terça-feira, 9 de setembro de 2014

O país dos vendilhões

Terça, 09 de Setembro de 2014
Coluna A Tarde: 
por Samuel Celestino

O Palácio do Planalto - leia-se Dilma e seus principais assessores – está entre a cruz e a caldeirinha com o escândalo da Petrobras, ora mergulhada em lama que sacode, mais uma vez, o País para alvejar a sucessão presidencial e, com maior intensidade, a candidata do PT à reeleição. O governo tem pleno conhecimento de que a candidata centraliza o foco da delação do ex-diretor da petroleira, Paulo Roberto Costa, embora Dilma diga que “não atinge o seu governo”, numa “inocente” tentativa de não ser prejudicada.

Enquanto pensa assim, seu partido e o PSB anunciam a disposição de exigir que tenham acesso ao relato feito pelo delator, numa manobra política que empurra, mais ainda, o Palácio do Planalto para as cordas. O PT, pelo que se informa, entende que deve aguardar o fim do interrogatório. O problema, no caso, é que os documentos oficiais dificilmente serão liberados antes da eleição. Se as legendas oposicionistas conseguirem acesso, o governo ficará muito mal diante das circunstâncias, enquanto aumentarão os problemas da candidatura da presidente. Não só. A maracutaia teria iniciada no governo Lula, com Dilma na presidência do Conselho da estatal, e se estendeu até o segundo ano do mandato atual. A base de sustentação do governo no Congresso estava então inteiramente mergulhada no que ora é denominado de “mensalão 2”.

A pergunta que fica no ar é como Dilma, ministra de Minas e Energia, presidente do Conselho da petroleira, ministra Chefe da Casa Civil no governo Lula, depois presidente da República, tenha ficado aluada em relação à roubalheira que começou em 2004, e teria acabado somente em 2012. Se assim foi, se ela não sabia de nada, demonstra que não tinha competência para gerenciar o país. Enfim, como teria passado este longo período na mais absoluta “inocência” enquanto a Petrobras era saqueada por um esquema de corrupção que engolfou mais de 60 parlamentares entre deputados e senadores? Estava no mundo da lua? Não tinha sequer informações, que fatalmente vazariam a partir do Congresso e chegaria à sua presidência?

Pela delação, o PT estava centralizando a roubalheira. Mais uma vez com um secretário-geral do partido, a exemplo do acontecido no mensalão 1, neste caso João Vaccari Neto. Seria, segundo o delator, quem estava no comando para que a propina fosse distribuída a partir dos contratos com empreiteiras superfaturados. Mas o secretário garante que também não sabia nadica de nada. Outros partidos que compunham a quadrilha de assalto à estatal, dentre eles, o PMDB – aliado do PT na condução da base de sustentação e apoio ao governo – e, ainda, o PSB, que teria participado com Eduardo Campos, candidato a presidente morto no mês passado. O centro da tormenta recai principalmente sobre Dilma porque ela supostamente teria obrigação de, desde a época como presidente do Conselho, ter conhecimento do que estaria acontecendo com a Petrobras.

Depois, como presidente da República, o seu dever seria zelar, e não ficar alheia e “inocente” ao que se passava na república, principalmente na sua maior empresa estatal, símbolo do antigo nacionalismo de Vargas e do processo de crescimento econômico, na visão dos brasileiros. Está aí o que sobrou da Petrobras. Provavelmente, o maior escândalo que chega ao conhecimento do Brasil até agora. Outros poderão surgir, mas não tão emblemático como este. Os governos petistas, não há como negar, são detentores dos maiores escândalos que chegam ao conhecimento da população, transformando o de Collor numa mera miudeza.

O governo tenta sair por onde não tem porta, ou seja, dizer como a presidente o faz, que é ele que está comandando a denúncia, a partir da Polícia Federal, como se a PF fosse petista. Na verdade, o governo está no meio de fogo cruzado. Uma solução que aflora é o que já está em pauta de há muito e que fora, até, uma das reivindicações das manifestações do ano passado, nas ruas e praças de diversas capitais: a necessidade urgente de uma reforma política, porque é mesmo preciso colocar o país de ponta-cabeça para que haja uma limpeza total, a começar pela forma de governar e dos partidos que apóiam a governabilidade em troca de roubos e saques.

A reforma política é uma exigência das ruas que a cada dia ganha maior apoio da população enojada da politicalha lodenta. De resto, tudo indica que Paulo Roberto da Costa só denunciou uma parte dos vendilhões. Ele terá, para que tenha o prêmio da delação, de oferecer provas e são em relação a elas que os canalhas se estremecem, assim como o Palácio do Planalto.

Enfim a canalhada - praticamente todos os nomes citados - nega sem colocar a mão sobre a bíblia, que “são inocentes”, que não sabem de nada, e que é tudo invenção. É, pode ser.

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