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terça-feira, 25 de setembro de 2018

[ENTREVISTA EXCLUSIVA]: José Dirceu faz autocrítica sobre corrupção, mas diz que ninguém pode cobrar esse assunto do PT

Terça, 25 de Setembro de 2018

por Dinarte Assunção


Em Natal para lançar sua biografia, o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, afirmou em entrevista ao BlogdoBG que o PT cometeu erros, mas critica a criminalização que só o partido sofre.

“Ninguém tem autoridade para cobrar do PT sobre o corrupção porque era uma coisa do sistema”, diz ele sobre os eventos que lhe levaram à prisão, no chamado mensalão do PT. “Não houve mensalão, houve caixa 2”, diz taxativo.

Sobre o cenário eleitoral que se desenha, ele aposta na vitória de Haddad, fala sobre a relação com a imprensa e uma provável aliança com o PSDB no segundo turno em contexto de coalizão anti-bolsonaro, conforme a seguinte entrevista que concedeu por telefone:

Que ponto de sua biografia o senhor gostaria que tivesse sido diferente?

Tenho orgulho de minha narrativa, da minha vida. Estou lançando o que vivi. A minha história é a do pais. Me orgulho dela. Vivi na clandestinidade. A ditadura foi derrubada, depois nós fundamos o PT. Governamos o Brasil e vamos ganhar mais essa eleição. Estamos tendo uma história reconhecida. Erramos. Todos erram. Se fossemos julgar com o rigor mesmo que deveríamos, teríamos condenado a Igreja Católica pelos crimes de pedofilia. Tem que ponderar os erros e os acertos. Minha narrativa é a vida que vivi, das lutas do nosso povo. E minha vida não terminou ainda.

O senhor falou em erros. Na semana passada, o filósofo e ativista de esquerda americano Noam Chomsky afirmou que o PT deveria estabelecer “uma espécie de comissão da verdade” para analisar os erros cometidos pelo partido.

Erramos na luta armada. Mas era necessário. Depois fundamos o PT. Entramos no financiamento de campanha via caixa 2. O Lula apresentou a proposta de reforma política, mas o Congresso não quer fazer. E assim, sucessivamente, durante a nossa vida, cometemos erros e aprendemos. Essa questão da luta contra a corrupção sempre foi usada no Brasil. Jânio, Collor, a ditadura que deu o golpe contra a corrupção. Nada disso aconteceu. E agora o tema volta para criminalizar o PT e impedir Lula. Cada um olha pelo enfoque que quer.

O senhor e seu partido criticam muito como a imprensa explora esses episódios. Na entrevista de Fernando Haddad ao JN ficou notável, contudo, que o PT elevou o tom desse enfrentamento. O partido vai tomar medidas mais fortes nesse sentido?

Não vamos enfrentar a imprensa. Nem censurar, nem controlar. Queremo pluralismo. A Globo é monopólio. Mas agora chegou o concorrente externo que é a internet. O que se trata é disso, que a informação seja informação. Não quero saber a opinião do Bonner, Renata Vasconcelos e Marinhos. O que eles fizeram com os candidatos a presidente é uma coisa abominável. Precisamos de diversidade.

Muitos eleitores se dividem na seguinte tese: há exploração midiática sobre o PT, mas também houve corrupção. Como dá para convencer esse eleitor que o há contra o PT é apenas perseguição?

Ninguém disse que não há corrupção. O Lula não é proprietário do apartamento. Eu não tive responsabilidade sobre o mensalão, que nem houve. O que houve foi caixa 2. O eleitor no Brasil hoje tem que lutar contra a desigualdade social, contra as grandes fortunas, os lucros, que não pagam impostos. Tem que olhar o que o Lula fez. Ninguém tem autoridade para cobrar do PT sobre o corrupção porque era uma coisa do sistema. Me aponte no RN um político do PT que enriqueceu. Você não vai encontrar. Você sabe como são os parlamentares, sabe que lutam pelo melhor pelos trabalhadores e pela juventude.

Nesse fim de semana, o FHC sinalizou apoio do PSDB ao PT em eventual segundo turno em razão do que Bolsonaro representa neste momento. O que o senhor pensa a esse respeito?

Na verdade, depois o FHC pediu para o centro apoiar o Alckmin. Foi algo sútil. Foi um gesto anti-bolsonaro e não pró-Haddad. Evidentemente que isso significa apoiar quem estiver contra Bolsonaro no segundo turno, que deve ser Haddad.

O senhor já falou sobre erro. Mas existe algum ponto em sua biografia em que o senhor gostaria de mudar algo que considere um acerto?

Quando eu assumi a Casa Civil, também assumi a articulação política. Gostaria de não ter assumido. A forma como saí foi errada. Gostaria de ter implantado um gabinete de crise. Quando saí do governo pareceu que tinha resolvido, o que não aconteceu… A escalada foi contra o Lula e depois a Dilma. Aquilo era só o começo.

Serviço

Livro “Zé Dirceu Memórias – Volume 1”. O evento acontece no Bar Cultural Acabou Chorare, em Ponta Negra, localizado na Rua Dr.Manoel Augusto de Bezerra, N° 135


Fonte: Blog do BG

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Contato : (84) 9 9151-0643

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