Terça, 02 de setembro de 2025
Mas essa não é, nem de longe, a parte mais importante da fala de Tarcísio. O que realmente importa, e deveria ter sido a manchete, é o que vem em seguida: “não posso falar que confio na Justiça”.
Eu e você, meros opinadores do quadro geral da política nacional, podemos fazer e externar a avaliação que quisermos sobre a atuação do STF. Nossa opinião é só isso, uma opinião. Mas quando um governador de Estado (e não qualquer Estado) o faz, é sinal de que algo está muito fora do lugar.
Muitos criticarão Tarcísio por duvidar da lisura dos processos conduzidos no STF. A crítica não virá somente de seus adversários políticos, alinhados circunstanciais do STF, mas também dos que, sem preferência partidária explícita, se colocam como defensores das instituições brasileiras. Afinal, do governador se esperava, ao menos, que guardasse as aparências de alguma institucionalidade.
Mas, no mesmo jornal, algumas páginas antes, temos um editorial condenando justamente o gosto que alguns ministros têm pela política. Se os políticos veem o Tribunal como uma agente político, diz o editorial, é porque os ministros “reforçam essa caricatura”. Assim, a manifestação do governador de São Paulo é somente o reflexo de um estado de coisas criado pelo próprio Supremo.
Em sua posição institucional, Tarcísio poderia ter sido mais cerimonial, guardando uma distância protocolar desse tipo de polêmica. Mesmo porque, Bolsonaro nem condenado foi ainda, então não haveria que se falar de indulto neste momento. No entanto, se o governador escolheu o caminho do confronto institucional, é porque vê o STF como um aliado de seus adversários políticos, uma situação em que o próprio Supremo se colocou.
Marcelo Guterman. Engenheiro de Produção pela Escola Politécnica da USP e mestre em Economia e Finanças pelo Insper.
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