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quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Exclusivo: “Temos muitos indígenas cooptados por ONG’s com interesses escusos”, alerta Sandra Terena, indígena e jornalista

 Quinta, 07 de Outubro de 2021

No governo Bolsonaro, os indígenas ganharam o merecido tratamento, de quem os reconhece como cidadãos brasileiros.

Em entrevista exclusiva à revista A Verdade, a jornalista e indígena Sandra Terena aborda essa mudança de paradigma, os desafios enfrentados pelos indígenas na atualidade e outros temas polêmicos, como a atuação de ONG’s em reservas e a mudança no marco temporal. Confira:

Revista A Verdade: Como você vê a questão indígena no Brasil hoje?

Sandra Terena: Infelizmente, a esquerda, que ficou muito tempo no poder, se apropriou dessa bandeira como se eles fossem os guardiões das questões indígenas, como se só eles pudessem falar por nós. E, se você é indígena e pensa diferente da cartilha deles, você é simplesmente ignorado. Por eu defender o presidente Bolsonaro e ser cristã, muitas pessoas, inclusive indígenas, chegam a me dizer que estou negando minhas origens, o que é um absurdo. Onde está o meu direito a liberdade de pensamento e crença?

Os problemas que os indígenas têm hoje não surgiram da noite para o dia, são reflexo de má administração de gestões anteriores e agora essa mesma esquerda que não está mais no poder quer vender a imagem de que isso é culpa do presidente Bolsonaro, o que sabemos que não é verdade. Muito se fala em demarcação, mas a meu ver, o mais importante é oferecer meios para que as comunidades se desenvolvam, produzam e prosperem e isso passa, por exemplo, pela educação, pelo manejo da terra e da aquicultura, agricultura, etnodesenvolvimento, etnoturismo e valorização da cultura. Assim como qualquer cidadão brasileiro, os indígenas querem ter sua autonomia, serem donos das suas vidas e protagonistas de suas próprias histórias.

Sandra Terena: Como indígena e jornalista, penso que o maior desafio é favorecer uma comunicação simples, transparente e que chegue lá na ponta, lá na aldeia, trazendo a verdade e a realidade dos fatos, pois hoje muitas informações chegam distorcidas nesses locais. A começar pela grande imprensa que simplesmente omite os feitos do governo. Hoje muitas aldeias ainda recebem influências de organizações não governamentais que são contra o governo e isso ocorre também, em alguns casos, por servidores de carreira; que fazem esse desserviço nas aldeias. Há casos também de a realização de eventos virtuais na internet para descreditar o trabalho que vem sendo feito pelo governo, em vez de propor soluções. Para sanar isso, é preciso haver um trabalho sério e contínuo que se contraponha a essas narrativas mentirosas.

Também penso que há um longo caminho a percorrer na educação básica, que vai desde a infraestrutura, pois há muitas escolas em diversas aldeias que ainda estão a céu aberto ou situações precárias, bem como a necessidade de capacitação dos profissionais dessa área. Apesar desse cenário, hoje temos um avanço no acesso ao ensino superior, reconheço que muitos indígenas hoje são diplomados, e atuam em diversas áreas, mas a maioria deles tem essa visão condicionada e pasteurizada esquerdista, que em vez de somar, desagrega e isso é reflexo de como essas ideologias infestaram, na sua maioria, a educação superior pública como um todo.

Revista A Verdade: Qual sua opinião sobre o marco temporal?

Sandra Terena: Hoje temos 14% do território nacional, ou seja, 110 milhões de hectares (lembrando que um hectare equivale a 10.000 metros quadrados) destinado a reservas indígenas e cerca de 600 mil indígenas vivem nessas áreas. Cerca de 40% dos indígenas hoje não vivem mais em áreas indígenas e vejo como uma tendência de os indígenas mais jovens optarem por morar nos centros urbanos, a começar pelo acesso ao estudo e a facilidade que esses locais oferecem. Partindo desse pressuposto, sou a favor do marco temporal, pois a própria constituição federal no caput do Artigo 231 reconhece aos índios o direito originário sobre as terras que tradicionalmente JÁ ocupam. Nesse sentido, importante destacar, “que independente do processo demarcatório, as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, por sua própria natureza jurídica, já são consideradas terras indígenas”, e isso não sou quem estou falando, essa informação que citei consta em publicação da Funai, de 2012.

Nesse sentido, como é sabido, as terras indígenas são de caráter coletivo de uso e posse e são propriedades da União e creio que o percentual que temos hoje é adequado ao numero de indígenas que vivem em áreas indígenas. A meu ver, a questão principal é prover meios para que os indígenas que vivam nessas áreas consigam se desenvolver, produzir e ter sua autonomia de forma harmoniosa sem se sujeitar a interesses escusos de terceiros e livres de conflitos, bem como tenham sua liberdade de ir e vir e de credo respeitadas.

Revista A Verdade: Qual a principal diferença da Funai de hoje em relação aos outros governos?

Sandra Terena: Eu percebo claramente uma mudança de visão e uma boa vontade política em tratar assuntos delicados e/ou vistos como tabu, em especial àqueles considerados como práticas culturais nocivas, lembrando que é papel do governo brasileiro combatê-las, uma vez que o Brasil é signatário de tratados e convenções internacionais que prezam pela eliminação de tais práticas, mas que hoje, em menor número, ainda ocorrem em algumas etnias brasileiras. Vou exemplificar, enquanto jornalista, produzi de forma independente o documentário “Quebrando o Silêncio”, que abordou a prática do infanticídio a partir do relato de indígenas, bem como a reflexão e o sofrimento que essa prática causava em quem praticava. Lançamos o filme em 2009, em Brasília, lembro que havia mandado vários e-mails para Funai pedindo uma manifestação oficial sobre a prática, mas a instituição nunca se manifestou sobre, bem como não respondia a imprensa por conta do lançamento do documentário.

Enquanto estive no governo federal, não só fizemos uma nota técnica sobre essa realidade, bem como iniciamos tratativas junto à Casa Civil, pois existe o Projeto de Lei 1057/2007 que tramita no Congresso para combater o infanticídio indígena, como também começamos a desenhar um trabalho com outras secretarias e com a Funai para mitigar essa prática. Também vejo um empenho em fortalecer a autonomia das comunidades indígenas por meio da agricultura, e vejo isso como um ponto muito favorável. A aldeia dos meus familiares, por exemplo, tem sua subsistência no cultivo de várias culturas e o fortalecimento e desenvolvimento do plantio traz diversos benefícios, principalmente no combate à insegurança alimentar e à desnutrição infantil. E no mundo digital que hoje vivemos, a Funai tem feito um bom trabalho de divulgação das suas ações para as redes sociais, embora entendo que precisa ter um escoamento melhor dessas notícias para chegar também ao cidadão comum em amplitude com o objetivo de desmentir narrativas deturpadas que são ditas aqui e fora do Brasil.

Revista A Verdade: Existem facções políticas ligadas à esquerda, ONG’ atuando dentro das reservas indígenas? E quais os riscos disso?

Sandra Terena: Sim, sempre existiu e hoje também temos muitos indígenas que foram cooptados por essas organizações e dizem falar pelos indígenas, mas sabemos que falam em nomes dos interesses desses grupos. E ressalto: eles não representam os povos indígenas como um todo. Presenciei isso pessoalmente quando estive em uma aldeia, os indígenas, em maioria, falaram que certa pessoa não falava pela comunidade. Ou seja, aquela pessoa era movida por interesses escusos que vislumbrava tudo, menos o desenvolvimento e autonomia da sua comunidade indígena. Bem, diante disso e do que citei nas respostas anteriores, o risco já está aí. Foram anos da esquerda dominando a mente dos indígenas.

Não é à toa que vejo, inclusive entre parentes meus, então posso dizer com propriedade, que preferem receber um benefício social a ser empreendedor e cultivar algo, digo isso dentro de uma realidade em que se teve acesso ao ensino básico e contato com o mundo envolvente. Somado a isso, sabemos que muitas áreas indígenas são locais de grande biodiversidade. Eu cresci vendo muitas organizações estrangeiras irem na aldeia no litoral brasileiro interessadas em desenvolver projetos, mas eram poucas as que realmente faziam algo que mudava a realidade daquela comunidade. Os indígenas se sentiam usados e sem esperança porque sabiam que era mais uma ideia de projeto, então sabemos que o interesse é outro. Por isso que o trabalho da Funai é importante, para restringir isso.

No entanto, por outro lado, vemos uma perseguição a organizações cristãs sérias que trabalham para transformar vidas. Não é à toa que uma ONG esquerdista e o Partido dos Trabalhadores entraram na Suprema Corte pedindo a proibição de missionários em terras indígenas. Muitas aldeias têm problemas com drogadição, alcoolismo e suicídio e vi muitos indígenas e suas famílias terem suas vidas impactadas positivamente quando há um trabalho sério e relevante nesse sentido.

Fonte: Jornal da Cidade Online

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