Sexta, 26 de dezembro de 2025
Nos últimos dias, Moraes divulgou três notas oficiais diferentes tentando explicar os encontros que manteve com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em meio à análise de uma operação complexa envolvendo o Banco Master — uma instituição financeira que acabou sendo liquidada pelo BC sob suspeitas de irregularidades.
Em todas elas, o ministro reforça que os encontros ocorreram apenas para tratar da aplicação da Lei Magnitsky, legislação americana que impôs sanções internacionais a ele próprio e posteriormente à sua esposa, Viviane Barci de Moraes. Segundo Moraes, em nenhum momento o tema da aquisição do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB) foi abordado nessas reuniões.
Versões oficiais que não coincidem
Apesar das negativas, há diferenças sutis e significativas entre as versões oficiais do ministro e a nota institucional do Banco Central. Enquanto Moraes detalha datas e interlocutores, o comunicado do BC se limita a confirmar que houve reuniões com o ministro para falar sobre a lei internacional, sem especificar o contexto completo ou desmentir relatos de outras conversas.
Esse descompasso entre as versões oficiais tem gerado questionamentos, sobretudo porque parte da imprensa — com base em fontes, inclusive internas ao BC — afirma que Moraes teria procurado Galípolo em ao menos quatro ocasiões, incluindo contatos por telefone, para tratar de assuntos relacionados ao Banco Master.
O contrato e o conflito de interesses
O caso ganhou ainda mais tensão devido a outro elemento: o escritório de advocacia de Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro, tinha um contrato milionário com o Banco Master, estimado em cerca de R$ 129 milhões para atuação em Brasília, inclusive junto ao Banco Central.
Embora Moraes e sua assessoria tenham insistido em afirmar que o escritório jamais atuou na operação de compra do Master pelo BRB perante o BC, o contrato, o volume de recursos e o envolvimento institucional levantaram suspeitas de conflito de interesses, dificultando a credibilidade das explicações oficiais.
Repercussão política e isolamento
O episódio não fica restrito à interpretação jurídica dos fatos. Parlamentares de oposição já articulam medidas, como pedidos de investigação formal, e há quem defenda a abertura de uma CPI para apurar possíveis irregularidades no relacionamento entre o ministro, a família e o caso Banco Master.
Esse movimento sinaliza que Moraes, tradicionalmente visto como figura influente no STF, começa a enfrentar um isolamento político inédito, com setores da Câmara e do Senado cobrando esclarecimentos públicos mais contundentes e transparentes. A crise de confiança é agravada pelo fato de as versões oficiais ainda não terem dissipado as dúvidas levantadas pela imprensa, pelo mercado financeiro e por analistas jurídicos.
Impacto institucional
A polêmica envolve também debates mais amplos sobre a transparência nas relações entre magistrados e instituições regulatórias, especialmente em contextos em que interesses privados, contratos milionários e decisões públicas se cruzam. Nem o Banco Central nem o STF conseguiram, até o momento, apresentar um relato único e claro sobre o que ocorreu, o que amplia a percepção de incerteza institucional.
Com versões oficiais divergentes e uma base de apoio político cada vez mais fragmentada, Moraes enfrenta agora não apenas a necessidade de explicar os fatos, mas também de restaurar sua imagem institucional diante da opinião pública e de amplos setores do Congresso.


Nenhum comentário:
Postar um comentário