Sábado, 04 de julho de 2015
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta sexta-feira, 3, que os responsáveis pelos escândalos da Petrobrás sejam punidos, mas que os trabalhadores sejam preservados. "Se alguém sacaneou ou roubou a Petrobrás, que pague pelo roubo, e que os trabalhadores não sejam punidos. Que não sejam punidos aqueles que efetivamente são responsáveis pela construção dessa extraordinária empresa, motivo de orgulho para o nosso País", disse o petista, que participa nesta sexta-feira da 5ª Plenária Nacional da Federação Única dos Petroleiros (FUP). O ex-presidente petista disse que aceitou participar do encontro dos petroleiros porque é preciso contar e recontar sua participação nas lutas e feitos deste País. "Tenho orgulho de ter sido o metalúrgico que levou o Jair Meneguelli (ex-sindicalista que militou ao lado de Lula no ABC) a ser cassado por fazer a primeira greve, em solidariedade aos petroleiros em 1983." E disse que também sente muito orgulho de ter sido o presidente que "capitalizou a estatal e ajudou a recuperar a indústria naval brasileira." Lula citou que ao assumir a Presidência da República, a estatal representava apenas 2% do PIB e hoje representa 13%. Lula disse que também sente muito orgulho de ter sido o presidente sem diploma universitário que mais criou universidades neste País, e repetiu um discurso usado durante a campanha pela reeleição de Dilma Rousseff. "Tenho orgulho de pertencer a um partido e a um governo que em 12 anos construiu mais vagas nas universidades do que as elites em cem anos. Fizemos também mais escolas técnicas nesse período do que eles em cem anos. Nunca os brasileiros tiveram tanto orgulho do que tiveram nesses 12 anos."
Pressionado pelo PT a controlar a Polícia Federal, diante dos escândalos que atingem o partido e batem à porta do Palácio do Planalto, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou nesta quinta-feira, 2, que não orienta as investigações nem para beneficiar aliados ou punir adversários e admitiu a possibilidade de deixar o cargo.“Se eu achar que não contribuo mais para o projeto e não sirvo mais à presidenta, sairei”, disse Cardozo ao Estado. Na semana passada, o ministro chegou a ser convidado pela Executiva de seu partido para explicar o que os petistas entendem como “vazamentos seletivos” da Operação Lava Jato. A estratégia foi considerada “um tiro no pé” pelo Planalto e o PT recuou. “Eu não tenho de prestar informações só ao PT, mas a qualquer força política que desejar explicações em relação aos meus atos”, reagiu Cardozo. Mas, mesmo diante de uma nota de apoio à sua atuação, divulgada no fim da tarde por deputados federais do PT, o ministro desconversou sobre seu futuro: “Não tem nem fico nem sai”. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Estado - O sr. já disse ao Estado, mais de uma vez, que o cargo de ministro da Justiça tem prazo de validade. Com tanta pressão, o sr.agora pensa mesmo em sair?
O Ministério da Justiça tem, sim, prazo de validade. Tenho hoje uma situação até curiosa porque, no período democrático, sou o ministro que ficou mais tempo no cargo. O que eu posso afirmar é que, dentre os meus muitos defeitos, a lealdade é uma qualidade. Sou leal à presidenta Dilma e ao projeto que ela representa. Enquanto eu servir a esse projeto e ela achar que eu sirvo, ficarei. Se eu achar que não contribuo mais para o projeto e não servir mais à presidenta, sairei. Mas continuarei defendendo o projeto onde quer que esteja porque acredito na presidenta Dilma e na sua honestidade.
Estado - A bancada do PT na Câmara divulgou uma nota de apoio à sua atuação e a Executiva do partido deve recuar na intenção de convidá-lo a esclarecer os chamados “vazamentos seletivos” da Lava Jato. Com isso o sr. dirá fico?
Não existe nem fico nem saio. Como ministro, eu não tenho de prestar informações só ao PT, mas a qualquer força política que deseje explicações em relação aos meus atos. Sempre que for convidado, irei com grande prazer.
Estado - O sr. se sente traído por seus pares ou foi pressionado a intervir nas investigações?
De forma nenhuma. Eu represento um projeto que ajudei a construir desde a origem do PT. Agora, é evidente que há divergências. Eu mesmo pertenço a uma corrente (Mensagem ao Partido) que por vezes expressa posições diferentes. É legítimo que pessoas me aplaudam ou vaiem. Eu agi, ajo e agirei, enquanto aqui permanecer, de acordo com a Constituição e com a minha consciência. Jamais um ministro da Justiça, num Estado de Direito, deve orientar investigações, dizendo que os inimigos devem ser atingidos e os amigos, poupados. Tenho minha consciência absolutamente tranquila.
Estado - O ex-presidente Lula é o próximo alvo da Lava Jato?
O presidente Lula é um líder reconhecido no Brasil e no mundo. Eu não acredito que ele possa ter praticado atos lesivos ao patrimônio ou atos ilícitos. Não vejo como ele possa ser alvo de investigação.
Estado - Qual foi o momento mais difícil que o sr. enfrentou até agora?
Depois da posse, em 2011, eu não me lembro de momentos fáceis (risos).
Estado - A dieta Ravenna, que o fez perder 22 quilos, deixou o sr. aflito?
A dieta me deixou mais feliz. Agora, aos trancos e barrancos, tento fazer minha tese na Universidade de Salamanca. O tema é muito interessante, diz respeito à crise da separação de Poderes no século 21.
Estado - Os escândalos da Operação Lava Jato atingiram até mesmo a visita da presidente aos Estados Unidos. Como o governo pode sair das cordas e criar uma agenda positiva?
Em primeiro lugar, a visita da presidenta aos Estados Unidos foi muito exitosa. Em segundo, não acho que o governo esteja nas cordas. Passa, sim, por uma turbulência natural.
Estado - A presidente disse não haver provas nas denúncias contra os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Comunicação Social) e afirmou que condenar assim é “um tanto quanto Idade Média”. Isso não é desqualificar a Polícia Federal?
Não. O que ela fez foi um juízo de apreciação sobre o papel de delações premiadas. É uma peça de investigação, não é sentença condenatória. Um delator pode falar a verdade, mentir, dizer meias-verdades.
Estado - O empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, está mentindo?
Não sabemos se há correspondência entre o que a imprensa divulgou e o que foi dito na delação premiada. O que posso afirmar em relação ao ministro Mercadante e ao ministro Edinho é que tenho a mais absoluta convicção da lisura dos procedimentos deles. São pessoas sérias, respeitáveis.
Estado - Todos dizem que as doações recebidas foram legais e registradas tanto para a campanha da presidente Dilma, como para a do ex-presidente Lula e para a do então senador Mercadante ao governo de São Paulo. Mas e a origem do dinheiro? Como explicar a propina na Petrobrás?
Pelo que me consta, o empreiteiro deu contribuições não apenas a campanhas do PT. Deu também para outro candidato a presidente da República, para governos estaduais...
Estado - O governo sempre alega que as doações foram suprapartidárias. Uma coisa justifica a outra?Não. O que eu digo é que tudo tem que ser investigado. Eventuais contribuições vindas de recursos indevidos tem que ser apuradas. Em geral, os candidatos recebem contribuições e não têm nem como atestar a origem do dinheiro. Agora, considerando que essa empreiteira mantinha contratos com governos estaduais que também tinham candidatos, por que dizer que as doações ilícitas são só em alguns casos?
Estado - O sr. se refere ao PSDB?
Estou falando de todas as contribuições que passaram pela UTC. Eu não posso fazer investigações parciais. E não falo isso para isentar ninguém. Se houver pessoas do meu partido que tinham consciência da ilicitude de uma doação, deverão responder. A lei vale para todos. Isonomia é pressuposto básico de investigação séria.
Estado - Depois de uma manobra feita pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o governo foi novamente derrotado e a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, em casos de crimes hediondos e delitos graves, acabou aprovada. O que fazer?
Essa proposta é trágica e desastrosa por todas as consequências que gera. É inconstitucional, porque fere cláusula pétrea e contraria todos os estudos de especialistas que recomendam que jovens nunca sejam tratados como adultos. Nos países em que isso acontece, a violência é maior. Cabe ao governo abrir esse debate.
Estado - A sua corrente no PT defende mudanças na política econômica, diz que a presidente não cumpriu promessas de campanha e faz duras críticas ao ajuste fiscal. O sr. fica confortável com isso?
Defendo vigorosamente o ajuste fiscal. A equipe econômica está no rumo certo. Se tivesse participado da reunião que definiu isso, seria voto vencido.