Sábado, 04 de novembro de 2023
Os atrozes eventos do dia 7 de outubro em Israel, fizeram mais do que indignar o mundo civilizado contra uma barbárie raramente vista desde o fim da II Guerra Mundial. Escancaram para todos os que tem “olhos para ver” que o nazismo não morreu, tem outras faces e mesmo as caras conhecidas não estão mais com receio de se exibirem. Não sou um especialista na Shoah, mas de tudo o que já li e assisti - e é muito material - não me faz crêr que que ocorreu no dia 7 tenha sido apenas uma tragédia extemporânea, algo "fora do lugar". Não foi! Foi tão engenhosa e diabolicamente engendrado como foi o Holocausto; foi, na verdade, um microcosmo do que foi o Holocausto e justamente pelo seu condensado em tempo, espaço físico e duração do morticínio, tão letal quanto. Por vezes mais em crueldade e ferocidade.
Sabíamos que com o passar dos dias, o nível das atrocidades apresentadas só subiria, mas certamente ninguém esperava ver o que as bodycam dos terroristas mostraram. Há cenas que até mesmo os nazistas invejariam. Primeiro, o contexto: a morte de 6 milhões de judeus se deu no âmbito de três guerras diferentes travadas por Hitler na Europa. Uma contra os Aliados ocidentais, onde algo próximo do civilizado volta e meia campeava aqui e ali; uma contra os russos, onde a selvageria mais insana, lastreada numa falsa concepção civilizatória da luta do ocidente contra o bolchevismo, imperava, e uma contra as minorias, com destaque mais do que especial para os judeus contra os quais a máquina nazista de moer gente demonstrou toda sua maquiavélica eficiência.
Entretanto, atente para os fatos. A “Solução Final” do problema judeu, programa de etnocídio dos nazistas, estava nos planos destes desde antes de Hitler assumir o poder, ganhou impulso com sua chegada, materializou-se na Polônia em 1939, expandiu à medida que os Panzers de Hitler derrotavam os adversários e foi sacramentada na Conferência de Wannsee, em janeiro de 1942. O “genocídio dos kibbutz” levou um ano entre o planejamento e sua execução. Os nazistas, métodicos e engenhosos, planificaram as prisões, deportações, campos de passagem, destino e extermínio. Se os nazistas pretendiam explorar mão de obra judia até a morte, o Hamas só queria vê-los mortos numa morte ultrajante antes da própria morte.
Bons árabes
Inúmeros alemães, soldados mesmo, se recusaram a participar dos esquadrões da morte, vários pediram afastamento dos campos de concentração, inúmeros “fingiram” que não ouviam um barulho no quarto de uma casa em Cracóvia, que denunciava a existência de judeus, durante as temíveis aktions nazistas. Para o genocídio dos kibbutz, não faltaram voluntários, “mártires” como os terroristas gostam de ser chamados. Os nazistas foram técnicos, desprovidos mesmo de qualquer paixão pelo destino dos judeus. O Hamas não. O Hamas estava inundado de ódio, cevado, cultivado, estimulado pela doutrinação que começa na mais tenra idade. É só ver as imagens dos pequenos corpos judeus manietados, esfaqueados, torturados, decepados, queimados...
Os judeus de 1939 podiam perceber as nuvens da guerra se adensando no horizonte e vários emigraram assim que puderam. Os nazistas tergiversavam, contornavam, mentiram sobre o destino dos judeus, no sentido de evitar tumultos. O Hamas fez questão de, do primeiro ao último minuto, incutir o terror mais absoluto. Inúmeros judeus que atravessaram o caminho dos nazistas conseguiram sobreviver; os judeus caçados em suas casas no dia 7 não tiveram a menor chance. Não havia sequer a ideia de uma guerra à vista. Os foguetes que caíam nas cidades israelenses já faziam parte do cotidiano e não anunciavam a tragédia que estava por vir. Foram pegos absolutamente indefesos nos quartos, quintais, às mesas de suas cozinhas. E foram trucidados.
Durante o Shoah, inúmeros relatos, depoimentos, documentos e mesmo fotografias chegavam ao Ocidente retratando o mais terrível inferno vivido no Leste Europeu. Foram ignorados. Desta vez tudo é diferente. Hoje, a negação do ocorrido no dia 7 se dá por meio dos cartazes com foto das crianças sequestradas, rasgados em várias cidades americanas e européias; pior, se dá com as absurdas e abjetas demonstrações de apoio ao Hamas. As pessoas podem negar os fatos mais evidentes (temos exemplos por aqui), mas o fato de negá-las não torna o fato um não-fato. O Hamas incorporou a mais pura hediondez do nazismo, aniquilou inocentes mas, ao contrário do Shoah, pagará caríssimo por isso. Os bons árabes que se levantem contra seus algozes.
José Antonio Mariano é psicanalista em São Caetano do Sul, SP; jornalista especializado em história militar e defesa, autor dos livros “Enquanto formos vivos, a Polônia não perecera - A Polônia nos campos de batalha da II Guerra Mundial” e “A segunda queda, o fim do império colonial francês na Indochina e o começo da era americana no Vietnã”.
Fonte: Jornal da Cidade Online
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