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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Costa se diz ‘arrependido’, mas não revela à CPI conteúdo de delação

Quarta, 03 de dezembro de 2014 

Em prisão domiciliar, ex-diretor da Petrobras chegou escoltado a Congresso.

Edição de fotos: Folha de São Paulo

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, um dos presos da Operação Lava Jato, se disse nesta terça-feira (2) “arrependido”, mas afirmou que não responderia a perguntas durante a sessão de acareação promovida pela CPI mista da Petrobras entre ele e o ex-diretor da área Internacional da empresa Nestor Cerveró.

Aos questionamentos dos parlamentares, ele se limitou a afirmar, repetidamente, que tudo o que tinha a dizer estava detalhado nos depoimentos que deu por meio de delação premiada à Justiça Federal, sem revelar o conteúdo.

O objetivo da acareação era esclarecer pontos divergentes entre os depoimentos dos dois ex-diretores da Petrobras dados anteriormente à CPI. Ambos são suspeitos de envolvimento em esquema de desvio de dinheiro da estatal investigado pela Polícia Federal. Costa fez acordo de delação premiada com a PF e o Ministério Público para coloborar com as investigações em troca de benefícios, como a prisão domiciliar. Cerveró disse desconhecer a existência do suposto esquema.

A sessão
A CPI deu início por volta das 14h45 à sessão destinada a acareação entre os dois ex-diretores. Em sua primeira fala, Paulo Roberto Costa, avisou que iria se valer do direito de ficar calado e que não responderia aos questionamentos dos parlamentares devido ao processo de delação premiada firmado com a Justiça.


OPERAÇÃO LAVA JATO
PF investiga lavagem de dinheiro.

Preso em regime domiciliar no Rio de Janeiro, ele teve de ser escoltado pela Polícia Federal da capital fluminense a Brasília.

“Estou vindo aqui pela segunda vez. Na primeira eu não respondi a nenhuma pergunta, permaneci calado devido ao processo de delação e dessa segunda vez eu também não vou responder a nenhuma pergunta devido a esse processo que estou passando. Todas as dúvidas com relação a esse processo foram esclarecidas ao Ministério Público, a Polícia Federal e ao juiz de Curitiba. Isso conta de todo o processo de delação que foi bastante exaustivo e longo. Eu não tenho nada a acrescentar tudo o que eu precisava falar conta nesses depoimentos de delação que estão nas mãos dessas pessoas”, afirmou Costa no início da sessão.

A intenção dos parlamentares era confrontar as duas versões divergentes apresentadas pelo ex-diretores. Durante depoimento prestado em acordo de delação premiada, Paulo Roberto Costa teria apontado Nestor Cerveró como um dos funcionários da Petrobras beneficiados pelo suposto esquema de pagamento de propina instalado na empresa. Cerveró, porém, disse durante depoimento à CPI mista, em setembro, que desconhecia a existência do esquema.
Desde o governo Sarney, Itamar, Fernando Henrique, Lula, Dilma, todos os governos, os diretores da Petrobras e de outras empresas, se não tivesse apoio político, não chegava a diretor. Infelizmente eu me arrependo amargamente, estou fazendo minha família sofrer, infelizmente aceitei uma indicação política. Estou extremamente arrependido por isso. aceitei esse cargo e esse cargo me deixou onde eu estou hoje. Se eu pudesse eu não teria feito isso.”
Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras

Paulo Roberto Costa disse que reafirmava tudo o que disse durante a delação premiada, mas não respondeu aos questionamentos sobre o conteúdo do depoimento.

Ex-servidor de carreira da Petrobras, Costa disse que se arrependeu de ter aceitado uma indicação política para ser diretor da estatal. Ele afirmou que aceitou em razão do sonho de chegar “quem sabe a presidente”. Segundo o ex-diretor, “desde o governo [José] Sarney” todos os diretores chegaram aos cargos por indicação política.

“Desde o governo Sarney, Itamar, Fernando Henrique, Lula, Dilma, todos os governos, os diretores da Petrobras e de outras empresas, se não tivesse apoio político, não chegava a diretor. Infelizmente eu me arrependo amargamente, estou fazendo minha família sofrer, infelizmente aceitei uma indicação política. Estou extremamente arrependido por isso. aceitei esse cargo e esse cargo me deixou onde eu estou hoje. Se eu pudesse eu não teria feito isso”, declarou Costa.

O ex-diretor afirmou que “o que acontecia na Petrobras acontece no país inteiro”.

“O que acontecia na Petrobras acontece no país inteiro, nas rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, hidrelétricas no Brasil inteiro. É só pesquisar porque acontece”, afirmou o ex-diretor à CPI mista.

Ele disse ainda que pediu demissão da Petrobras, em 2012, porque “não aguentava mais a pressão” para resolver problemas que não eram da área dele. Ele afirmou que decidiu fazer a delação premiada aconselhado pela família. As duas filhas e os dois genros do ex-diretor são acusados de destruir provas a fim de dificultar o trabalho de investigação da polícia.

“Quem me colocou com clareza a orientação da delação foi minha esposa, filha, genros e netos. Eles disseram: ‘Paulo, por que só você? E os outros? Você vai pagar sozinho?’ Então fiz a delação para dar sossego para minha alma e por respeito e amor à minha família”, completou.
O que acontecia na Petrobras acontece no país inteiro, nas rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, hidrelétricas no Brasil inteiro. É só pesquisar porque acontece.”
Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras

Costa esclareceu um e-mail que mandou em 2009, quando ainda era diretor da estatal, a Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil. O documento foi revelado por reportagem na revista “Veja” em novembro. Ele afirmou que enviou a mensagem por orientação da Casa Civil. “Não houve atropelo de hierarquia como a imprensa disse”, declarou.

“Em relação à hierarquia, me foi solicitado que fosse passado diretamente. Era de conhecimento do presidente da companhia e, contrariando o que saiu pela imprensa, de que aquilo iria me favorecer em continuar com aquele processo, não é verdade, porque aquele processo estava me enojando. Eu não estava satisfeito com aquele processo.”

Indagado sobre o que significava estar “enojado”, ele respondeu: “Quando você está num processo desse, é um processo que você entra e não tem como sair. E eu saí desse processo, em 2012 eu entreguei minha carta de demissão”.

Nestor Cerveró
O ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró foi indagado sobre se teria recebido propina para firmar contratos com empreiteiras na Petrobras. Ele negou e afirmou desconhecer o que foi dito por Paulo Roberto Costa na delação premiada.
Eu, a exemplo dos senhores, não conheço os termos de delação premiada. Eu não vou responder a perguntas que eu desconheço. Eu ratifico o que eu disse aqui. Não recebi [propina].”
Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras

“Eu, a exemplo dos senhores, não conheço os termos de delação premiada. Eu não vou responder a perguntas que eu desconheço. Eu ratifico o que eu disse aqui. Não recebi [propina]”, disse Cerveró.

Questionado mais uma vez sobre a existência do esquema de corrupção na Petrobras, Nestor Cerveró afirmou que “desconhecia” o pagamento de propina na estatal. “Por desconhecer, para mim, não havia”, explicou.

O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) reproduziu durante a sessão trecho de gravação de um depoimento que Costa prestou ao juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná. Na gravação, o ex-diretor diz que Cerveró e o ex-diretor Renato Duque, que também está preso, foram beneficiados com pagamento de propina.

“O senhor está sendo acusado formalmente, no âmbito da Operação Lava Jato, de receber propina. Quem é o político que o indicou? O que o senhor tem a dizer agora que o senhor está sendo confrontado?”, questionou Lorenzoni. “Eu não sei qual é o político e eu nego essa acusação”, respondeu Cerveró.
Eu volto a repetir que nego isso [recebimento de propina]. Eu posso debitar isso na conta de uma ilação do Paulo. Eu desconheço esse tipo de pagamento.”
Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras

Depois, em resposta ao deputado Marcos Rogério (PDT-TO), Nestor Cerveró classificou como “ilação” a acusação de Paulo Roberto Costa.

“Eu volto a repetir que nego isso [recebimento de propina]. Eu posso debitar isso na conta de uma ilação do Paulo. Eu desconheço esse tipo de pagamento”, respondeu. O deputado perguntou então se Costa faz “conspiração” contra o ex-colega. “Eu não falei em conspiração, eu falei em ilação”, destacou Cerveró.

Cerveró ainda reiterou que não sabe qual político do PMDB o teria indicado para a diretoria Internacional da Petrobras. Ele afirmou que conhece Fernando Soares, conhecido por Fernando Baiano, apontado como operador do partido no esquema.

“Eu o conheço como representante de empresas do exterior, mas desconheço o relacionamento dele com o partido”, afirmou.


Fonte: Carlos Skarlack

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