Sexta, 25 de abril de 2025
O esquema do Descontão já vinha desde o governo Temer, pelo menos. Talvez tenha sido uma forma que os sindicatos de aposentados (11 identificados) encontraram para aumentar a arrecadação depois da reforma trabalhista.
No início era algo discreto, que não chamava muito a atenção. Manteve-se entre R$500 e R$700 milhões/ano até 2022. Com o início do governo Lula, os valores saltaram para R$ 1,3 bi em 2023 e R$ 2,8 bi em 2024. O que voava debaixo do radar durante anos passou a chamar a atenção, o que levou à investigação e à operação da PF.
A historinha que o PT vai contar é simples: um esquema que vinha desde os governos Temer e Bolsonaro precisou da PF do governo Lula para ser desbaratado. Essa narrativa é boa, mas não para em pé por dois motivos.
O primeiro é o aumento exponencial da arrecadação do esquema no governo Lula. Será que os sindicatos se sentiram à vontade para avançarem no butim dos aposentados, dado que agora havia um companheiro no Planalto? Será que houve conivência dos altos escalões do governo? São perguntas.
O segundo motivo é que os beneficiários do esquema são sindicatos, entidades normalmente ligadas ao PT. Afinal, alguém tem que pagar por aqueles balões coloridos das centrais sindicais em atos de apoio ao governo. Grana para sindicato é, em última instância, grana para o PT.
O PT sempre vai dizer que não rouba sozinho. O mensalão foi precedido pelo mensalinho mineiro do PSDB, e Roberto Teixeira da Costa havia sido indicado no governo FHC e já aprontava das suas. No entanto, o problema com o PT é sempre levar a corrupção para escalas industriais. E pior: usar o dinheiro para corromper o processo democrático. Não é o caso desse escândalo, até onde sabemos, mas nunca se sabe onde isso iria parar se não fosse desbaratado.
Uma notinha publicada em jornal nos informa que a base do governo teme que o Descontão impregne o governo com a “marca da corrupção”. Como se fosse preciso.
Marcelo Guterman. Engenheiro de Produção pela Escola Politécnica da USP e mestre em Economia e Finanças pelo Insper.
Fonte: Jornal da Cidade Online
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