Domingo, 02 de fevereiro de 2025
Revoltada com a nota, Gleisi voltou à carga, colocando o link da ata. Está claro lá: “em se confirmando o cenário esperado”, o comitê “antevê ajuste de mesma magnitude nas duas reuniões seguintes”. O comitê, portanto, se reuniu para avaliar se “o cenário esperado” se confirmou. A palavra “antevê” traduz uma previsão, não uma certeza. Mas qualquer coisa que contradiga a visão de Gleisi sobre a ata é “desinformação”. E é aqui que a presidente do PT deixa cair a máscara, e revela o que está por trás da tentativa de regulação das redes sociais.
Para Gleisi Hoffmann, notas da comunidade são feitas por “pessoas comuns”, o que “permite a veiculação de desinformação e mensagens enviesadas”. Nunca uma frase foi tão reveladora. Tudo com o que eu não concordo é desinformação. “Pessoas comuns” não podem avaliar a veracidade de uma informação. É preciso que haja “checadores profissionais”, por suposto isentos.
O sistema de notas da comunidade permite a checagem cruzada: outras “pessoas comuns” avaliam a nota, até que ela consiga um nível de aprovação suficiente para que seja publicada. Eu mesmo já avaliei várias notas da comunidade, tanto positiva quanto negativamente.
Esta nota especificamente está corretíssima: no afã de proteger o pibe de oro de Lula, Gleisi cometeu uma impropriedade, ao dizer que a decisão já estava tomada. Não estava. E isso não é uma questão de opinião, mas de fato. Quem estava enviesada e espalhando desinformação era Gleisi, não a “pessoa comum” que escreveu a nota da comunidade. E que fique claro: não se trata aqui de um discurso político. Factualmente, a decisão do Copom não estava tomada, isso não é verdade.
A segunda nota fala justamente sobre isso, ao explicar como o sistema de notas da comunidade funciona. Gleisi sentiu o poder de uma comunidade de usuários vigilante, e deixou claro o tipo de internet que ela e seus companheiros do STF pretendem impor: uma internet em que “pessoas comuns” não possam apontar as imprecisões e mentiras dos políticos, em que haja uma instância superior, formada por iluminados, que definem o que é verdade e o que é “desinformação”.
O curioso é que o projeto de lei das fake news previa a responsabilização das redes sociais caso não retirassem conteúdo do ar mediante notificação extra judicial, que poderia ser feita por qualquer “pessoa comum”. As notas da comunidade, pelo menos, permitem deixar o conteúdo no ar, colocando a nu a mentira ou imprecisão da informação. Parece-me algo muito mais eficaz.
Marcelo Guterman. Engenheiro de Produção pela Escola Politécnica da USP e mestre em Economia e Finanças pelo Insper.
Fonte: Jornal da Cidade Online
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