Domingo, 02 de setembro de 2023
Um diálogo entre o general Gonçalves Dias, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República durante o 8 de Janeiro, e o ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Cunha confirma que o militar solicitou a retirada do nome dele da relação de pessoas que tiveram acesso a informes de inteligência sobre os atos extremistas (veja as mensagens abaixo). Em depoimento à CPMI do 8/1 nesta quinta-feira (31), o ex-GSI afirmou que não mandou adulterar o relatório.
Na conversa à qual o R7 teve acesso, G. Dias, como é conhecido o general, questiona o ex-Abin sobre a possibilidade de excluir o nome dele do relatório que seria entregue ao senador Esperidião Amin (PP-SC), então presidente da Comissão Mista de Controle da Atividade de Inteligência do Congresso Nacional.
A troca de mensagens ocorreu em 17 de janeiro, três dias antes do envio do documento ao Congresso. Além de pedir a retirada do nome, o ex-GSI se certifica de que o documento não chegou a ser compartilhado e reitera a demanda pela exclusão.
Confira o diálogo
G. Dias: Será que meu nome pode ser retirado daquela relação?
Saulo Cunha: Aquela relação é só para seu conhecimento.
G. Dias: Ela ia ser entregue para o Espiridião.
Saulo Cunha: Negativo. Eu pedi que levasse ao senhor primeiro para avaliarmos.
G. Dias: Ha mais alguém que sabe??
Saulo Cunha: Não.
G. Dias: Pode tirar o meu nome?
Saulo Cunha: Claro. O senhor não era parte da operação.
G. Dias: Me mande outra… lacrada…
As informações constam no material cedido por Cunha à CPMI do 8 de Janeiro após ele prestar depoimento. Na fala ao colegiado, em 1º de agosto, o ex-Abin já tinha dado a versão: “Entreguei essa planilha ao ministro e ele determinou que fosse retirado o nome dele dali, porque não era o destinatário oficial das mensagens”, declarou o depoente, completando ter apenas obedecido à ordem.
O diálogo contradiz a versão inicial apresentada por G. Dias à Polícia Federal. Aos agentes, ele disse que não recebeu nenhum relatório de inteligência sobre a organização das manifestações. Nas conversas com Cunha, o ex-GSI recebe aproximadamente 20 informes.
Já na CPI da Câmara Legislativa do DF, o ex-GSI afirmou que não participou de nenhum grupo de WhatsApp para ter o nome incluído. “Eu não sou o difusor daquele compilado de mensagens. Então o documento não condizia com a verdade”, disse, em 22 de junho, e que a mudança não configuraria adulteração nem fraude.
A mudança de versões é o principal gancho que parlamentares da oposição com quem a reportagem conversou devem explorar. O depoimento é estratégico para aliados de Jair Bolsonaro (PL), que querem proteger o ex-presidente.
Após a oitiva, o caminho estudado é a apresentação de um relatório paralelo que consiste em tirar Bolsonaro do foco e concentrar a responsabilização da invasão dos prédios dos Três Poderes nas forças de segurança do DF e na omissão dos gestores federais do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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