martins em pauta

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Prosa do Domingo:Microcefalia científica.

Domingo,14 de fevereiro de 2016  

por François Silvestre 

Na Coluna Plural, do Novo Jornal.


Microcefalia científica.

Ninguém vai extinguir este mosquito. Da mesma forma que ninguém conseguirá extinguir a mosca ou a muriçoca.

Quando Oswaldo Cruz, início do Século Vinte, precisou combater o mesmo mosquito, para erradicar a febre amarela, contou com a sensibilidade política de Rodrigues Alves e Pereira Passos.

Oswaldo Cruz enfrentou oposição virulenta, de vírus do mosquito e dos políticos. Entregou o cargo. Rodrigues Alves não aceitou e mandou que ele cumprisse sua obrigação.

Numa luta impopular usou a força policial para invadir casas. Dedetização forçada, contra a febre amarela. Mas havia outro inimigo. A varíola. Precisou vacinar obrigatoriamente, usando a força militar do governo federal e da prefeitura.

Venceu impopularmente. Não mudamos muito, mas a população evoluiu. Pouco, mas evoluiu. Quem não evoluiu foi o poder político e a pesquisa científica. Involuíram. Andaram para trás.

Eduard Jenner, no Século Dezoito, descobriu a vacina, observando as tiradoras de leite, no contato com as pústulas das tetas das vacas, portadoras da varíola, que não contraíam a moléstia.

Inoculou o pus colhido dessas feridas no corpo de pessoas sadias. E essas pessoas não contraíram a varíola. Mesmo tendo contato próximo com acometidos fatais. Há notícias de “vacinação” antes disso, na China. Com o pó resultante das cascas das feridas, soprado por bambu nas narinas das crianças.

O doutor Sabin descobriu uma vacina oral contra a poliomielite. Eficaz até hoje. A comunidade científica do nosso tempo queda-se pequena ante a inventividade genial do passado.

Ou se descobre vacinas, como fez Jenner e Sabin, sem recursos materiais, porém com inventividade cerebral, ou estaremos reféns de programas “educativos” e panaceias políticas.

Num país tropical, quente, que acumula águas em beiras de estrada e nas fronteiras das matas, ninguém conseguirá extinguir mosquitos. Toda tentativa será a confissão histórica do embuste e do raquitismo criativo.

A microcefalia das crianças nascidas hoje apenas mede o tamanho do cérebro das ações científicas de pesquisa. Que imita a insalubridade política deste Século.

Newton disse que via longe porque se punha sobre os ombros de gigantes. Nem esses ombros têm servido aos pigmeus científicos da era da cibernética.

E ficará da memória apenas a burrice compartilhada. Dos cientistas e políticos, que mesmo nos ombros de gênios, veem menos do que viam seus ancestrais.

E reina o lenga-lenga da mudança, na proximidade da ciência com a ignorância. Perdidos no escuro, a ouvir o tiroteio.

Que sejam pequenos os cérebros do eleitor e dos políticos. Suportaremos. Porém, não venceremos qualquer epidemia se for microcefálica a ciência aplicada do nosso tempo. O mosquito sem cérebro será vitorioso. Até que o organismo calejado se acostume. Té mais.

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