martins em pauta

domingo, 5 de junho de 2011

As implicações políticas do assassinato de Anderson Miguel

Caso coloca novamente em evidência suposto esquema de corrupção na gestão da ex-governadora Wilma de Faria, que pretende voltar à Prefeitura de Natal.


Advogado Anderson Miguel, réu e delator da Operação Hígia.

O assassinato do empresário e advogado Anderson Miguel, ocorrido na última quarta-feira (1º), no escritório da vítima, no bairro de Lagoa Nova, além do fato policial em si, poderá ter desdobramentos políticos importantes para a disputa eleitoral do próximo ano.

Anderson era dono da empresa A&G Locação, réu e delator da Operação Hígia, processo que investiga um suposto esquema de desvio de verba pública e fraude em contratos de licitações com a Secretaria de Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap) durante a gestão da ex-governadora Wilma de Faria (PSB).

De acordo com as investigações, o principal beneficiário do esquema de pagamento de propina seria o ex-candidato a deputado estadual Lauro Maia, filho da ex-governadora, que perdeu, no ano passado, a disputa com os senadores Garibaldi Alves Filho (PMDB) e José Agripino Maia (DEM) por uma das duas vagas do RN no Senado.

Fracassada em sua tentativa de eleger-se senadora, Wilma alimenta a expectativa de voltar ao poder através da Prefeitura de Natal.

Mesmo dizendo que ainda espera uma “convocação” do partido e do povo para tomar uma decisão, a ex-governadora é candidatíssima à sucessão da prefeita Micarla de Sousa (PV) em 2012. Mas a volta da Operação Hígia e, consequentemente, do nome do filho dela, Lauro Maia, às manchetes jornalísticas, pode melar as pretensões da líder do PSB.

O esquema

Foto: Elpídio Júnior
Lauro Maia, filho da ex-governadora do Rio Grande do Norte, Wilma de Faria.

Em novembro de 2010, durante depoimento à Justiça Federal, Anderson Miguel revelou detalhes sobre o escândalo de corrupção no governo estadual. Ele contou que pagou R$ 3 milhões em propina ao filho da ex-governadora Wilma de Faria, Lauro Maia.

À época, o réu informou que, durante três anos, sua empresa teve que pagar a propina para poder para conseguir receber o dinheiro referente ao contrato de prestação de serviço que mantinha com a Sesap. Anderson denunciou ainda que o procedimento era comum em vários setores da administração estadual e envolveria outras empresas: Emvipol, Líder, Condor, RH Service e JR.

O empresário afirmou ainda que a ex-governadora tinha conhecimento do esquema. O pagamento da propina seria feito no escritório onde Anderson Miguel foi assassinado na semana passada.

A A&G mantinha contratos de higienização hospitalar e prestava serviço para a Farmácia Popular e o SAMU. Anderson Miguel informou à Justiça Federal que o valor da propina chegava a R$ 90 mil, mas terminou em R$ 20 mil devido à defasagem dos valores dos contratos.

A operação

Foto: Elpídio Júnior
Jane Alves de Oliveira, ex-mulher do empresário Anderson Miguel.

A Operação Hígia foi deflagrada em 13 de junho de 2008 pela Polícia Federal. O responsável pelas investigações é o juiz federal Mário Jambo, que indiciou e mandou cumprir mandados de prisão contra 15 acusados de participação no esquema.

A ex-mulher e sócia de Anderson Miguel na A&G, Jane Alves de Oliveira, ex-candidata à vereadora em Natal, foi uma das 14 pessoas detidas pela Operação Hígia.

Em dezembro, num depoimento ao juiz federal Mário Jambo, a empresária afirmou que vinha sendo “ameaçada” pelo ex-marido, que a estaria pressionando para mudar seu primeiro depoimento à Justiça. Jane Alves havia acusado o ex-marido de mentir em juízo para conquistar o benefício da delação premiada.

Os réus da Operação Hígia vão responder pela prática de sete crimes: formação de quadrilha, organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e crime contra lei de licitações.

As incertezas

Foto: Elpídio Júnior
Wilma de Faria, ex-governadora do RN.

Em entrevista por telefone ao portal Nominuto.com, Lauro Maia ameaçou processar todos que o acusarem de estar envolvido no homicídio de Anderson Miguel. “Prove! Prove!”, reagiu, em tom indignado, o filho da ex-governadora, pivô do esquema denunciado pelo empresário Anderson Miguel.

Esse enredo que mistura política, corrupção e morte tem um potencial altamente inflamável. Independente do rumo das investigações conduzidas pelas polícias Civil e Federal, o caso reaviva na memória popular o escândalo que abalou as estruturas da gestão de Wilma de Faria e poderá obrigá-la a repensar sua candidatura a prefeita de Natal.

Na eleição do ano passado, quando disputou uma cadeira no Senado, em diversas ocasiões, Wilma teve que dar satisfações sobre o escândalo ocorrido em seu governo e defendeu, contra todas as evidências, a inocência do filho. A julgar pelo resultado da eleição, a população não engoliu bem as explicações da ex-governadora.

O que Wilma de Faria terá que ponderar é se a volta da Operação Hígia ao noticiário e, consequentemente, a associação do caso ao seu nome e ao nome de Lauro Maia, terá força ou não para sepultar sua candidatura em 2012.

Disputar uma eleição tendo que desmentir acusações contra si o tempo todo, em vez de falar do seu plano de governo, é uma tarefa inglória para qualquer político. Wilma ainda deverá levar um tempo para resolver essa e outras incertezas.

Fonte nominuto editado por Martins em Pauta

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