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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Incompatibilidade Ornitológicas

Quarta, 15  de outubro de 2014 

Artigo

Por: Paulo Afonso Linhares

O desejo confessado da candidata Marina Silva de quebrar a polarização de PT vs PSDB, já vintenária na política brasileira, com duas eleições presidenciais ganhas pelos tucanos e três pelos petistas, está diferido para outro momento que dificilmente ela própria terá oportunidade de vivenciar enquanto protagonista de eleição presidencial. Fato é que, passada a natural comoção do eleitorado pela prematura e trágica morte de Eduardo Campos, os índices de aceitação da candidata do PSDB voltaram para o nível dos votos que obtivera há quatro anos, ou seja, aproximadamente na casa dos 20 milhões. Claro, uma alentada votação, porém, insuficiente para catapultá-la ao segundo turno do pleito eleitoral para o cargo máximo da República. A peleja ficou mesmo entre petistas e tucanos, ou como uns e outros se tratam pejorativamente, mais um confronto de petralhas e tucanalhas, com os respectivos partidos aliados de variadas feições políticas e ideológicas. Digam-se, en passant, indigestas “saladas” ideológicas, de lado a lado.

Aécio ou Dilma? O que as urnas de 26 de outubro de 2014 dirão ainda é insondável mistérios, a despeito das adesões significativas que os tucanos receberam dos candidatos e partidos que sucumbiram no primeiro turno, inclusive a de Marina Silva e do seu partido-barriga-de-aluguel, o PSB. Ressalte-se que a ala mais à esquerda do PSB, capitaneada pelo cearense Roberto Átila Amaral Vieira, até então presidente interino desse partido de longa tradição no campo do socialismo democrático brasileiro, resolveu cerrar fileiras com a candidatura petista.

Contudo, o segmento peessebista mais ligado à família Arraes, nitidamente de centro para centro-direita e, portanto, bem aproximado do PSDB, resolveu apoiar a candidatura de Aécio Neves, a partir da víúva e outros familiares do falecido ex-governador Eduardo Campos, além do eleito governador de Pernambuco, Paulo Câmara, o mais bem votado do Brasil (obteve 68% dos votos válidos em seu Estado). Especula-se, a partir de então: qual teria sido a posição de Eduardo Campos ou mesmo do ícone maior da política pernambucana. Miguel Arraes? Difícil saber, embora algumas pistas existam.

Ora, vale lembrar que nos seus oito anos de governo o ex-presidente Lula carreou enormes e definitivos empreendimentos que garantiram a Pernambuco, sua terra natal, um crescimento econômico maior do que o chinês. No governo Dilma as torneiras se mantiveram abertas para Pernambuco, posto que numa “vazão” bem menor de recursos. Agora, pouco importa o que pensariam aqueles: o fato é que o PSB rachou de cima a baixo (os candidatos aos governos da Paraíba, Ricardo Coutinho, e do Amapá, Camilo Capiberibe, ambos do PSB, que disputam acirradas eleição de segundo turno, resolveram ficar com a candidatura Dilma, a exemplo de Roberto Amaral) e resta saber apenas quem ficará com o maior pedaço, se tucanos ou petistas. Será surpresa um resultado na base do meio a meio.

Interessante frisar que aquela Paloma desenhada por Pablo Picasso é o símbolo do PSB. Meio atordoada, a pombinha pessebista se divide entre tucanos e petistas. Ressalte-se que a posição de Roberto Amaral, nesse imbróglio eleitoral, não poderia ser diferente, a tirar pelo que escreveu em artigo publicado na Carta Capital de 24 de setembro de 2012: “A classe dominante (…) conhece seus objetivos e sabe escolher os adversários segundo a ‘periculosidade’ que atribui a cada um. Uns são adversários passageiros, ocasionais, outros são inimigos históricos, que cumpre o quanto antes eliminar [...]. Lula, considere-se ele intimamente de esquerda ou não, socialista ou não, é, independentemente de sua vontade, esse inimigo fundamental: de extração operária (daí, contrário senso, a boa vontade da classe média com Dilma, pois não vem do andar de baixo) está, no campo da esquerda, no campo popular e no campo das lutas sociais. Para além, portanto, das reivindicações econômicas do sindicalismo, quando chegou a encantar certos setores da burguesia que nele viam então apenas uma alternativa sindical aos cartéis do ‘peleguismo’, dóceis, e do que restava de varguismo e comunismo”.


Fonte: Carlos Skarlack

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