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domingo, 24 de julho de 2016

Prosa do Domingo: Do rega-bofe ao chifre.

Domingo, 24 de julho de 2016

Na Coluna Plural, do Novo Jornal.

Por François Silvestre

Do rega-bofe ao chifre.

O dia 11 de Novembro marca a última manifestação festiva do Império. Sob o pretexto de homenagear a Marinha chilena, o governo imperial realiza um extravagante baile na Ilha Fiscal; onde não faltou frivolidade e luxo.

O Jornal do Comércio dá notícia da presença de mais de cinco mil pessoas. Hélio Silva informa que, pela madrugada, os convidados, no cais Pharoux, ao voltarem do baile, cruzaram com o 22º Batalhão de Infantaria que embarcava para o Amazonas, punição imposta pelo Gabinete Imperial. Ostentação de festa e poder. Onde não havia mais poder nem motivos para festa.

A família imperial retirou-se no início da madrugada, antes da ceia monumental. Depoimentos da época dão conta do aspecto cansado e ar de enfado do Imperador. A Princesa Isabel o poupava das notícias ruins. Ela mesma cuidava das reuniões com Ouro Preto e demais Ministros. Urgia uma última tentativa para salvar a Monarquia.

Na manhã do dia 12 de Novembro, Terça-Feira, o Imperador sobe a serra de Petrópolis, fugindo do calor. A quentura pior não era a do tempo, mas da conspiração.

O assédio dos republicanos ao Marechal Deodoro torna-se irresistível. Todos sabiam do afeto dedicado pelo velho militar ao Imperador. Por isso mesmo os republicanos poupavam a figura de D. Pedro, nos ataques ao governo, na presença do Marechal. Reservavam toda a carga de intrigas e ataques ao Visconde de Ouro Preto, chefe do gabinete, e ao Conde d’Eu, futuro Príncipe Consorte. Sabiam que os dois não gozavam do apreço de Deodoro.

Até à noite do dia 15, Deodoro só cogitava de derrubar o gabinete de Ouro Preto. Não lhe atraía a derrubada do amigo Imperador.

Era preciso muita habilidade dos republicanos para usar o Marechal no golpe programado. Os fatos deveriam conspirar com a adesão dele, sem que o mesmo desconfiasse das intenções dos novos “aliados”. Os mesmos que, pouco tempo depois, conspiraram para derrubá-lo da Presidência da República.

Por outro lado, a inabilidade arrogante do Visconde de Ouro Preto e uma mentira deram aos republicanos o que eles não conseguiram antes. Isto é, a adesão de Deodoro à República.

Um fato, de natureza pessoal, levou Deodoro ao golpe. Ainda dos tempos em servira no Rio Grande, o Marechal se indispôs com o Presidente da Província do Sul, Gaspar da Silveira Martins. Intriga figadal. Até uma namorada do “sargentão”, como lhe chamava o desafeto, foi-lhe tomada pelo político gaúcho.

Benjamim Constant informou a Deodoro que o sucessor de Ouro Preto já fora convidado pelo Imperador. Seria Silveira Martins. A informação não era verdadeira, mas Deodoro acreditou.

Irado, ele decidiu assinar o termo de Proclamação da República. Só o fez no dia 16, com data do dia 15. Cai o Império após o rega-bofe e nasce a República sob a ginecologia da mentira e do chifre. Té mais.

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