Sábado, 10 de outubro de 2015
Aposentado Roberto Elias Moura conta como é aflitivo não saber o destino do irmão, sobre quem ele ainda fala: "Fernando deve saber o que fez"
O aposentado Roberto Elias Moura, 72, não se recorda qual foi a última vez em que esteve em instalações carcerárias. Nos últimos tempos, no entanto, tem sido sua rotina o périplo pelas celas por onde o irmão, o ex-governador Fernando Freire, tem passado. Preso desde o fim de julho, o ex-chefe do Executivo passou primeiro pelo quartel da Polícia Militar. Atualmente aguarda o que destino lhe reserva em uma cela de ‘três por três’, como define Roberto, no comando do Bope. As incertezas afligem.
“Ele está nessa e eu espero… Nem sei… Não sei como será a Justiça. Aí nos deparamos com as histórias dos habeas corpus, se sai ou se não sai. E para onde ele vai também ninguém define. É uma perversidade mental”, resumiu Roberto em entrevista, por telefone, ao portalnoar.com.
Freire esteve prestes a ser transferido para Alcaçuz. Roberto diz que evita comentar com ele esse assunto. Cita que o quadro do irmão é tão deprimente, que ele procura desviar a conversa para assuntos amenos. Frequentemente, ambos discutem política. “Ontem ele foi dormir sem saber se o TCU iria rejeitar as contas de Dilma, e conversamos sobre isso”.
Cada vez que volta para visitar o irmão, Roberto sente os efeitos do abandono. Dos tempos áureos em que Fernando Freire foi governador, só restaram as condenações por improbidade, peculato e corrupção.
“As poucas vezes em que fui visitar nunca encontrei ninguém. Ainda vi dois nomes que tinham passado lá quando ele estava preso no quartel da PM. Depois não vi mais. E não pergunto a ele se tem havido visitas – nem ele fala. Não pergunto para não magoá-lo. Seria fazê-lo constatar que foi abandonado”, crava Roberto.
A relação entre os irmão foi marcada pela independência, como define o próprio Roberto. Ambos são filhos da mesma mãe, mas têm pais diferentes. Fernando decidiu assumir o espólio político do pai, o ex-senador Jessé Freire. Para Roberto, o ex-governador sempre teve ‘espírito de liderança’.
Com desenvoltura e sem rodeios, o irmão de Fernando Freire não levanta a bandeira da vitimização. É firme ao dizer que o irmão ‘deve saber o que fez’.
“Não estou o isentando de nada. Ele serviu muito. Essas benesses de cargos eram para servir aos pedidos de políticos. Ele dobrou os caciques. Esse povo ia rezar e orar na casa dele, por assim dizer. Mas os tempos mudaram. Fernando foi apanhado, o Brasil é outro e ele está só”, relacionou Roberto.
Com uma vida discreta, o irmão do ex-governador revela como tem sentido na pele o constrangimento. “É constragedor, mas ele é meu irmão e não posso deixá-lo, por mais que os outros… Acredito que muita gente tem sentimento de solidariedade, só não sabe como expressá-lo”, arrisca Roberto Moura.
O irmão revela ainda que tem cabido a uma tia de Fernando Freire supri-lo com alimentos. A mulher e a filha do ex-governador continuam no Rio de Janeiro, conforme Roberto, e não foram localizadas pela reportagem.
Por Dinarte Assunção
Fonte: J.Belmont