Domingo, 12 de Fevereiro de 2023
A Faculdade do Largo de São Francisco, já foi uma ilha de excelência no oceano de ignorância que se tornou a academia brasileira.
Por lá passaram desde Rui Barbosa e José de Alencar até William Bonner e atriz Maria Fernanda Candido.
Porém, a vitória de Bolsonaro em 2018 foi uma ameaça grande demais para a elite intelectual e eles desceram do pedestal, só para confirmar tudo que dizia o professor Olavo de Carvalho.
A São Francisco se manteve em silêncio durante os sucessivos atropelos de direitos civis, inclusive de prerrogativas dos operadores do Direito, também se omitiu durante os sucessivos atos de censura e cerceamento contra jornalistas, influencers, economistas, advogados e até magistrados.
Agora da forma mais vil, o tradicional Centro Acadêmico XI de Agosto divulgou um abaixo-assinado contra a volta de Janaina, que é professora licenciada da instituição.
E onde estão as feministas (alunas e professoras) de direito da USP que não se opuseram contra esse verdadeiro bullying?
Porque a Janaina Paschoal não seria benvinda? Porque ela se tornou, democraticamente a deputada estadual mais votada da história do Brasil?
No documento, os alunos atacam Janaina e dizem que ela “não é mais bem-vinda” na faculdade, em virtude da “contribuição indecente” que supostamente fez para o país, em alusão ao apoio da parlamentar ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e à eleição de Jair Bolsonaro, em 2018.
Como contribuição indecente?
Janaina corrompeu algum deputado ou senador para votar favorável ao impeachment. Há não, isso foi obra de um outro líder político ostensivamente apontado no processo “O Mensalão” – também conhecida Ação Penal (AP) 470.
Será que os alunos da São Francisco perderam essa aula?
A Profª Drª. Janaina Paschoal apresentou uma peça jurídica tão perfeita na Câmara que obteve apoio de 367 deputados federais, contra apenas 137. Houve sete abstenções e somente dois ausentes dentre os 513 deputados – incluindo aí SETE ministros do atual governo que votaram favoravelmente.
Para os alunos que subscrevem, a professora licenciada “abandonou os valores democráticos que devem permear as salas de aula da principal instituição de ensino jurídico do país”.
Mas quais valores democráticos são esses que Janaina abandonou?
O direito de divergir?
De contestar?
O que esperam esses alunos (com a aparente conivência da direção), que todos os professores conjuguem das mesmas correntes ideológicas?
Que tenham as mesmas visões do Direito?
E que tal a religião?
Vocês alunos signatários envergonham essa instituição, especialmente porque, mesmo em ampla maioria, se sentem ameaçados por uma única mulher. Não dá para ser mais inseguro que isso.
Ficamos no aguardo do pronunciamento da Reitoria, dos professores e, principalmente, das feministas da USP.
Eduardo Negrão
Consultor político e autor de "Terrorismo Global" e "México pecado ao sul do Rio Grande" ambos pela Scortecci Editora.
Fonte: Jornal da Cidade Online
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