Domingo, 20 de julho de 2025
Cabezas, que se diz "chavista desde sempre", foi ministro da Economia e Finanças do governo Hugo Chávez. E foi deputado pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), que dá sustentação à ditadura chavista. Mas, nos últimos anos, andou criticando a gestão de Nicolás Maduro, o que azedou sua relação com o PSUV e lhe valeu o rótulo de inimigo do regime: agora está nas garras do SEBIN, órgão de repressão semelhante à Gestapo, a temível polícia secreta do regime nazista chefiado por Adolf Hitler.
Tal como a Gestapo, o SEBIN se ocupa de investigar e perseguir pessoas e grupos fichados como inimigos do chavismo.
Cabezas foi detido em 12/06/25, em Maracaibo, onde reside, sem que se saiba do que está sendo acusado, onde foi parar nem se está vivo. Além dele, há milhares de pessoas submetidas a "desaparecimento forçado" na Venezuela, vítimas de uma "caça às bruxas" sem precedentes, promovida pela ditadura chavista.
Os fatos falam por si. Em 1998, quando Hugo Chaves se elegeu presidente do país, o povo venezuelano era o mais rico da América Latina – graças ao petróleo. (Pouca gente sabe que a Venezuela, em 1960, junto com Irã, Arábia Saudita, Iraque e Kuwait, fundou a OPEP, Organização dos Países Produtores de Petróleo). Só que, a partir de 1999, Chaves usou a PDVSA, espécie de PETROBRAS da Venezuela, para financiar a "revolução", botando muito dinheiro, claro, no bolso dos revolucionários: administrada por sindicalistas, a PDVSA foi totalmente sucateada. E a partir de 2017, a Venezuela virou grande importadora de petróleo.
Com incompetência e corrupção, o chavismo fez o PIB do país despencar e a economia derreter com hiperinflação; estatizou a agricultura e, em menos de 10 anos, viu a produção de alimentos cair mais de 60%; hordas de criminosos foram aproveitadas como milícias do governo; a Venezuela é hoje um narco-estado e a maior exportadora da cocaína das FARC e da Bolívia para os cartéis de drogas mexicanos e do norte da África; as forças armadas foram "compradas" pelo regime e hoje operam no tráfico de drogas; a suprema corte virou órgão auxiliar da ditadura; as eleições são fraudadas, não há garantias individuais nem liberdade de imprensa; há presos políticos, torturados e desaparecidos.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) informa que há no mundo 122 milhões de deslocados à força e que Venezuela lidera essa lista: no final de 2024, entre "refugiados" e "pessoas necessitadas de proteção internacional" eram mais de 6 milhões de venezuelanos.
Mas isso é só um flash do inferno. E Cabezas sempre esteve lá. Porém, em 2017, ficou claro o seu distanciamento do atual governo. Economista e professor universitário, é crítico da política monetária de um primitivo Nicolás Maduro. Em 2022, Cabezas apoiou publicamente o oposicionista e ex-presidente do parlamento Juan Guaidó, que, anteriormente, se havia declarado presidente interino da Venezuela com o fito de tirar do poder o ditador e herdeiro de Hugo Chaves.
Onde foi que o socialismo chegou ao poder sem instituir a violência? Não só contra a população, mas igualmente entre os próprios revolucionários!
Quem, por indiferença ou maldade, aceita a injustiça contra inimigos deveria lembrar: os maus também são maus entre si. Quem abraça o diabo termina chamuscado: não importa se foi por ingenuidade, omissão ou para levar vantagem, o risco de queimar-se é real.
Rodrigo Cabezas é ator no drama venezuelano. Abraçou o socialismo e não se importou com o terrorismo de Estado enquanto a violência atingia só os seus adversários. Agora, ele, que é cardíaco, que tem um stent no coração e precisa medicação diária para controlar a pressão arterial, está desaparecido. Ninguém sabe se sua saúde é assistida por seus algozes. Sequer se sabe se ainda está vivo.
Pode parecer piada, mas não tem graça. Embora socialista-raiz, Cabezas é hoje chamado de "fascista", palavra que, na boca dessa gente, não tem valor conceitual, servindo só para exprimir ódio, mais nada. E isso é um padrão: Trotski, um comunista-raiz fanático, por discordâncias com Stalin, foi rotulado de "fascista" e morto a golpes de picareta.
A Venezuela, que já foi um país riquíssimo, hoje agoniza na maior crise humanitária do continente. Apesar disso, no meu país, com as honrosas exceções, por ignorância, por covardia ou por ambas, a extrema imprensa se cala, a parasitária casta acadêmica argumenta em defesa da ditadura, e a autoproclamada classe artística aplaude.
Renato Sant'Ana
Advogado e psicólogo. E-mail do autor: sentinela.rs@uol.com.br
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