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segunda-feira, 30 de março de 2015

Vítimas da ditadura mostram revolta com pedidos de intervenção militar


Segunda,30 de março de 2015


Em um supermercado da Zona Norte do Rio, Belmiro Demésio Berraro Filho, de 68 anos, ouve na fila uma mulher reclamando da corrupção no país. Em certo momento, ela se vira e diz que é a favor da intervenção militar, pedida por uma minoria durante manifestações do dia 15 de marçoem todo o país – neste sábado (28) um pequeno grupo fez outra passeata pelo Centro do Rio. A reação foi contundente. "A senhora foi presa, perdeu filhos, pais, mães nos porões? A senhora não sabe o que está falando. Ditadura é a lei do inferno. Eles respondem com morte, com fogo, terror e maldade”, lembra-se Belmiro, em entrevista. Ele é uma das 140 pessoas atendidas pelas Clínicas do Testemunho, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que forma núcleos de apoio e atenção psicológica aos afetados pela violência do estado durante a ditadura militar. Aplicado há dois anos e vinculado à Comissão da Verdade – que investiga crimes da ditadura –, o projeto instalou cinco clínicas nesta primeira etapa: duas em São Paulo e uma em Porto Alegre, Rio e Recife. Segundo o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, o número de mortos e desaparecidos durante a ditadura militar chegou a 434: 210 desaparecidos, 191 mortos e 33 corpos encontrados. Foramresponsabilizados 377 agentes das Forças Armadas.Belmiro foi um dos 3.340 militares da Aeronáutica perseguidos. Ele conta que o sonho de ser aviador servindo ao país foi interrompido em 1969, quando perguntado por outro militar a respeito de Leonel Brizola, então ex-governador do Rio Grande do Sul – depois governou também o Rio de Janeiro – e um dos maiores representantes da esquerda. Ao responder que "nenhum político da época chegava aos pés", caiu em uma armadilha quase fatal. "O capitão me chamou, e na sexta-feira à tarde já estava preso. Passei 15 dias dentro de um inferno. Fui poupado da morte. Fui colocado no chão e fui levado para ser sacrificado por ser subversivo, comunista e elemento perigoso para a pátria. Quando houve o disparo de fuzil na minha cabeça, a bala não pegou nela. Bateu na relva, do lado da minha cabeça. Fui penalizado com torturas, recebi um chute na minha testa com bota que me rendeu uma cicatriz até hoje, urinaram no meu peito, fui humilhado. Mas estou vivo", conta, emocionado. Após quatro anos se dividindo entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, veio para o Rio em 1973, onde vive até hoje. Os pedidos pela intervenção militar na passeata contra a corrupção na Petrobras e pelo impeachment de Dilma Rousseff, na Praia de Copacabana, causou revolta. "Eles não têm noção do que é viver dentro dos muros de um quartel, dentro de um inferno. Prometeram em 1964 que haveria novas eleições e elas nunca existiram", lembra.

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