Quinta, 18 de dezembro de 2025
O contraste é gritante. De um lado, milhões de brasileiros lidam com a burocracia, a lentidão do sistema e o aperto no orçamento doméstico. Do outro, o filho do presidente da República viaja com conforto máximo, acompanhado por um alto dirigente de um dos órgãos mais sensíveis da administração pública, responsável por gerir bilhões de reais e diretamente ligado à sobrevivência de idosos e trabalhadores incapacitados. A cena não apenas choca, como reacende suspeitas antigas sobre acesso privilegiado, influência política e a naturalização de benefícios reservados a poucos.
Não se trata apenas de uma viagem internacional, mas do simbolismo que ela carrega. Qual foi o objetivo do deslocamento? Houve agenda oficial? Quem pagou a conta? Que tipo de interlocução se deu entre um familiar direto do presidente e um dirigente do INSS fora do país? O silêncio oficial até aqui apenas amplia o desconforto e alimenta a percepção de que certas relações continuam acontecendo longe dos holofotes e sem a devida transparência.
Lulinha não ocupa cargo público, mas seu sobrenome e sua proximidade com o poder tornam qualquer movimento politicamente relevante. Quando esse movimento ocorre ao lado de um representante do Estado, em circunstâncias de alto padrão, o episódio deixa de ser privado e passa a interessar diretamente à sociedade. Em uma democracia que se diz comprometida com igualdade e justiça social, o mínimo esperado é clareza absoluta.
Enquanto isso, para o cidadão comum, a realidade segue dura: filas, aplicativos que não funcionam, perícias canceladas e benefícios represados. A viagem em primeira classe, nesse contexto, torna-se mais do que um detalhe — vira um símbolo. Para alguns, o Brasil continua oferecendo tapete vermelho, serviço premium e assento reclinável. Para a maioria, resta esperar, em silêncio, na sala de embarque do INSS.


Nenhum comentário:
Postar um comentário