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sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Abandonados pelos donos, animais de rua se tornam ameaças em Manaus



Sexta, 02 de Outubro de 2017
06:13
A presença de animais nas ruas, abandonados ou deixados por seus donos, contribui para a proliferação de carrapatos que causam a erlichiose, doença que afeta a população canina – foto: Alberto César Araújo

A presença de animais nas ruas, abandonados ou deixados por seus donos, contribui para a proliferação de carrapatos que causam a erlichiose, doença que afeta a população canina – foto: Alberto César Araújo

O abandono e a guarda irresponsável de criadores que deixam seus animais de estimação soltos pelas ruas é notório em toda a capital amazonense, não se restringindo somente aos bairros periféricos.

De acordo com estimativa feita pelo Controle de Zoonoses (CCZ) cerca de 90 mil cães e gatos estão abandonados à própria sorte pelas ruas de Manaus. A realidade tem preocupado e gerado reação não somente pelas organizações não governamentais (ONGs), como também com pessoas sensíveis a essa situação.

Além dos maus-tratos, os bichinhos abandonados nas ruas são alvo fácil da ação de parasitas transmissores de diversas doenças. Para a secretária Maria do Socorro Monteiro, 47, um inocente passeio com o cachorro pelo bairro já causou o prejuízo de aproximadamente R$ 1.660 e pode transformar a rotina dela nos próximos seis meses.

Tudo porque o Lion, um cocker spaniel de 2 anos de idade, ficou empestado de carrapato, perdeu o movimento das patas dianteiras e foi diagnosticado com erlichiose, a “doença do carrapato”.

“Há mais ou menos 15 dias fui passear com o Lion, como sempre faço próximo de casa, na Cidade Nova. Quando voltei para casa, a orelha do Lion estava cheia de carrapatos, muito mais de 10 em cada orelha. Dedetizei minha casa e levei-o ao pronto-socorro. Conversei com veterinários e eles também estão reclamando dessa infestação de carrapatos em toda a cidade”, disse.

Sem os movimentos das patas dianteiras, o cachorro ficou dependente da tutora para se alimentar e fazer as necessidades fisiológicas.

“Ele tem consulta periódica, medicamentos, ração especial, fralda descartável, lenço de papel e temos que manter o lugar sempre limpinho e tratá-lo com muito cuidado. Temos que dar a comida na boca porque ele não se levanta, e sempre trocar a fralda. Chamei até uma pessoa para me ajudar, porque trabalho e ele não pode ficar sozinho”, disse Maria.

Dependendo da evolução, o tratamento de Lion pode se estender por 90 dias ou seis meses.

Lei questionada

Revoltada com a situação, Maria do Socorro contou que passou a observar a quantidade de animais abandonados pelas ruas, o que fez com que a secretária buscasse ajuda com o CCZ.

“Depois do que aconteceu com Lion, passei a observar que tem muitos cachorros pela rua. Eles soltam carrapatos que se espalham em todos os lugares. É um perigo para todos nós. Ouvi do CCZ que o centro está impossibilitado de recolher os animais da rua, por conta de uma lei. Manaus é a primeira cidade que ouvi dizer que o CCZ não pode tirar animais da rua. Teria que haver este controle. Se o dono não cuida, deveria ser multado. Isto não deveria ser tolerado”, disse.

O diretor do CCZ, Francisco Zardo, defende que o controle populacional é realizado pelo órgão, mas com a adoção de medidas preventivas e não da forma como foi feita na última década.

“A captura e o extermínio indiscriminado de animais errantes é considerado um método cruel, ineficaz e ultrapassado de controle populacional. Por esses motivos a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) mantém um programa permanente de controle populacional baseado na castração, registro e identificação por meio da microchipagem, fiscalização e educação em guarda responsável”, disse Zardo.

Somente em 2014, mais de 3,6 mil animais já foram castrados e microchipados no CCZ, segundo dados divulgados pelo próprio centro.

A substituição da captura e eutanásia de animais que moram nas ruas por essas iniciativas ocorre desde a publicação da lei estadual 170/13, que estabelece a regulamentação da eutanásia somente para casos justificados por laudo técnico e normas para evitar o sacrifício de animais saudáveis, bem como da portaria 1.138/14 do Ministério da Saúde, que prevê a eutanásia e o recolhimento e transporte de animais, se for indicado e relevante para a saúde pública.

Doença do carrapato

Segundo o diretor do CCZ, Francisco Zardo, para que o animal contraia a doença do carrapato é necessário que haja uma exposição maior que um simples passeio.

“Além disso, um carrapato pode se deslocar mais de 200 metros em uma noite e ultrapassa muros e cercas. O controle do carrapato deve ser realizado periodicamente, pois a região de Manaus é endêmica para este aracnídeo”, explicou o diretor.

Dessa forma, no caso do cocker spaniel que contraiu a doença do carrapato, o CCZ recomendou à criadora que busque por um veterinário a fim de iniciar um tratamento para a erlichiose que acometeu seu animal de estimação, além de receber as orientações de como preveni-la.

“Sem dúvida, os animais que se encontram nas proximidades da residência da usuária estão servindo como reservatório para os carrapatos, e seus proprietários devem ser identificados e os animais, tratados”, disse Zardo.

Ele explicou também que a infestação por carrapatos, apesar de trazer incômodos à população, não causa casos de febre maculosa (zoonose transmitida pelo carrapato estrela) em Manaus, evento esse que poderia desencadear uma ação pontual de controle do ácaro por parte da Semsa.

Por Ive Rylo

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