Domingo, 16 de novembro de 2025
As operações policiais realizadas recentemente pelas forças de segurança do Rio de Janeiro, sob comando direto do governador Cláudio Castro, revelaram mais do que a eficiência das polícias estaduais, escancararam a ausência deliberada do governo federal, que negou apoio operacional da Marinha e da Polícia Federal. Enquanto o Rio de Janeiro enfrentava facções armadas com capacidade quase militar, o governo Lula limitou-se a assistir. A repercussão interna e internacional foi imediata e nada positiva para Brasília. Em vez de liderança, transmitiu omissão.
O desconforto do Planalto com o tema da segurança pública materializou-se em uma reação apressada, com um pacote legislativo elaborado às pressas pelo entorno de Lula. O texto, apresentado como um avanço contra o narcoterrorismo, foi duramente criticado por especialistas de diversas instituições por, na prática, produzir efeitos inversos aos anunciados. Ao invés de endurecer o combate às facções, o projeto abriu brechas que podem beneficiar organizações criminosas, especialmente ao flexibilizar pontos sensíveis sobre tipificação e execução penal.
Com a Presidência da Câmara indicando o deputado Derrite como relator, o debate ganhou densidade. O parlamentar ouviu representantes do Judiciário, do Ministério Público, das polícias e de diferentes segmentos do Congresso. A própria Polícia Federal, ainda que discordando publicamente de premissas presentes na discussão, manifestou-se institucionalmente. Mas um silêncio chamou mais atenção do que qualquer fala, o silêncio das Forças Armadas. As instituições militares, que constitucionalmente têm papel direto no enfrentamento ao tráfico internacional de armas e no combate a organizações transnacionais, simplesmente não se manifestaram. Um apagamento tão anômalo quanto revelador.
A crise de imagem das Forças Armadas não começou agora. Desde o episódio de 8 de janeiro de 2023, quando, sob ordens judiciais e pressão política, cidadãos foram presos de forma considerada arbitrária por amplos setores da sociedade, o Exército viu seu prestígio corroído. A condução daquele episódio, conhecido como perfídia, marcou uma ruptura com a percepção histórica de moderação, equilíbrio e respeito institucional que caracterizava a Força. O resultado foi um Exército recolhido, acuado e sem protagonismo nos temas em que tradicionalmente exercia forte influência.
O cenário agrava-se quando surgem declarações atribuídas a generais do Alto Comando (pasme, feitas sob anonimato à imprensa) segundo as quais classificar o crime organizado brasileiro como terrorismo poderia “abrir portas” para eventuais intervenções ou operações de grandes potências em território nacional. A simples existência de avaliações desse tipo, independentemente de sua precisão ou intenção, revela que setores da cúpula militar passaram a se orientar mais pelo medo da repercussão externa do que pelo imperativo constitucional de proteção do país.
Enquanto isso, o tráfico internacional de armas continua avançando, as rotas transnacionais das facções permanecem ativas e a geopolítica do crime organizado se impõe com força crescente sobre o território brasileiro. O país vive hoje uma das maiores crises de segurança do mundo ocidental, com facções que operam como verdadeiros atores geopolíticos, e justamente nesse momento o governo federal distancia o Exército de qualquer papel estratégico relevante.
O resultado é um Brasil menos respeitado, menos preparado e menos capaz de dialogar de forma séria com as grandes potências sobre segurança internacional. O Exército, antes considerado uma instituição sólida, confiável e com peso diplomático, transformou-se numa sombra de si mesmo, não por falta de capacidade, mas por falta de governo. A omissão deliberada do Planalto não apenas esvaziou sua presença no debate interno, como comprometeu sua imagem externa. E, em um mundo em que a geopolítica é cada vez mais determinada por forças armadas capazes, articuladas e presentes, Lula conseguiu o improvável, tornar o Exército brasileiro irrelevante.
Henrique Alves da Rocha
Coronel da Polícia Militar do Estado de Sergipe.
Fonte: Jornal da Cidade Online


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