domingo, 27 de novembro de 2016

Colonização portuguesa na região Oeste potiguar

Domindo, 27 de novembro de 2016

Por Marcos Pinto

* À historiadora e genealogista Conceição Medeiros

Os documentos oficiais irrefutáveis revelam que devemos um grande tributo aos portugueses, que deixaram suas famílias e seus paradisíacos lugares, trazendo consigo apenas um manancial de sonhos e projeções futuristas para, com coragem e determinação vencer em três meses a longa travessia do oceano atlântico, objetivando a ocupação do solo e fixação das bases de civilização nas inóspitas terras do sertão Oeste potiguar.

Muitas das nossas povoações ainda guardam no perfil urbanístico as linhas clássicas do tipo de povoação portuguesa. A rústica capelinha emblematiza o núcleo inicial conhecido como ”quadro da rua”, de onde esgalhariam as ruas novas, os becos e saídas que o desenvolvimento posterior viesse a exigir.

Geralmente, apossavam-se das imensas terras, antes ocupadas pela indiada expulsa forçosamente à ferro e fogo. Após fixarem o seu gado, formalizavam o pedido de concessão das famosas ”Datas de Sesmarias”, que compreendiam a doação de três léguas de comprimento por uma de largura, em requerimento dirigido ao Capitão-Mór gestor da então Capitania do Rio Grande.

Alguns portugueses já encontraram células iniciais de povoamento, com currais instalados em terras já devidamente demarcadas pelo agrimensor oficial. A maioria das demarcações das ”Datas de Sesmarias” da região Oeste potiguar foram realizadas no ano de 1740 pelo português Domingos João Campos, natural da Freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Campo, Bispado de Viseu.

Três bravos portugueses com o mesmo patronímico familiar realizaram o processo de povoamento de Mossoró e Apodi. Em Mossoró, aportou no ano de 1750 o Sargento-Mór Antonio de Souza Machado, oriundo de São Bernardo das Russas, no Ceará, e o também Sargento-Mór Sebastião Machado de Aguiar, no mesmo ano, que povoou as terras que atualmente compreendem o município de Gov. Dix-Sept Rosado, antiga povoação de São Sebastião de Mossoró.

Em 1760 o português Alexandre Pinto Machado pisava as terras do atual município de Apodi, sendo natural da freguesia de São Miguel Arcanjo de Caldas, do Bispado de Lamego, atualmente denominado de São Miguel das caldas de Vizela.

Os colonos portugueses deram início a ocupação da atual região Oeste percorrendo a margem do rio Apodi, que nasce na Serra de Luís Gomes, com extensão de 210 quilômetros, com sua foz entre as atuais cidades de Grossos e Areia Branca. É o segundo maior rio do estado.

Nessa frente de colonização o braço indígena foi usado na derrubada da mata, nas roças e na construção de primitivas Capelas.

Parte da descendência do Sargento-Mór Souza Machado estabeleceu-se nas praias cearenses, situadas entre o morro de Tibau e o município de Icapui. Entrelaçaram-se com as famílias Reis, Rebouças, Rodrigues, Freitas etc.

A expansão colonizadora redundou em novas fronteiras alterando os limites do Rio Grande com as Capitanias vizinhas. Um exemplo dessa realidade foram as novas fronteiras entre o Rio Grande com o Ceará. Houve tempo em que a região do atual município de Apodi era tida como vinculada ao ceará, tendo o Rio Jaguaribe como limite com o Rio Grande, segundo historiadores cearenses.

Depois estabeleceram o Rio Apodi como limite com o Ceará, novamente com a então capitania do Siará grande açambarcando terras da Capitania do Rio Grande.

Com o passar do tempo fixaram divisas do município de Apodi com o Ceará ladeando os municípios de Tabuleiro do Norte, Limoeiro e Alto Santo.


Foram duas as correntes de colonização da região Oeste potiguar. Uma que vinha da Paraíba, adentrando a então Capitania do Siará Grande pela região lindeira, seguindo a antiga estrada real, outrora vereda indígena, no sopé da Chapada da Borborema, percorrendo toda a região jaguaribana (Atual BR-116), contribuindo decisivamente para o processo de ocupação do solo a partir do ano de 1680.

A colonização das terras dos atuais municípios de Apodi e Portalegre contou, também, com os efetivos empenhos dos portugueses Antonio da Mota Ribeiro, Capitão João Antonio Nunes, José de Paiva Chaves, natural de Vizeu, Antonio Fernandes Pimenta (O 1º), Carlos Vidal Borromeu, Clemente Gomes de amorim.

Os portugueses Manoel dos Santos Rosa e José Pinto de Queiroz e Francisco Martins Roriz povoaram os sertões da Serra do Martins, referencial toponímico ao último português citado.

A outra corrente de colonização portuguesa deu-se via Assu, principalmente pela ostensiva presença do famoso ”Terço dos Paulistas” (1698-1720) que desembarcou na Capitania do Rio Grande a 18 de Novembro de 1698, com objetivo de combater a indiada rebelde, protagonistas da célebre ”Guerra dos Bárbaros”.

A medida que iam expulsando os indígenas de suas primitivas terras, os componentes do Terço requeriam ditas terras sob a alegativa de que com risco de vida descobrira ditas terras, recebendo , assim, a concessão de “Datas de Sesmarias”, ganhando por doação três léguas de comprimento por uma de largura.

Observe-se que só a histórica família Nogueira Ferreira”, descobridora e colonizadora inicial dos sertões do Apodi em 19 de Abril de 1680 conseguiu sete “Datas de Sesmarias”, cada uma medindo três léguas de comprido por uma de largura. Dessa corrente colonizadora aportaram em Apodi as famílias Cabral, descendente do português Matias Cabral de Macedo, radicado no Assu, e também a família Pinheiro.

Há uma forte conotação da marcante presença portuguesa no processo de ocupação do solo da atual Chapada do Apodi, contribuindo decisivamente para o seu engrandecimento econômico e social. Em estudos aprofundados, sempre encontramos o inconfundível DNA desses indômitos europeus a perlustrarem o nosso sagrado rincão Oestano.

Inté.

Marcos Pinto é escritor e advogado

Fonte: Carlos Santos

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