
Por François Silvestre
Há dois tipos de gênios. O da ficção, cuja fricção numa lâmpada mágica o liberta da prisão e o prende à obrigação de servir incondicionalmente ao amo que o libertou. Vem da ficção literária das aventuras de Aladim.
Há o gênio da vida real. Aquela figura humana que se distingue dentre os inteligentes e ainda se põe acima dos mais inteligentes. Posto que, sua inteligência vem abastecida de um talento especialíssimo, seja na ciência ou na arte. E só aí. Fora da arte ou da ciência não há genialidade. Há inteligência, habilidade ou esperteza.
O assunto que motivou este texto vem de citação de Lao Tze, publicada pelo Poeta Jairo Lima, no Portal Infâmia, que diz assim: “Quem adora, venera, exalta e tem na conta de heróis os que se exprimem pelos pés deve estar preparado para levar um chute na bunda”.
Quando o sábio oriental disse isso, o futebol nem havia nascido. Lao Tze era um gênio.
Passou-se impunemente, sem que ninguém contestasse, a adjetivação de gênios a pessoas diferenciadas nos esportes. Pelé é um gênio, Sena é um gênio, Maradona é um gênio. Oscar é um gênio. E foram distribuindo genialidades a torto e a direito.
A genialidade existe sim, mas reside no campo das exceções e no mapa da mente. E não do físico. Tanto é assim que o gênio de verdade aprimora com o tempo a finura da genialidade. Enquanto no físico, o “gênio” tem prazo de validade. Na medida em que envelhece, a genialidade vai desaparecendo. São os “gênios” temporais.
Pelé tentou fazer música. Mas as notas musicais ficaram nos pés. Disse tanta besteira durante a vida, que Romário grafou uma frase perfeita: “Pelé calado é um poeta”.
O Brasil continua esperando pelo vaticínio de Stefan Zweig. “País do futuro”. Perdido na imaturidade cultural, é um país econômica e politicamente amador enquanto aposta todas as fichas no profissionalismo do secundário. E olhe que o esporte é fundamental. Só que até nessa área as preocupações vão apenas ao secundário.
Nunca vencemos uma Olimpíada no futebol. Por quê? Porque nas Olimpíadas o esporte tem base na atividade amadora do esporte. E é o amadorismo, no esporte, que comprova o profissionalismo social de um país. O Brasil é amador no que deveria ser profissional e profissional no que deveria ser amador.
Pra compensar supre o complexo de inferioridade profissional distribuindo títulos e adjetivos pomposos à tripa forra. Muita grana para poucos. E “gênios” de miçanga, vendidos como vendiam seda os mascates árabes nas grotas do sertão.
Certa vez, um admirador chamou Di Cavalcanti de gênio. E ele modestamente corrigiu: “Meu filho, gênio é quem toca piano aos quatro anos”.
Desde que a Ditadura acabou, nós não fazemos outra coisa senão brincar de liberdade. E nessa brincadeira vamos adiando a feitura do país. Enquanto espertos e pilantras vão edificando a genialidade do embuste.
Té mais.
François Silvestre é escritor
Fonte: Carlos Santos
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