As apurações partem da Justiça do Paraná e da Polícia Federal que estão a investigar o que teria ocorrido. Na verdade não é um fato novo. Muito já se discutiu sobre vazamentos de informações sigilosas que acabam por interferir nas operações de combate à corrupção e em outras ações, mas nunca se chegou, pelo que se sabe, à fonte da quebra do sigilo. Desconfia-se que há laços que envolvem o PMDB, o PT e o PP, mas são informações difusas, sem que haja fatos concretos que possam levar a integrante dos partidos citados e às suas fontes. É claro que fatos assim geram desconforto para o trabalho da Polícia Federal que, inclusive, ameaça greve, mas nada significativo em termos de paralisação.
No caso da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef teria tomado conhecimento da possibilidade da operação dois dias antes e teria transferido a informação à doleira Nelma Kodema que acabou presa no dia 13 de março, no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Ela tentava viajar para Milão e levava nada menos de 200 mil euros na calcinha. Já Youssef não tentou fugir, embora tenha feito planos para a fuga, porque não tinha inteira informação do que poderia vir a acontecer. A Operação Lava Jato foi desencadeada no dia 17 de março, quando Youssef e alguns outros quadrilheiros foram presos, por terem organizado uma operação de lavagem de dinheiro que poderá vir atingir a quantia de R$ 10 bilhões.
Fatos assim não são incomuns na PF. Eles acabam por prejudicar meses de investigações sigilosas, que, às vezes, não são totalmente perdidas porque, com autorização da justiça, consegue-se grampear a rede suspeita e, a partir daí, levantam-se provas consistentes, como tem acontecido. O vazamento ocorre em diversas etapas e, de igual modo, em algumas instituições que participam e têm conhecimento do trabalho que se realiza. No momento, a Polícia Federal tenta descobrir de que forma as informações da quadrilha da lavagem vazaram, ao ponto de chegar ao conhecimento dos investigados.
A Operação Lava Jato, embora com os vazamentos presumíveis, alcançou um êxito considerável, levando à prisão doleiros e escancarando a participação de políticos na rede. Mas nunca é assim. Pelo que se sabe às vezes meses de trabalho são perdidos em conseqüência dos tais vazamentos. Como blindar as instituições é uma questão difícil. Em diversas investigações, a mídia tem conhecimento do que já foi apurado e leva as informações ao público. Se de um lado é positivo, de outro é pernicioso porque o minucioso trabalho de coleta de provas acaba prejudicado, senão perdido.
Não é somente aqui que acontecem fatos assim, mas até em países com mais experiência e histórico nas apurações de delitos, como é o caso dos Estados Unidos, para dar apenas um exemplo de um País que tem uma estrutura de investigação ampla e complicada e uma longa experiência neste trabalho. Até em razão da proteção interna para evitar infiltrações que podem prejudicar a segurança do país. Portanto, é necessário que haja uma blindagem correta para os trabalhos que a Polícia Federal realiza. E neste caso, compete ao Ministério da Justiça apoiar e trabalhar em conjunto para o combate da praga da corrupção.
*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde deste domingo
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