Carlos Santos,
Depois de dois dias de serviço, (Sábado e Domingo) volto hoje para o Terceiro e ultimo dia de Serviço no Carnaval em Apodi/RN. Enquanto todos se divertem cuidamos da segurança dos mesmos… no entanto em alguns momentos, fico a refletir sobre as situações observadas ”in loco”.
Fica o questionamento: cadê o conselho tutelar de Apodi, e demais instituições que se dizem defender os direitos da Criança e do Adolescente, que não fiscalizam ou ao menos procuram fazê-lo…?
Fiquei imaginando se o dito popular ”no carnaval tudo pode” se aplica também a infringir tais direitos…
Primeiro, em meio à multidão acompanhando um trio-elétrico no meio de pessoas seminuas, embriagadas, usando drogas, enfim o que se imaginar de atrocidades para os olhos de uma criança.
Observávamos os chamados ”arrastões” e em determinado momento, se via uma cidadã desesperada. Havia perdido seu filho de apenas seis anos, no meio dessa multidão (30 a 50 mil pessoas, se não mais). A mãe havia o perdido… chorava, gritava e dizia: “perdi meu filho”.
Podia ter evitado isso. Um detalhe: estava embriagada, não lembrava sequer a cor da roupa que o filho trajava. Sem falar em tantos outras situações que a polícia tinha que resolver.
Resolvemos, com as condições que nos foram dadas.
Mas o que chamou atenção foram os quebra-quebras generalizados que precisavam de nossa intervenção. Por incrível que pareça, nos camarotes. Pessoas que se dizem cultas, se esbofeteando, dando e levando garrafadas. Observei pouca diferença de comportamentos nas pessoas que estavam no camarotes e as que estavam no meio da multidão, próximas ao “pé do palco”…
Como já era de se esperar, por nós que fazíamos naquele momento a segurança pública do evento, sobe ao Palco a ”Mais esperada atração da noite para os foliões”. Isso era 02h55 da manhã.
A BANDA GRAFITH INICIA SEU SHOW. Não demorou mais que 15 minutos de show, para ter início a um quebra-quebra generalizado, onde se observa, cidadãos se esbofeteando, garrafas de vidro sobrevoando o evento e pousando na cabeça de cidadãos, pessoas sangrando, pessoas caídas ao chão, cidadãos correndo com facas na mão.
Depois de meia hora de intervenção conseguimos controlar os ânimos dos cidadãos que se dizem foliões. Foi muito trabalho, mas a banda voltou a tocar suas “músicas” que embalavam a multidão. Quando pensei que já havia visto as mais improváveis ocorrências naquela noite, que pudessem aparecer, chegam cidadãos aflitos, desesperados pois tinha uma grávida passando mal em meio à multidão e precisava de socorro, claro. Teve que ser levada às pressas ao pronto-socorro da cidade. Demorou muito, (trãnsito, pessoas curiosas se aglomeravam para ver o corrido, isso dificulta bastante o socorro).
No meio do corre-corre, fiquei me perguntando: “mas ela não poderia estar em casa repousando?” Ah, no Carnaval tudo pode”. Até eu mesmo, operador de segurança pública fiquei confuso, havia esquecido esse detalhe.
Bem, eram 05h00. Chegara o momento do repouso dos policiais, que já estavam ali desde as 18h00 do dia anterior quando havia iniciado o arrastão. Vamos para o ponto de apoio. Eis que no meio do trajeto observamos várias pessoas gritando, chorando, sangrando, chamavam pela polícia e ali estávamos prontos para atendê-los é claro, e o fizemos.
Quando perguntamos o que aconteceu, quase não entendemos pois “95% dos que estavam ali, pareciam zumbis humanos” de tão bêbados que estavam, mas testemunhas informaram que acabava de acontecer um arrastão, onde os praticantes foram bastante violentos desferindo inclusive coronhadas na cabeça, dos foliões, que retornavam para suas casas. As diligencias prosseguiram.
Fico a refletir, sobre essa realidade, quando hoje terça-feira (4), antes de assumir novamente o serviço, “graças a Deus, o último desse carnaval”, aproveito para continuar a Leitura de Castoriadis, “Uma Sociedade à Deriva”.
Agora sim, consigo entender realmente o que o autor quer nos repassar com esse título chamativo.
Ibraim Vilar Moisinho – Bacharel em Administração, Policial Militar – PMRN e Especialista em Segurança Pública e Cidadania.
Nota do Blog – Que depoimento pujante, meu querido Ibraim.
Reforça em mim, mais ainda, a admiração pelo trabalho que vocês realizam como estudo dessa mesma sociedade que raramente valoriza tamanho sacrifício.
Quanto ao que é relatado, nenhuma surpresa. Poderia ser sobre Macau, Rio de Janeiro, Salvador, Aracati etc.
Há muito que nossa sociedade está à deriva.
Um abraço. Bom trabalho, boa sorte. Deus proteja a todos vocês e aos foliões.
Fonte:Carlos Santos
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