Dom Antônio: “A Igreja deve combater a Ideologia de Gênero, mas também acolher as pessoas na sua diferença”

Sexta, 24 de junho de 2015 | Caicó

Foto: Marcos Dantas

Pelo menos uma assinatura constante na Nota de Repúdio dos Movimentos Sociais, contra a decisão da Câmara Municipal de Caicó de retirar do Plano de Educação expressões como “diversidade sexual e de gêneros”, dividiu opiniões: a da Cáritas Diocesana. E por representar um segmento importante ligado à Igreja Católica, naturalmente causou espanto de alguns católicos mais tradicionais. Diante da polêmica, o Blog do Marcos Dantas conversou na noite desta terça-feira (24) com o bispo da Diocese de Caicó, Dom Antônio Carlos.

Apesar de reconhecer não ter conhecimento da íntegra do Plano Municipal de Educação, cuja redação não traz nenhuma afirmação explicita de apologia a Ideologia de Gênero, o bispo preferiu se pronunciar apenas sobre a Nota de Repúdio. Releu a nota por no mínimo três vezes, antes de conceder a entrevista ao Blog, e disse não ter percebido qualquer demonstração de apoio, na nota a tão combatida Ideologia de Gênero, por parte da Igreja Católica. Mas, quem pensa que nas próximas linhas verá qualquer sinal de preconceito as diferenças, pelo líder maior da Igreja Católica do Seridó, “é bom tirar o cavalinho da chuva”.

Marcos Dantas – Porque a Cáritas Diocesana assinou a tão polêmica Nota de Repúdio?

Dom Antônio: Eu não conheço o texto que estava sendo votado na Câmara, mas a CNBB tem soltado várias notas, o Papa Francisco tem se pronunciado e a Igreja Católica é contra a Ideologia de Gênero. E nós sabíamos que no Plano Municipal não só daqui, mas de vários municípios havia a tendência de passar a ideologia de gênero. O que é isso que a Igreja é contra? Ideologia de Gênero é aquela afirmação que diz que a criança quando nasce, ela não é nem masculino e nem feminino. Ser masculino ou feminino ela vai escolher livremente ao longo da sua vida. Na Holanda e na Suécia eles têm essa mentalidade. Lá, as crianças não são chamadas nem de menino ou de menina na escola, são apenas crianças. Isso a Igreja Católica é contra porque fere o direito natural. Nós achamos que nascemos homem e mulher. Se a educação toma essa linha pode gerar uma confusão muito grande. Diante disso, a Igreja Católica é contra. Não sei se era isso o que estava no nosso Plano de Educação, porque eu não conheço o texto que foi aprovado. Agora, outra coisa é de nós falarmos de gênero, e quando falamos de gênero estamos falando de masculino e feminino, e de diversidade sexual, ou seja, acolher outras identidades. É diferente. A Igreja Católica é defensora do respeito à diversidade de gênero. Que é preciso que a mulher seja respeitada na sua dignidade e que o homem seja respeitado na sua dignidade. Quando falamos de orientações diferentes, hetero, homoafetiva, bissexuais, inclusive hoje é uma feliz coincidência, porque saiu o instrumento de trabalho para o Sínodo dos Bispos, que quando se fala da Família, ao mesmo tempo em que se combate a Ideologia de Gênero, fala que ao mesmo tempo a Igreja deve acolher as pessoas na sua diferença, inclusive fala explicitamente nas pessoas com orientação homoafetiva. Eu não sei se o texto quando estava falando de gênero e de diversidade sexual estava falando neste sentido de acolhida, ou se o texto estava falando no sentido de ideologia de gênero. Se for no sentido de ideologia a Igreja é contra, mas lendo a nota de repúdio publicada pelo Movimento e apoiada pelos demais segmentos, não me parece que eles estão defendendo a ideologia de gênero. A nota esta defendendo o respeito ao gênero diferente, sobretudo ao feminino, e o respeito a diversidade sexual, as pessoas serem respeitadas, nessa cultura que temos vistos muitos atos homofóbicos, respeitarem as pessoas nas suas diversidades. Me parece que existe uma confusão dos termos.

Por entender que a Educação é um direito de todos, foi que a Cáritas acabou também assinando a Nota de Repúdio?

Dom Antônio – A Cáritas faz parte dos órgãos que apoiam o Movimento das Mulheres. Quando o Movimento das Mulheres assinou todos os órgãos que estavam vinculados à ele assinaram junto como apoio. E sendo sincero, na nota que estou lendo não entendo que eles estão defendendo a ideologia de gênero, mas também não estou dizendo que a matéria da Câmara, o que estava por trás também defendia, porque eu não conheço o texto. Eu tenho impressão que nos falta as vezes esclarecimento. Não sei se quem votou a favor ou contra tinha clareza dos termos que estavam sendo votados. Se a nota, como me parece não está defendendo a ideologia de gênero, não vejo porque censurar a Cáritas de ter assinado isso. Se estiver defendendo a ideologia de gênero, contradiz aquilo que é a postura oficial da Igreja.

Percebemos muita confusão em torno do assunto. Muitos opinando e até assumindo posturas sobre a Ideologia de Gênero, sem sequer saber o seu significado. Isso é normal?

Eu acho que isso é muito comum, e vou ser sincero pra você. Na primeira nota da CNBB que vi sobre ideologia de gênero, fui pesquisar sobre o que era, porque pra mim até então quando falava de gênero era do senso comum, sobre o respeito a dignidade dos outros.. Agora, esse termo Ideologia de Gênero é muito sutil, e acho que muita gente defendeu a ideologia de gênero pensando nesse termo que falei, e a ideologia de gênero é outra coisa totalmente diferente. A Igreja defende que todos nascem Homem ou Mulher. Agora, a sua identidade, a maneira como a pessoa vai viver a sua identidade é que ela escolhe como vai viver. Agora imagina se cabe a Escola ajudar a criança a escolher qual é a sua identidade, vai gerar uma dificuldade muito grande. Nós já passamos por uma crise de valores na sociedade. Neste sentido a ideologia de gênero a Igreja é contra, mas respeita ao feminino, a diversidade sexual. Todos se lembram da resposta do Papa Francisco quando esteve no Brasil, quando fizeram a pergunta sobre os homossexuais, ele respondeu: quem sou eu para negar a um homossexual em reta consciência que está buscando à Deus.