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quarta-feira, 30 de julho de 2025

Trump redefine o comércio global

Quarta, 30 de julho de 2025









Trump nunca defendeu tarifas como um fim em si mesmas. Ele as trata como instrumentos de alavancagem assim como Ronald Reagan usou os mísseis Pershing II na Guerra Fria: não para o confronto permanente, mas para forçar acordos mais vantajosos. Essa filosofia é resumida na proposta chamada de “Zero Option”: os Estados Unidos estão dispostos a eliminar todas as barreiras comerciais, desde que seus parceiros façam o mesmo. Quando isso não acontece, a resposta é objetiva e dura. Tarifas deixam de ser tabu e passam a funcionar como sinalizadores de seriedade  e de poder.

Em apenas alguns meses de governo, os EUA firmaram acordos comerciais bilaterais com mais de uma dezena de países, com resultados concretos em investimentos, geração de empregos e realocação de cadeias produtivas. A Europa, por exemplo, aceitou novos termos para evitar uma tarifa de 30% sobre veículos, em troca da compra de US$ 150 bilhões em energia americana e investimentos diretos superiores a US$ 600 bilhões. O efeito colateral, altamente calculado, foi a redução da dependência energética europeia da Rússia, enfraquecendo a capacidade de influência de Vladimir Putin sobre o continente.

No Japão, a lógica foi similar. Os americanos conquistaram acesso pleno ao mercado japonês para seus automóveis e produtos agrícolas, em especial o arroz, enquanto os japoneses anunciaram mais de meio trilhão de dólares em investimentos industriais nos EUA. O acordo também inclui cláusulas de cooperação militar no Indo-Pacífico, o que demonstra que, na Doutrina Trump, comércio e segurança caminham lado a lado. O mesmo padrão se repetiu com o Reino Unido pós-Brexit, onde o alinhamento comercial veio acompanhado de cláusulas anti-China e abertura para produtos industriais e agrícolas americanos.

No Sudeste Asiático, a abordagem americana foi direta e de alto impacto. Nas Filipinas, os EUA conquistaram tarifa zero para suas exportações, enquanto os produtos filipinos enfrentam alíquotas de 19%. A instalação de mísseis americanos no arquipélago reforça que a dimensão geopolítica está no centro da nova política comercial. Na Indonésia, os acordos focaram em minerais estratégicos e manufatura independente da China. Já o Vietnã aceitou tarifa zero para importações americanas, mas seus produtos enfrentam 20% de impostos, e mercadorias de origem chinesa camuflada são taxadas em até 40%. O objetivo é sufocar rotas de evasão tarifária usadas por empresas chinesas.

A China, como esperado, é o grande alvo. As tarifas assimétricas (10% para produtos americanos e até 55% para produtos chineses) visam limitar o acesso ao mercado dos EUA, combater o dumping e, sobretudo, controlar setores estratégicos como o de minerais raros. O resultado foi imediato: desaceleração da economia chinesa, colapso industrial em segmentos-chave, fuga de investimentos e o fim da narrativa do “Século Chinês”. A crise demográfica, o alto endividamento e a queda de produtividade já vinham corroendo o crescimento chinês. A pressão tarifária apenas acelerou um processo que muitos analistas consideravam inevitável, mas que agora ganhou um empurrão decisivo.

A política americana de “tarifa com propósito” também transformou a maneira como empresas globais decidem onde produzir. A ameaça de tarifas de até 200% sobre medicamentos levou a gigante AstraZeneca a anunciar US$ 50 bilhões em fábricas nos EUA. A mensagem é simples e direta: produza na América ou pague caro. E isso se estende à política fiscal. Com uma arrecadação projetada de US$ 300 bilhões em tarifas apenas em 2025, Trump propôs que parte desses recursos seja devolvida diretamente à população na forma de dividendos tarifários. A ideia de que o governo possa enviar cheques de US$ 400 a US$ 5.000 por família, sem aumentar impostos ou criar nova dívida, está ganhando apoio popular e reconfigura a percepção do papel das tarifas na política econômica.

Paralelamente aos acordos firmados, os EUA mantêm negociações duras com outros países estratégicos. A Índia está em fase avançada de negociação, mas resiste à abertura de seu mercado agrícola e farmacêutico, além de manter relações próximas com a Rússia, especialmente na compra de petróleo. Em resposta, os EUA ameaçam impor tarifas de até 25% sobre têxteis, aço e medicamentos, além de sanções secundárias sobre empresas indianas que continuem negociando com Moscou. Trump não esconde o objetivo: forçar a Índia a escolher entre os EUA e o eixo Rússia-China. E sabe que o primeiro-ministro Narendra Modi compreende a gravidade da escolha.

Outros países, como Tailândia e Camboja, estão sob investigação americana por funcionarem como rotas de transbordo para produtos chineses. Os EUA exigem rastreabilidade rigorosa e cumprimento de padrões internacionais. No Iraque, as negociações envolvem interesses comerciais e militares, com foco na garantia de contratos preferenciais para empresas americanas nos setores de petróleo e infraestrutura. Já o Brasil, embora ainda não esteja em negociações formais, é alvo de pressões indiretas. A substituição da carne brasileira por produtos australianos no mercado americano e os sinais de descontentamento com a política externa pró-China e pró-Rússia acendem o alerta em Brasília: a entrada no radar tarifário americano pode ser apenas uma questão de tempo.

A lógica por trás dessas negociações é sempre a mesma: tarifas funcionam como espada de Dâmocles. Não são aplicadas automaticamente, mas pairam sobre a cabeça dos parceiros como ameaça concreta. O objetivo não é punir, mas forçar mudanças estruturais e obter concessões significativas. Com isso, Trump redefiniu a relação entre os Estados Unidos e o mundo: negociar com os EUA deixou de ser um privilégio automático e passou a ser uma concessão que precisa ser conquistada.

A nova ordem comercial que emerge é multipolar, baseada em acordos bilaterais, tarifas recíprocas, investimentos estratégicos e um isolamento econômico gradual dos principais rivais geopolíticos sobretudo China Rússia e agora o Brasil. O modelo de dependência global e exportações unilaterais para os EUA perdeu força. A ideia de que tarifas causariam colapso econômico nos próprios Estados Unidos não se confirmou. O que colapsou, na prática, foi o modelo chinês de superávit constante e acesso livre ao maior mercado consumidor do mundo.

Em vez de caos, a política comercial americana de 2025 mostra um cenário de estratégia, força e resultado. Com Trump, os EUA não apenas recuperaram sua centralidade econômica,  eles obrigaram o mundo a jogar segundo suas regras. A Doutrina Trump, antes ridicularizada como protecionismo disfarçado, agora se impõe como um novo paradigma de política comercial eficaz. E os números, os acordos e os efeitos globais confirmam: o acerto foi grande, e o impacto, profundo.

Foto de Carlos Arouck

Carlos Arouck

Policial federal. É formado em Direito e Administração de Empresas.


Fonte: Jornal da Cidade Online

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