Sexta, 19 de dezembro de 2025
Nos bastidores, a leitura predominante entre parlamentares conservadores é de que a cassação não ocorreu no vácuo. Ela se insere em um contexto mais amplo de pressão institucional sobre vozes alinhadas ao campo bolsonarista, especialmente aquelas que mantêm forte presença pública e capacidade de mobilização. Eduardo Bolsonaro, com projeção internacional e discurso assertivo, e Ramagem, ex-diretor da ABIN e figura central na articulação da oposição, tornaram-se alvos estratégicos.
A condução do processo também foi alvo de críticas. Advogados e aliados apontam para celeridade incomum, interpretação elástica de normas e a ausência de garantias que, em outros casos semelhantes, foram observadas com maior rigor. Para a direita, o recado é claro: a régua não é a mesma para todos. Enquanto determinados grupos desfrutam de tolerância e tempo, opositores enfrentam decisões rápidas e definitivas.
No plano político, a cassação produz efeitos imediatos. Enfraquece a bancada conservadora, desorganiza lideranças e sinaliza aos demais parlamentares o custo de confrontar narrativas dominantes. Ao mesmo tempo, alimenta a percepção de que o debate político tem sido deslocado do campo das ideias para o terreno das sanções institucionais — uma dinâmica que, segundo críticos, empobrece a democracia.
Ainda que os desdobramentos jurídicos sigam em discussão, o episódio já se consolidou como um marco simbólico. Para a base de direita, trata-se menos de um julgamento técnico e mais de um capítulo de um embate maior: o da tentativa de neutralização política de adversários. Para o país, fica a pergunta que ecoa nos corredores de Brasília: quem será o próximo alvo quando a divergência política passa a ser tratada como infração?


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