pede a opinião do visitante, acata a resposta mesmo que dela discorde. Porém, quando a opinião é expressa pelo dono da casa o visitante há de retribuir com a mesma gentileza.

Silenciei, cumprindo a regra não escrita da terra e da gente de onde venho. Deste sertão profundo, cujos galhos da jitirana, ora enfronhados, refazem meus olhos de infância.

Incomodou-me o gentil silêncio. Por quê? Porque o interesse histórico, que é também interesse público, obriga-me a questionar o que me parece retórica do entusiasmo. Ainda mais tratando-se da história política daqui. Dessa terra que carrego no matulão para qualquer lugar aonde me leve o destino de retirante.

Não, meu caro, não foi esse discurso que elegeu Robinson. Foi um conjunto de fatores tão marcadamente convergentes, que o discurso fica na rabeira da fila.

Nenhuma gestão técnica conseguiu salvar qualquer nação na hora da crise ou da guerra. Estamos numa crise, quase guerra, que clama por soluções políticas.

Em matéria de administração ou gestão pública, a técnica há de ser linha auxiliar da política. A intromissão técnica emparedou o sonho de Cortez Pereira.

A vitória de Robinson nada deve à retórica. Foi a rejeição popular ao fantástico acerto de cúpula que ignorou completamente a memória coletiva. Desmentindo outra falácia técnica, de que o povo não tem memória.

O povo cuida das suas necessidades. Pouco importando a retórica, mesmo gostando de discurso bonito.

Um candidato sem máculas, simples, de comunicação fácil, contra um agrupamento de “aliados” que durante três décadas trocaram acusações e insultos. O povo reprovou o ajuntamento “heterogêneo”. Juntos e arrogantes.

A insatisfação popular votou contra aquela “amizade” de última hora. De “inimigos” longevos. A arrogância da vitória antecipada. Robinson soube aproveitar, rejeitando vantagens. Dizer que o tempo é outro é o mesmo que informar o frio do gelo.

Mudança é a mais prostituída palavra de cada governo. Na hora da disputa do voto, os técnicos são dispensáveis. E a mudança decantada é a de “que tudo mude pra que fique tudo do mesmo jeito”. Da lição de Lampedusa. Il Gattopardo. Té mais.

Um comentário:

  1. É bom aos domingo, ler as notícias do nosso sertão, que hoje temos o prazer de ficar informado do que acontece no nosso estado e no mundo, através desse meio de comunicação. Melhor ainda é ser agraciado pela a Prosa de Domingo escrita por uma pessoa que eu tenho o maior orgulho de ser seu amigo França como chamava a minha irmã Julieta. François meus parabéns por ter criado esse quadro e postar assuntos como esse como esse para alertar todos riograndenses que nada era o que esses governantes estadual prometia em palanque, para um bom leitor e admirador de pessoas intelectual assim como você nosso estado está passando mesmo por uma tragédia administrativa, ao contrário do que fora prometido em palanque e esse modelo de governar está ultrapassado. Um abraço forte do seu amigo e admirador DEDE VELHO como voê mim chamava quando morava na casada 9 em Natal.

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