domingo, 17 de maio de 2015

O otimismo agoniza

Domingo, 17 de maio de 2015

Por François Silvestre

No Cândido, François-Marie Arouet, o Voltaire, cria um personagem que resume em si o otimismo ao extremo da capacidade de enfrentar atropelos.

É Pangloss. Para esse personagem singular da literatura universal a desgraça é apenas um degrau que antecede uma ventura a vir. Mesmo que o degrau seguinte seja apenas a escalada de uma escada de desgraças supervenientes.

Nada esmorece em Pangloss o otimismo, que o move e modela. E segue durante toda a vida a colecionar desventuras. Na espera constante de uma ventura inalcançável.

Não se elenque Voltaire no rol dos otimistas. Contrariamente, ele faz a sátira do otimismo.

Da mesma forma como os apressados elencam Maquiavel na relação dos defensores das artimanhas do poder. Assim como Voltaire, sem a malícia refinada do francês, Maquiavel descascou a ferida do poder absoluto, apontando-lhe a ruindade miolar.

Voltaire nutria grande admiração por Leibniz, o precoce erudito de Leipzig, daí que muita gente remodela Pangloss situando-o no mundo teórico de Leibniz.

O Leibniz aqui referido trata do jovem bacharelado em Direito ainda adolescente. Depois, já maduro, Leibniz enveredou pelos labirintos da matemática, popularmente conhecido na formulação do Cálculo Diferencial, numa parceria a distância, de tempo e espaço, com Isaac Newton.

Em Leibniz, o otimismo é uma reflexão de crença. Em Pangloss, é a essência da ingenuidade.

O poder público, no Brasil, aposta na proliferação de Pangloss. Nada mais fácil e cômodo do que governar Panglosses.

Pangloss está para a superação dos atropelos assim como o Conselheiro Acácio, da pena de Eça de Queiroz, está para o simplismo das “reflexões” filosóficas. A pompa da bobagem.

Aliás, cá pra nós, na ponte aérea Rio/São Paulo/ Natal/Mossoró multiplicam-se os Conselheiros Acácios. Basta dá uma passada nos blogs, twitters, impressos e expressos, para colher os manás que descem dos céus, excretados pelos personagens de Voltaire e Eça.

Resta torcer pra que seja um agonia passageira, posto que o desencanto emperra ou impede a edificação.

Voltando ao texto, tá difícil ser otimista. E é chatíssimo ser pessimista. Ariano Suassuna inventou uma saída: “Para evitar a chatice do pessimismo e a ingenuidade do otimismo, eu sou realista esperançoso”.

O que danado ele quis dizer eu não sei.

Fui procurar a expressão no Cândido, não achei. Nem nas “máximas” do Conselheiro Acácio. Ariano conseguiu ser original, mesmo tirando uma casquinha nos dois modelos.

Cá na Serra, longe da civilização que reside em Natal e Mossoró, no sopé do Morro do Cumbe, onde ainda resistem os croatás, procuro minha definição.

Disse Stendhal que mudava de opinião para que ela não se tornasse o seu tirano. Faço o mesmo. Agora, eu sou ateu ecumênico.

Té mais.

François Silvestre é escritor


Fonte: Carlos Santos

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