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quinta-feira, 14 de novembro de 2019

O PT e a insana defesa das ditaduras

Quinta, 14 de Novembro de 2019



Leio no Congresso em Foco:

“Em pronunciamento publicado em seu site oficial, o Partido dos Trabalhadores chamou de "golpe de Estado" a renúncia do ex-presidente boliviano Evo Morales. O político abdicou do cargo na tarde deste domingo, após uma série de ataques a casa de familiares, prédios públicos e aliados do governo.

O pronunciamento do PT, diz que esta renúncia é o resultado " da ação daqueles que não aceitam a vontade do povo e tampouco respeitam as instituições democráticas arduamente construídas na luta contra as ditaduras latino-americanas na década de 80".

COMENTO

O petismo mantém com a realidade, com os fatos e com a verdade uma relação utilitária, moldável segundo a conveniência do momento. Qualquer estudante de Ciência Política dirá que uma das características de um sistema político democrático é a rotatividade no poder. Uma sucessão de reeleições fornece péssimo sinal sobre a qualidade das instituições do país em que isso acontece. O caso boliviano com Evo é típico. Eleito para cumprir mandato em 2006, ele se perpetuou no poder por 13 anos até renunciar à presidência no último dia 10.

Morales havia “vencido” a eleição para um quinto mandato, mediante fraudes que foram constatadas por observadores internacionais. Não surpreende a acusação. Evo Morales não era muito adepto da legalidade que não estivesse afinada com seus interesses. Foi assim que havendo impedimento constitucional para sua terceira candidatura presidencial, ele convocou um plebiscito e perdeu. O povo rejeitou a mudança da regra constitucional. Evo, no entanto, apelou à sua Suprema Corte e ela legalizou a ilegalidade do seu terceiro mandato. Que foi sucedido pelo quarto e iria para o quinto não fossem as práticas fraudulentas e as consequentes reações interna e externa.

O boliviano é aprendiz de feiticeiro, irmão ideológico dos demais ditadores da América Ibérica. Com eles aprendeu a eternizar-se no poder, sempre com apoio do brasileiro Partido dos Trabalhadores, que agora dizem ser sua renúncia o “resultado da ação daqueles que não aceitam a vontade do povo e tampouco respeitam as instituições democráticas”.

Isso é o que chamo de manter uma relação utilitária e moldável com os fatos e com a verdade. As sucessivas reeleições de Evo Morales foram aceitas, malgrado sua natureza antidemocrática e abusiva, apesar do resultado de um plebiscito haver sido jogado no lixo e agora, opor-se ao resultado de uma eleição fraudada, vira “golpe de Estado” na ótica petista.

Nunca, em momento algum, se ergueu dentro do partido uma voz sequer para contestar as ditaduras de Cuba, Venezuela, Nicarágua e Bolívia. “Golpista” será, sempre, quem a elas se opõe.

Percival Puggina

Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Fonte: Jornal da Cidade Online

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