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domingo, 19 de novembro de 2023

Padre suspeito de desviar R$ 140 milhões de hospital filantrópico teria forjado compra de 38 monitores na pandemia

Domingo, 19 de novembro de 2023

Padre Egídio, preso em João Pessoa (PB), suspeito de ter feito desvios milionários em instituição filantrópica — Foto: Reprodução

“Uma espécie de farra com o dinheiro público”, definiu a promotoria do Ministério Público da Paraíba, em trecho da denúncia apresentada contra o padre Egídio de Carvalho Neto, de 56 anos. O ex-presidente do Instituto São José, responsável por gerir o Hospital Padre Zé, em João Pessoa (PB), está preso, acusado de ter chefiado um esquema de desvio e lavagem de dinheiro público por pelo menos dez anos à frente da instituição filantrópica. Enquanto a unidade de saúde operava com dificuldades e acumulava cada vez mais dívidas, deixando desamparados pacientes em situação de vulnerabilidade, o líder religioso teria tocado um gabinete de corrupção que lhe garantiu uma vida de luxo e ostentação.

Nesta sexta-feira, o religioso teve a prisão preventiva mantida após audiência de custódia e seguiu para a Penitenciária Especial do Valentina de Figueiredo. As investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) elencam que o padre, durante todo este período:

  • Adquiriu 29 imóveis luxuosos, em estados como Paraíba, Pernambuco e São Paulo;
  • Investiu em projetos de reforma e arquitetônicos;
  • Quitou dívidas com dinheiro do instituto;
  • Comprou ao menos dois carros considerados de alto padrão;
  • Fez questão de mobiliar suas casas com obras de arte e relíquias religiosas que eram adquiridas em nome do hospital;
  • Esbanjava adegas com um “sem número” de bebidas alcoólicas, com média de R$ 1 mil cada;
  • Pagou a faculdade de Medicina do sobrinho em São Paulo, com mensalidades de R$ 13 mil;
  • Levava uma vida incompatível com o salário de cerca de R$ 15 mil: elevou seu rendimento mensal médio para R$ 140 mil.

Renda decuplicada

Para colocar o esquema de pé por uma década, padre Egídio teria formado uma parceria com a diretora do hospital, Jannyne Dantas Miranda e Silva, e com a tesoureira do instituto e da unidade de saúde, Amanda Duarte Silva Dantas. Elas também foram presas.

O MP afirma, com base nas investigações, que há indícios de que o trio teria praticado crimes de lavagem ou ocultação de bens e valores, peculato, falsificação de documentos públicos e privados e organização criminosa.

Com o esquema, o padre teria conseguido multiplicar em aproximadamente dez vezes seus rendimentos mensais. Entre janeiro de 2021 e setembro de 2023, as investigações apontam que ele movimentou R$ 4,5 milhões — uma renda de pelo menos R$ 140 mil por mês.

“Muitas das pessoas ouvidas durante a fase investigatória afirmaram que Egídio funcionava como verdadeiro ‘Monarca’, que não poderia ter contestada suas decisões, sob pena de severas punições. Funcionários do Hospital Padre Zé eram compelidos a acatar as ordens de Egídio, mesmo sabendo que manifestamente ilegais, para não serem prejudicados com uma demissão. O perfil de ditador também foi destacado nos depoimentos colhidos, principalmente de que tudo deveria ser do feito dele”, narra a denúncia.

Desvio de R$ 363 mil em aparelhos para tratamento de Covid-19

Um dos episódios que mais chamaram atenção dos promotores teria acontecido em 2021, em plena pandemia da Covid-19. Uma auditoria feita recentemente pela atual gestão do Hospital Padre Zé descobriu que Egídio teria autorizado a compra de 38 monitores multiparamétricos — essenciais para o tratamento de pessoas com Síndrome Respiratória Aguda Grave —, no valor de R$ 363,9 mil, com recursos adquiridos por meio de convênio com a prefeitura de João Pessoa.

Os aparelhos, que tratariam pacientes pobres com Covid-19, nunca teriam sido entregues. Em diálogo obtido pelos investigadores, a diretora Jannyne Dantas afirma, por áudio, que os monitores de fato não foram entregues e que “a nota fiscal seria fria”.


Fonte: Blog do BG

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