Quarta, 25 de junho de 2025
O diretor de Operações Integradas e Inteligência da Secretaria Nacional de Segurança, Rodney Silva, alertou que o contingenciamento de R$ 500 milhões do Fundo Nacional de Segurança Pública, vinculado ao Ministério da Justiça, pode “inviabilizar” a Segurança Pública em alguns Estados das regiões Norte e Nordeste, que dependem dos recursos federais para a manutenção da ordem.
A reportagem procurou a Secretaria de Comunicação e os ministérios do Planejamento e da Fazenda para detalhar o contingenciamento, mas ainda não obteve resposta. Em maio, o governo federal anunciou contenção de despesas de R$ 31,3 bilhões para tentar controlar as contas públicas e cumprir a meta de déficit fiscal zero prevista para este ano.
“Nós fomos surpreendidos com essa decisão”, afirmou Silva durante o seminário Crime Organizado e Mercados Ilícitos no Brasil e na América Latina, promovido pela Cátedra Oswaldo Aranha, do Instituto da Escola de Segurança Multidimensional (ESEM), da Universidade de São Paulo. De acordo com ele, essa é uma situação que o Ministério da Justiça está negociando e espera resolver em breve.
Silva foi um dos palestrantes do seminário. Ele começou sua carreira como policial militar em Minas Gerais, onde permaneceu 13 anos e depois foi promotor de Justiça em Goiás, onde, por 28 anos trabalhou no combate ao crime organizado. A revelação do contingenciamento de R$ 500 milhões feita no ambiente acadêmico ocorreu durante sua fala, quando tratava das estratégias de combate à criminalidade organizada no País.
De acordo com ele, é necessário lutar por projetos estruturantes e evitar a descontinuidade de políticas públicas na área. Um dos projetos que a pasta estaria tratando é justamente de uma legislação antimáfia, que trate do domínio de áreas por organizações criminosas, ou seja, buscar um caminho que foi tentado no passado com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), no Rio.
“Vamos apresentar projetos para que, no aspecto normativo, possamos enfrentar a macrocriminalidade que está tomando território e se infiltrando no poder público”, afirmou.
Para Rodney, falta integração no combate ao crime organizado no País. As diversas forças de segurança não se falam e não trocam informações. Haveria ainda competição entre as diversas polícias, tanto as federais, quanto as estaduais.
“A fragmentação e a falta de integração são um grande problema”, disse. “E, como se não bastasse, agora as guardas municipais são tratadas como polícias municipais.”
O diretor defendeu a criação de um centro integrado nacional de Segurança Pública, a exemplo do que existe nos Estados Unidos para integrar as diversas agências na área, executando o comando e controle. “Não adianta ter um quadro bom de Segurança em São Paulo se ele não for extensivo a outros Estados. Enquanto não fizermos isso, não vamos conseguir enfrentar o crime organizado.”
Além disso, o diretor defendeu as redes temáticas colaborativas para cada área de interesse da criminalidade organizada, como tráfico de drogas, roubo de cargas e delitos cibernéticos, bem como para a recuperação de ativos. E ainda o trabalho conjunto entre promotores de justiça dos Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaecos) e delegados das Delegacias de Repressão ao Crime Organizado (Dracos), das Polícias Civis, e das Forças-Tarefa de Combate ao Crime Organizado (FICCOs), da Polícia Federal.
“Talvez tenhamos uma grande operação envolvendo Gaecos, Dracos e Ficcos”, afirmou.
Estadão Conteúdo
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