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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

‘Não interessa ao Brasil viver em um mundo fraturado’, diz Mauro Vieira no encerramento de reunião do G20

Sexta, 23 de fevereiro de 2024

Foto: Alexandre Cassiano

No último ato da reunião de chanceleres do G20 no Rio de Janeiro, o chanceler Mauro Vieira fez um balanço do encontro à imprensa, e afirmou que “não interessa ao Brasil viver em um mundo fraturado”, reiterando uma ideia apresentada na véspera em sua fala de abertura. Ao todo, 45 delegações, incluindo de países membros do grupo, convidados e organizações internacionais, estiveram no Rio de Janeiro, sendo que 32 representadas pelos seus chanceleres ou principais representantes.

Segundo Vieira, os países discutiram as duas principais guerras hoje no mundo, na Ucrânia e em Gaza. O chanceler afirmou que vários ministros expressaram o temor de que o conflito entre o grupo terrorista Hamas e Israel se espalhe pelo Oriente Médio, e demonstraram preocupação com o agravamento da crise humanitária no território palestino. Ao mesmo tempo em que foram feitos pedidos pela libertação dos reféns capturados pelo Hamas, houve críticas à operação militar liderada por Israel, e além de muitos pedidos por um cessar-fogo.

— Foi conferido especial destaque ao deslocamento forçado de mais de 1 milhão e 100 mil palestinos para o sul da Faixa de Gaza. Nesse contexto, houve diversos pedidos em favor da liberação imediata do acesso para ajuda humanitária na Palestina, bem como apelos pela cessação das hostilidades — afirmou o chanceler. — Muitos se posicionaram contrariamente à anunciada operação de Israel em Rafah, pedindo que o governo de Israel reconsidere e suspenda imediatamente essa decisão. Destacou-se, ademais, virtual unanimidade no apoio à solução de dois Estados como sendo a única solução possível para o conflito entre Israel e Palestina.

Na terça-feira, os EUA vetaram, pela terceira vez, uma resolução pedindo o fim das hostilidades em Gaza, mas sinalizaram que poderão apresentar um texto mais brando, prevendo uma “pausa humanitária” nas hostilidades, e se opondo a uma ofensiva contra Rafah, cidade no sul do enclave onde estão centenas de milhares de civis. Integrantes do governo israelense têm sugerido que uma operação terrestre poderia começar junto com o Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos que se inicia no dia 10 de março.

Vieira destacou que os integrantes do G20 apresentaram uma série de propostas de reforma das Nações Unidas, uma das prioridades da presidência rotativa brasileira do bloco, mas apontou que essas propostas precisam ser estudadas e, finalmente, implementadas.

Mauro Vieira reforçou que, pela primeira vez, haverá uma outra reunião de chanceleres do G20, prevista para acontecer às margens da Assembleia Geral da ONU, em Nova York — também pela primeira vez, será feito um convite a todos os países que integram as Nações Unidas para que participem do encontro. Segundo Vieira, será um “chamado conjunto” pelas reformas nos mecanismos de governança global. Por fim, ele considerou que a reunião de ministros no Rio de Janeiro foi bem sucedida.

— A presença de todos aqui é uma prova não apenas da importância do Brasil, mas também do G20 como fórum de concertação — disse Vieira.

A reunião de chanceleres, a primeira em nível ministerial da presidência rotativa do Brasil no G20, serviu para que o país detalhasse suas prioridades para o grupo neste ano: a questão climática, o combate à fome e à pobreza e a reforma das instituições multilaterais, que pautou a segunda reunião dos ministros. Na quarta-feira, quando abriu o encontro, Vieira fez um discurso duro em defesa de mudanças no funcionamento das Nações Unidas, e atacou o que vê como gastos militares excessivos, no momento em que o Brasil e o chamado Sul Global pressionam por ações mais contundentes de governos para combater a fome e preparar o planeta para as mudanças climáticas.

Entre os presentes, o chanceler russo, Sergei Lavrov, foi um dos destaques — em conversa com O GLOBO, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que a morte do oposicionista Alexei Navalny, na semana passada, foi citada algumas vezes ao longo das plenárias, mas não houve resposta do lado russo. Segundo fontes diplomáticas, a morte, ocorrida em uma prisão do Ártico, foi tratada como um “assassinato político”. Lavrov, por sua vez, acusou o Ocidente de hipocrisia ao tratar da guerra na Ucrânia, que completa dois anos no sábado.

Até a reunião de cúpula de novembro, também realizada no Rio de Janeiro, serão realizados outras reuniões em nível ministerial no G20 — na semana que vem, presidentes de Bancos Centrais e ministros da Economia e Finanças se encontrarão em São Paulo.

O Globo

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