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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Reprodução mostra manuscritos do atirador Wellington Oliveira apreendidos pela polícia Nos manuscritos que a Polícia Civil encontrou na residência de

Reprodução mostra manuscritos do atirador Wellington Oliveira apreendidos pela polícia

Nos manuscritos que a Polícia Civil encontrou na residência de Wellington Menezes de Oliveira em Sepetiba, zona oeste do Rio, o autor do massacre na escola de Realengo revela detalhes de um relacionamento conturbado com sua família. Os papéis encontrados não possuem data e, na maioria dos trechos, são desconexos.

Numa das páginas divulgadas pela polícia, Wellington escreve:“ele cria situações q faz com q o q ele fala tenha lógica. ele faz isso mtas vezes comigo, pra vc ver como é essa família que eu fui cair... o pior é q ultimamente ele está fazendo mtas coisas pra me prejudicar. com certeza ele está com raiva pq eu rejeitei eles mas vou me conter...”.

Não se sabe a quem o autor dos manuscritos se referia por “ele”. Oliveira foi adotado por Guido Bulgana Cubas de Oliveira e Diceia Menezes de Oliveira –ambos já falecidos– quando tinha apenas alguns dias de vida. Segundo relatos, sua mãe biológica sofria de esquizofrenia. Na sequência, o atirador escreve: “pretendo trabalhar para sair desse estado ou talvez irei direto ao Egito... minha família daqui não me valoriza...”.

“Eles não confiam em mim”

Descrevendo sua frustração com um mundo visto por ele como um lugar onde “injustos mentirosos ladrões corruptos são sempre vistos como os leais e os realmente leais são vistos como os corruptos”, Oliveira mostra mais uma insatisfação em relação a sua família:“talvez se eu passasse a ser um hipócrita desonesto as pessoas acreditariam mais em minha pessoa, minha própria família não coloca fé em mim”.

Em outro trecho, o filho adotivo critica os hábitos religiosos de sua família:“meus pais por não seguirem a religião com devoção sempre desconfiam d mim [...] já errei com minha família mas aí mudei com o Alcorão e eles não confiam em mim.”

Oliveira e sua mãe, morta há cerca de dois anos, chegaram a frequentar um templo da denominação cristã Testemunhas de Jeová, em Realengo. No entanto, nos manuscritos divulgados, o atirador cita algumas vezes o Alcorão, livro sagrado do Islã.

O “grupo”

Um dos diversos pontos obscuros nos textos do atirador diz respeito a um “grupo”, do qual ele fazia parte e acabou se distanciando. Ele conta que conheceu um homem chamado Abdul, que teria sido enviado ao Brasil pelo pai de Oliveira (não fica claro se ele se refere a seu pai adotivo ou usa a palavra “pai” num contexto espiritual).

O autor do texto conta um desentendimento que teve com Abdul e outro homem chamado Phillip, por este ter usado indevidamente seu computador para ver imagens pornográficas:

“Me sinto frustrado... Tive uma briga com o Abdul e descobri que o Phillip usava meu PC para ver pornografia [...] resolvi falar sobre a menina q me convido a ir a igreja dela e antes d eu terminar ele [Abdul] já foi se exaltando dizendo que eu era para cortar ela logo no início ao invés de ouvi-la. Depois disso ele me ligou umas vezes e eu disse q estou saindo por respeito ao grupo. Eu também me considero errado por ouvi-la... [...] Essa minha saída do grupo me deu forças para reconhecer q agi errado em escuta aquela mulher. Eu não gostei d sair mas sei q é o certo”.

Não fica claro quem era a menina a quem Oliveira se referia, tampouco há detalhes sobre a composição, a dinâmica e o intuito deste suposto grupo.

Pensamentos sobre o 11 de setembro

Em outro trecho, o atirador descreve sua rotina de devoção espiritual e revela uma admiração pelo ataque terrorista cometido em Nova York no dia 11 de setembro de 2001: “eu estou fora do grupo mas faço todos os dias minha oração do meio dia q é a d reconhecimento a Deus e as outras 5 q são d dedicação a Deus e umas 4 h do dia passo lendo o Alcorão. não o livro pq ficou com o grupo mas partes que eu copiei para mim e o resto do tempo eu fico meditando no lido e algumas vezes medito no 11/09”.

Oliveira também faz algumas anotações enigmáticas em relação à Malásia, país de maioria islâmica no sudeste asiático e onde estão localizados alguns dos mais altos edifícios do mundo. Ele quer obter mais informações sobre as condições meteorológicas daquele país no mês de setembro, bem como informações sobre voos e aeroportos.

Revolta com o mundo terreno

As referências religiosas nos escritos do autor do massacre da escola municipal Tasso da Silveira são uma constante. Num dos trechos, o assassino escreve:“os prazeres e o reconhecimento deste mundo são coisas passageiras e o que importa é ser reconhecido por Deus pq não será com as pessoas limitadas desse mundo que viverei eternamente e sim com Deus”.

Oliveira chega a dizer que uma das coisas que mais o irrita é a vaidade. Ele considera um “absurdo”, uma “tolice”, o que fazem as pessoas que se dedicam a cuidar do corpo. O autor do massacre também escreve: “sei q Deus olhara para meu sacrifício e minhas ações neste mundo com mto favor e satisfação e sei q serei mto bem recompensado”.

Destinatário desconhecido

Além de servirem como plataforma para que Oliveira expressasse algumas ideias e sentimentos pessoais, alguns trechos dos manuscritos divulgados parecem ser parte de uma correspondência. O autor usa diversas vezes a palavra “você” e também escreve “tenho uma coisa a te dizer”, o que sugeriria um possível destinatário.

O delegado titular da Divisão de Homicídios da Polícia Civil, Felipe Ettore, não acredita em nenhuma motivação religiosa para o ataque do último dia 7 de abril e sustenta que Oliveira agiu sozinho, movido por uma doença mental.

No entanto, a Polícia Federal já entrou no caso para investigar as ligações que o autor do massacre possuía, a fim de averiguar se outra pessoa pode ter tido alguma participação no caso. A Justiça do Rio quebrou o sigilo eletrônico do atirador e ordenou que o Google forneça dados sobre ele às autoridades policiais à frente das investigações.

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