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sábado, 2 de março de 2024

Diretor da Petrobras é suspeito de ‘fabricar’ greve para forçar contrato com prejuízo de R$ 500 milhões

Domingo, 03 de março de 2024

Foto: reprodução

A sindicância interna da Petrobras sobre um contrato que traria um rombo de R$ 500 milhões à companhia investiga se o diretor responsável pelas negociações, William França, cogitou simular uma greve nas unidades de fertilizantes da Unigel para forçar a assinatura do negócio.

De acordo com fontes familiarizadas com a apuração, o diretor teria escrito em um chat do aplicativo para reuniões virtuais Microsoft Teams que seria preciso “marretar” uma greve para sustentar que era preciso fechar o contrato porque, do contrário, as fábricas seriam fechadas e poderia haver reação sindical e movimento grevista na petroleira.

França é diretor-executivo de Processos Industriais e já foi dirigente da Federação Única dos Petroleiros (FUP), que é um dos pilares de sustentação política do CEO da companhia, Jean Paul Prates. Atualmente, é também presidente do conselho de administração da Transpetro.

O diretor é um dos alvos da sindicância aberta no início deste mês, depois que o canal de compliance recebeu denúncias de que integrantes da gestão Prates estariam pressionando os subordinados para fechar o negócio, apesar de a área técnica da empresa ter apontado o risco de prejuízo.

O contrato sob suspeita foi fechado em 29 de dezembro de 2023, no momento em que as duas fábricas de fertilizantes da Petrobras arrendadas à Unigel em 2019 estavam paralisadas por dificuldades financeiras.

Pelo acerto, a Petrobras passaria a fornecer o gás natural para a produção e depois venderia os fertilizantes, sendo remunerada pelos resultados da operação.

Só que os técnicos da petroleira e o Tribunal de Contas da União (TCU) calcularam que o negócio provocaria um prejuízo de R$ 487 milhões em oito meses, porque os preços do gás natural estão em alta e os do fertilizante, em queda.

Em seu relatório sobre o caso, o ministro do TCU Benjamin Zymler concluiu ainda que William França driblou a governança da estatal, porque não poderia ter assinado o contrato sem o aval de instâncias superiores.

Zymler, do TCU, também rejeitou a tese de que o modelo de contrato escolhido, chamado de tolling, se justificaria pelo risco de greves caso a Unigel anunciasse demissões em seu quadro de funcionários.

“É no mínimo estranha a hipótese utilizada para justificar a contratação do tolling, aventando a possibilidade de que demissões privadas, ocorridas no âmbito do Grupo Unigel, possam desencadear movimentos grevistas no âmbito da Petrobras, sem que haja qualquer tipo de ligação entre esses funcionários privados e a estatal”, argumentou o ministro da Corte contábil.

“Se prevalecesse tal raciocínio para caracterização de risco, a Petrobras seria então impactada por movimentos grevistas sempre que empresas privadas demitissem ou deixassem insatisfeitos seu corpo de funcionários”.

A equipe da coluna apurou que a apreensão se deu, entre outras coisas, pela descoberta das mensagens no Teams. A auditoria chegou a essas mensagens porque uma das denúncias feitas ao canal de compliance dizia que, nas reuniões virtuais, França teria pressionado uma gerente a dizer que o risco de greve na Unigel era iminente.

Além de recolher os aparelhos, a diretoria de governança da Petrobras também convocou para prestar depoimento funcionários que tiveram contato telefônico e por mensagens com os dois executivos.

A apuração interna está sendo acompanhada de perto pela empresa de auditoria KPMG, a quem cabe avalizar as demonstrações financeiras da Petrobras, que têm que ser fechadas até o dia 7 de março.

Os diretores William França e Sérgio Caetano Leite foram procurados pela equipe da coluna para comentar as investigações, mas não responderam até o fechamento desta reportagem. A Petrobras também não comentou os detalhes da investigação e nem as mensagens descobertas pela auditoria interna.

A companhia, porém, divulgou uma nota oficial em que afirma que “a celebração do contrato de Tolling com a Unigel respeitou o sistema de governança da empresa e todos os trâmites e procedimentos pertinentes, inclusive quanto ao limite de competência previsto nas normas internas vigentes para aprovação dos contratos de serviço.”

Malu Gaspar – O Globo

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