Domingo, 01 de novembro de 2015
Por François Silvestre

Na Coluna Plural do Novo Jornal.
Reacionários lá e lô.
“Tolere-se, a bem da concisão, uma fórmula paradoxal: a morte do morto é a vida. Só há um modo de dominar o passado, reino das coisas fenecidas: abrir nossas veias e injetar seu sangue nas veias vazias dos mortos. Isto é o que não pode fazer o reacionário: tratar o passado como um modo de vida. Esta incapacidade de manter vivo o passado é o traço mais verdadeiramente reacionário”.
Não foi nenhum marxista quem disse isso. Nem Gramsci nem Erich Fromm. Não foi nenhum anarquista. Nem Proudhon nem Bakunin. (Nas Meditações do Quixote, de Ortega y Gasset)
Nunca o mundo foi tão reacionário. De tal forma que o opaco aposenta a luz. Há um dedo sujo em cada canto apontando sujeira no monturo do outro.
E o que menos há é a capacidade intelectiva de apontar rumos. Propor a reconstrução. Prevenir antes de reprimir.
E no meio desse tempo que enoja o mundo e o faz deselegante e insosso, pululam as honestidades medíocres ou a mediocridade honesta.
O que é um honesto medíocre? É aquele que, mesmo o sendo, faz dessa honestidade um trunfo e não uma obrigação. Esse tipo não reage quando acusado. Prefere bajular o acusador para atenuar a acusação. E ainda critica quem ousa “macular” a “superioridade intocável” dos acusadores.
Quem ousaria dizer que o Promotor Demóstenes Torres, herói de capa da Veja, era reacionário ou ladrão? Um paladino da ética. Tal qual eram os próceres petistas, que só viam pureza nas próprias vísceras. Todo o resto era impuro.
A cada escândalo reprimido, um novo rombo aguarda vez na fila. Tem faltado repressão? Não. Falta prevenção.
Ocorre que a prevenção não motiva a mídia nem justifica as cavilosas remunerações. Na república dos concursos não há Quixotes, só Sanchos. Cada um governando sua ilha de vaidades.
Quem é reaça? O petismo cínico, que não faz autocrítica e ainda quer impedir a crítica. E também os que negam o petismo só pelo prazer de chutar o defunto. Reacionários lá e lô, como no dominó. Descartes disse que a razão foi a única coisa bem distribuída, pois todos acham que a possuem de sobra.
O PT prometeu acabar o balcão da cultura e criou a cultura do balcão. A mais suja política de negociatas, que apagou a estrela da esperança. E quem se opõe está muito longe de ser o restaurador da esperança mutilada.
Há liberdade formal, política e de expressão; portanto não é ao passado que devamos voltar. Foram trágicos os momentos daquele tempo; na tortura, censura e morte. Mas houve beleza de candeeiros no meio da escuridão.
Hoje, vivemos o tempo livre da desconstrução. Cada lado, mesmo no pluriqueísmo, só quer a destruição do lado oposto. Lados heterogêneos, seguidores de Maniqueu.
Ninguém propõe a reconstrução do Brasil. As vozes do construir, afônicas, pedem-se nos ninhos inexistentes da “mãe da lua”. Té mais
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