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sábado, 16 de novembro de 2024

Lições e consequências da vitória de Donald Trump

 Sábado, 16 de novembro de 2024






Trump volta ao cargo que deixou há quatro anos como pária após o famigerado 06/01 e com uma popularidade em frangalhos. Agora, ele triunfa de maneira inconteste ao vencer em estados como Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Geórgia, Nevada e Arizona. Ele chegou a 312 votos no Colégio Eleitoral – mais do que os 304 delegados em 2016.

Como isso foi possível? Por que os institutos de pesquisa erraram praticamente tudo outra vez? E quais as lições e consequências da vitória republicana para o mundo e o Brasil?

Desprovido dos preconceitos típicos do beautiful people – ou de quem se acha parte dele – contra o homem comum, percebo que a principal motivação dos quase 75 milhões de americanos para votar em Trump continua a mesma que o levou a vencer em 2016: o sentimento antissistema. O cidadão normal que só quer pagar as contas no fim do mês e quer dar um futuro melhor aos seus filhos odeia políticos. Isso acontece em praticamente todos os lugares do mundo, e mesmo na dita maior democracia do planeta não é diferente. Os burocratas de Washington não são os indivíduos mais amados pelo povo americano.

Não faltam razões para o desprezo. Como morrer de amores pela classe política sendo ela responsável por guerras infindáveis, declínio do poder de compra da população, impostos cada vez mais altos, imigração ilegal desenfreada e aumento do Leviatã estatal em todas as esferas possíveis? Muito se fala em globalismo e seus tentáculos no Partido Democrata, mas o plano macabro também tem fantoches nas fileiras republicanas. John McCain, Mitt Romney, Paul Ryan, Susan Collins e tutti quanti são algumas figuras que já defenderam posições opostas ao conservadorismo – ao menos o que se entende por isso nos termos americanos. Eles também são partes do problema e o eleitorado sabe disso, seja ele republicano convicto ou cidadãos sem ideologia definida.

O segundo fator que explica a vitória de Trump foi o fracasso – mais uma vez! – da agenda woke na arena eleitoral, e aqui não falo apenas do afegão médio que rejeita o identitarismo. Nessa eleição, até os tradicionais grupos que votam nos democratas tiveram uma inclinação maior para a direita: o voto de homens latinos – Trump teve 54% nessa faixa do eleitorado – foi fundamental para vitórias no Arizona e em Nevada, já o dos jovens fez total diferença em Michigan. Em ambos os estados, vitória do presidente Biden em 2020. Trump também teve bom desempenho entre os eleitores negros. Ou seja, até quem deveria apoiar a pauta progressista está dando o recado nas urnas que não a quer nem por decreto.

O terceiro é óbvio: a administração Biden foi um completo fiasco. Fala-se em pleno emprego e economia aquecida, mas a percepção da maioria dos americanos é outra. A inflação gerada pelos megalomaníacos pacotes de estímulo na pandemia fez o custo de vida e os preços aumentarem, e mesmo com o desemprego em baixa, os salários não acompanharam ambas as escaladas. O bolso sempre fala mais alto em qualquer eleição, e os democratas fizeram o favor de colocar o aborto como uma das pautas prioritárias na querela presidencial – esquecendo que uma parcela considerável da população rejeita essa prática nefasta, inclusive muitas mulheres.

Uma pequena digressão: o aborto foi instrumentalizado por segregacionistas como Margareth Sanger para diminuir a população negra nos EUA – quanto mais as mulheres negras realizam abortos, menos negros nascem e essa faixa populacional diminui. Você que é feminista, arrota aquela velha verborragia de que ‘’o aborto legal é a forma segura de mulheres pobres realizarem o que as ricas praticam clandestinamente’’ e faz isso em nome da causa, pense bem nas consequências práticas. Uma racista que está no panteão de deusas do seu movimento tido como sacrossanto defendeu a mesma coisa com intenções que jamais passaram na sua mente.

Volto ao desastre do governo Biden. Ele pegou um país que não começou guerras no mandato do seu antecessor e com uma conjuntura internacional de relativa paz. Pois bem, o mandatário democrata empreendeu a desastrosa retirada das tropas americanas do Afeganistão e viu duas guerras explodirem graças à sua postura pusilânime – as querelas na Ucrânia e no Oriente Médio envolvendo Israel e Palestina. Os neocons da National Review e think tanks democratas não acharam ruim: seriam ótimos motivos para o país repetir as patacoadas no Iraque e na Primavera Árabe. O ranger de dentes de Dick Cheney e cia não deixa de ter a sua graça, além de poupar os EUA e o mundo de novos conflitos, bilhões de dólares e vidas perdidas.

E como o Brasil entra nessa história? Bom, tenho de fazer ressalvas na pauta econômica – sou analista, não animador de torcida. O agro brasileiro não tem muito o que comemorar, pois o America First de Donald Trump significa sobretaxas aos nossos produtos. É aquela ideia de ‘’fazendas aqui, florestas lá’’ defendida pelos americanos e que os entusiastas tupiniquins da pauta ambientalista abraçam sem ter a menor ideia da sua origem.

Porém, o nosso problema mais urgente é a juristocracia que poda a liberdade de expressão. Nisso o país tem muito a ganhar. Todos conhecem os responsáveis por tal façanha nada edificante e o que eles fizeram no verão passado. Marco Rubio foi escolhido como novo secretário de Estado e Elon Musk fará parte do governo Trump. Ambos sabem o que se passa no Brasil. Quem utilizou o aparato estatal para perseguir desafetos e silenciar uma corrente legítima de pensamento – não me chamem de otário com aquele papo de ‘’liberdade de expressão não é liberdade de agressão’’ – terá de responder por isso. Seja aqui, na esfera internacional, no tribunal da História ou mesmo diante de Deus.

Existem outras coisas pendentes, mas essas me parecem mais relevantes. A vitória de Donald Trump é um alívio para os amantes da liberdade e do bom senso, bem como a derrota da burrice presunçosa e dos autoritários.

Foto de Carlos Júnior

Carlos Júnior

Jornalista


Fonte: Jornal da Cidade Online

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