domingo, 7 de junho de 2015

Prosa do Domingo: Mais uma chance, outro desperdício.

Domingo, 07 de junho de 2015

 por François Silvestre 

Já fiz calo na língua de tanto repetir. Já enchi de monotonia os ouvidos que me emprestaram atenção. Mas volto ao ramerrão. “A eterna e monótona novidade”, de Euclides da Cunha.

Mais uma vez, de tantas vezes repetidas, a Natureza oferece a chance de uma solução simples, se não completa, pelo menos atenuadora, da escassez de água no semiárido.

Há uma infinidade de açudes médios e pequenos, públicos e particulares, antigos, cujo armazenamento d’água vem sendo, ao longo do tempo, reduzido pelo assoreamento.

Nesses últimos cinco anos, eles se oferecem ao apelo de soluções que não se consolidam por absoluta irresponsabilidade do poder público. Descaso, demagogia e desinteresse.

Se não há um programa de açudagem nem de barragens submersas, que se renove nos antigos a capacidade originária de armazenamento.

Como? Com dragagem. Solução simples. Tratores pequenos e médios resolvem.

Não só nos açudecos. Não. Em açudes grandes e médios, que estão secos ou quase secos, essa é a hora de refazer porões, dragar o assoreado, fortalecer as paredes com o material dali retirado. Dois preás num só fojo.

O açude de Riacho da Cruz armazena hoje a metade de sua capacidade de origem. O de Lucrecia menos da metade. A Barragem de Pau dos Ferros está a mostrar-se escancaradamente assoreada. O que foi porão é um prato rente à parede.

E assim acontece com o Rodeador, de Umarizal, com O Poção, de Martins, com o de Serrinha dos Pintos; com os açudes de fazendas, com barreiros e açudecos de beira de estrada, ao longo das BRs e RNs. No Seridó também.

No momento que você devolve ao açude particular a capacidade de armazenamento duplicada ou triplicada, retira mais um consumidor da Caern. E cria um fornecedor de água para vizinhos. A solidariedade é da natureza do sertanejo.

Essa história de políticos anunciarem que estão fazendo discursos cobrando soluções para a seca é a mais deslavada demagogia. Cinismo do sofisma da retórica.

Essas reuniões de órgãos oficiais a anunciarem providências, tudo regado a comida farta e bebida paga pelo contribuinte, são assembleias bizantinas a desenharem espertezas na cabeça de alfinetes.

Não são diferentes as lideranças regionais. Fossem diferentes não se venderiam para eleger os mesmos que se repetem na exata proporção da monotonia do engodo. Repetição que se consolida no exercício da hereditariedade.

O Governador Robinson Faria afirmou, no seu discurso de posse, que mobilizaria força e inteligência para prover condições de vida digna no campo. Respeitando as vocações de cada região para buscar soluções simples e urgentes.

A sugestão da dragagem de açudes, públicos e particulares, é uma das soluções simples e viáveis. Uma delas. Sem discurso matreiro ou pantomima de reformas. Té mais.

Na Coluna Plural, do Novo Jornal.

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