- Publicado em 06 de Abril de 2014

Ao final do mês de março, aclamado por empresas, ONGs, sites e o Governo como sendo o “mês da mulher”, dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em que 65% dos entrevistados concorda, total ou parcialmente, que mulher com roupa que mostra o corpo merece ser atacada, chocaram o país e gerou comoção nas redes sociais. Os números, que na última sexta-feira foram retificados pelo Instituto , levantaram o debate sobre a violência contra a mulher e como ela é vista pela sociedade.
Na sexta-feira, 28, a presidente da República, Dilma Rousseff, usou sua conta no Twitter para falar sobre os resultados da pesquisa do Ipea. “Pesquisa do @ipeaonline mostrou que a sociedade brasileira ainda tem muito o que avançar no combate à violência contra a mulher", escreveu a presidente.
Ao longo da semana, fotos de mulheres segurando cartazes com a frase “Eu não mereço ser estuprada” espalharam-se nas redes sociais e muitos perfis traziam o dizer “Faço parte dos 35%”. Assessora de comunicação do Centro Feminista 8 de Março (CF8), Camila Paula afirma que vê como positivas as campanhas e mobilização na internet em torno da violência contra a mulher, mas que os debates sobre os direitos das mulheres não devem esperar por “oportunidades” para serem levantados ou serem esquecidos após euforia causada pelo impacto inicial dos dados assustadores do estudo do Ipea.
“Precisamos passar por um processo de educação, de despatriarcalização da nossa sociedade. Na Marcha Mundial das Mulheres temos o lema ‘a nossa luta é todo dia’ porque acreditamos que o combate à violência, não só física, mas moral e de prejuízos causados às mulheres unicamente por elas serem mulheres, deve ser feito em diversas frentes, diariamente”, disse.
Ipea corrige dados da pesquisa
Após comoção na internet, o Ipea divulgou na sexta-feira, 4, nota explicando que houve inversão em um dos dados da pesquisa sobre tolerância social à violência contra as mulheres publicada na quinta-feira, 27. O Instituto afirma que, em vez de 65% como divulgado anteriormente, na verdade 26% dos entrevistados concordam, total ou parcialmente, com a afirmação de que “mulher com roupa que mostra o corpo merece ser atacada”. Os dados relativos a outras questões da pesquisa como “se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros” seguem sem alteração.
A pesquisa corrigida aponta agora que 70% das pessoas discordaram total ou parcialmente com a afirmação. Em nota, o Ipea esclareceu: "Com a inversão dos resultados, relatamos equivocadamente, na semana passada, resultados extremos para a concordância com a segunda frase, que, justamente por seu valor inesperado, recebeu maior destaque nos meios de comunicação e motivou amplas manifestações e debates na sociedade ao longo dos últimos dias".
Mesmo com redução no percentual, os valores ainda assustam. “Independente da quantidade, o estupro acontece, assim como acontecem 'encoxadas', assédio sexual nas ruas e até em salas de aula, e isso nos preocupa. Ainda é absurdo pensar que 26% do grupo pesquisado concorda com a afirmação. Por isso, seguimos na luta contra a violência contra a mulher”, disse Camila Paula.
A assessora ressalta a importância das mobilizações na web, principalmente frente à fragilidade das campanhas feitas pelo Governo e que para se combater de fato a violência contra a mulher, é preciso analisar e agir em diversas frentes: educação, saúde e promoção de autonomia financeira.
“Nenhuma mulher, indiferentemente de classe social, cor, orientação sexual ou profissão, merece ser vítima de violência”, afirma a militante feminista.
Fonte: O Mossoroense
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